PIB III: Para economistas, cenário externo também afetou resultado
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Para alguns economistas, é preciso tomar cuidado com as comparações entre o Brasil e outros países latino-americanos. A atração de investimento estrangeiros na região demonstra isso. Do total desses recursos destinados ao Brasil em 2011, 46% foram para a indústria de transformação. No caso do Chile, o número cai para apenas 5%. No país andino, mais da metade (53,5%) das exportações - que totalizaram US$ 80,8 bilhões em 2011 - tem origem no complexo cobre.
Relativo - Para o economista Carlos Mussi, chefe do escritório brasileiro da Cepal, é necessário "relativizar" as comparações internacionais e levar em conta "o grau de complexidade das economias". Segundo ele, a situação internacional tem, sim, um efeito importante sobre o comportamento do empresário brasileiro na hora de investir. "O empresário sabe que o histórico é que os ciclos externos vão sempre bater aqui. Ele precisa acreditar que, agora, a situação interna é diferente", afirma.
Crise internacional - O economista João Saboia, professor de macroeconomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concorda que há fatores internos travando um crescimento maior da economia brasileira, mas vê também um papel importante da crise internacional nas expectativas do empresariado e nas consequentes decisões de investimentos. "Tem um lado externo que não pode ser negado, mas há também dificuldades internas que não estão sendo superadas. "
Nível baixo de investimento - Para Saboia, o nível de investimento brasileiro "está muito baixo, tanto no campo privado como no público". Para ele, o governo também precisa explicar melhor quais são os objetivos dos incentivos que estão sendo dados a alguns setores, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis. O economista acha que as ações do governo estão muito "pontuais" e concentradas no curto prazo, sem clareza quanto às intenções "mais no médio prazo".
Discordância - Saboia discorda, no entanto, em relação ao diagnóstico de esgotamento do modelo de crescimento focado no mercado interno. Acha que, mesmo vivendo um momento "amarrado", ainda é o caminho mais provável para a superação do período de baixo crescimento. Para o professor da UFRJ, a população brasileira tomou uma espécie de "porre de crédito" e se endividou além da conta, precisando de tempo para voltar às compras.
Singular - Felipe Kezen, professor de economia internacional da Universidade Mackenzie, no Rio, e de finanças na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), também não concorda com a teoria do esgotamento do mercado interno. "Essa é uma crise mundial singular. Não é de escassez, é de produção", diz.
Consequência - A consequência, segundo o professor, é que "que quem apostar totalmente no liberalismo toma uma surra da China", o país que elevou a escala de produção a níveis nunca antes alcançados, a preços baixos e cada vez com mais qualidade, e que colocou Estados Unidos e Europa na defensiva.
Estágio diferente - Nesse contexto, Kezen vê a América Latina buscando espaços em estágios muito diferentes e, por isso, difíceis de serem comparados. A maior parte dos países é exportadora de produtos primários, dos quais a China é a grande compradora, para viabilizar sua produção industrial em larga escala.
Produtos primários - No Brasil, os produtos primários estão bancando o crescimento das importações, mas sem as históricas crises cambiais a indústria perdeu sua proteção. "Uma coisa boa está fazendo mal", diz Kezen. Apesar disso, segundo ele, a economia brasileira está "crescendo por dentro" nos indicadores sociais e de renda, aspectos que o PIB não estaria conseguindo captar. (Valor Econômico)