TRIGO: Governo inicia hoje novo ciclo de apoio ao cereal
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O governo federal começa nesta quinta-feira (10/11) mais um ciclo de apoio à comercialização do trigo no país. Será a quinta safra consecutiva de subsídio à venda do cereal. Até o momento, o governo anunciou ter disponíveis R$ 150 milhões para a política, mas segundo o coordenador-geral de Cereais e Culturas Anuais do Ministério da Agricultura (Mapa), José Maria dos Anjos, mais recursos estão sendo negociados com o Ministério da Fazenda.
Valor - Somente em 2010, esse valor foi de R$ 466 milhões, para apoio a mais de 1,7 milhão de toneladas - o equivalente a 30% da safra nacional, segundo o ministério. Desde 2005, o governo já liberou mais de R$ 2 bilhões para apoiar a comercialização do trigo brasileiro. Mas, o cereal está longe de ser o produto agrícola com mais suporte público na comercialização. Nesse mesmo período, o algodão liderou a demanda por recursos públicos com mais de R$ 4,7 bilhões entre 2005 e 2011, seguido do milho, com R$ 4,4 bilhões e pelo arroz, com R$ 3,3 milhões.
Necessário - A ajuda governamental ao trigo vem se fazendo necessária ano a ano mesmo com o Brasil produzindo apenas metade (em torno de 5 milhões de toneladas) do que consome no total - cerca de 10 milhões de toneladas por ano. Isso ocorre, diz o economista da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Paulo Magno Rabelo, por causa da concorrência crônica vinda dos vizinhos do Mercosul. Juntos, Argentina, Paraguai e Uruguai vão produzir mais de 21 milhões de toneladas do cereal, segundo estimativas do mercado, quatro vezes a produção do Brasil.
Especificações - Além disso, diz ele, parte do trigo nacional tem especificações que não atendem à indústria, em parte por causa de problemas climáticos, e também por uso de variedades não-apropriadas. "Nessa safra, algumas variedades melhores foram usadas e devem contribuir para elevar a qualidade da safra nacional. Acreditamos que no futuro o governo vai conseguir reduzir esse apoio", avalia Rabelo.
Produção estimada - Nesta temporada, a 2011/12, a Conab estima que a produção do cereal no país será de 5,070 milhões de toneladas, 13,8% menor do que foi colhido na safra anterior (5,881 milhões de toneladas). O Paraná, maior produtor nacional, deve produzir 2,23 milhões de toneladas, das quais 85% foram colhidas, conforme o Departamento de Economia Rural do Paraná.
Prática - No caso paranaense, apenas 26% da produção estadual foi comercializada até agora, morosidade, segundo Nelson Costa, superintendente-adjunto da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), que se deve à prática já incorporada na indústria moageira de aguardar a realização dos leilões governamentais para adquirir o produto a valores mais atrativos.
Fluxo de caixa - Rabelo acredita que entre os motivos que justificam a preferência dos moinhos por importação do cereal está a possibilidade de melhor equalizar o fluxo de caixa. "A indústria pode pagar pela importação em um prazo maior. As compras no mercado interno são feitas praticamente com pagamento à vista, diz Rabelo. "Além disso, não podem comprar 5 milhões de toneladas de uma só vez, compram na medida em que precisam do produto", avalia.
Leilões - Os leilões para essa temporada 2011/12 começam nesta quinta, quando devem ser ofertados 300 mil toneladas do cereal. Uma série de ofertas públicas estão programadas para ocorrer até o fim de fevereiro de volumes ainda não definidos pelo Ministério. "O governo vai apoiar o que for preciso. Mas neste momento ainda não sabemos qual será essa demanda. Vai depender das cotações do cereal", diz José Maria dos Anjos.
Desafio - O desafio, diz Rabelo, será exportar o cereal, com a recuperação da safra de tradicionais exportadores, como Rússia e outras ex-repúblicas soviéticas, cuja produção será 38% maior, segundo o USDA. De janeiro a outubro, o Brasil embarcou, a maior parte com apoio governamental, 2,3 milhões de toneladas do cereal, ante os 1,1 milhão de igual intervalo do ano passado e os 384 mil toneladas de 2010, segundo dados da Secex. (Valor Econômico)