IA generativa é "força política" e desafia legislação eleitoral de 2026, alertam palestrantes do Fórum de Educação Política

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O avanço da Inteligência Artificial (IA) não é mais apenas uma revolução tecnológica; é uma "força política" que molda a realidade e ameaça desestabilizar a democracia. O alerta foi dado por especialistas durante o Fórum de Educação Política da Ocepar, realizado nesta quinta-feira (30/10), na sede da Central Sicredi PR/SP/RJ, em Curitiba.

Em um painel com o tema “Tecnologia e democracia: novas ferramentas no cenário político eleitoral”, mediado por Umberto Dantas, professor da Fundação Instituto de Pesquisas e Econômicas (Fipe), os palestrantes apontaram os desafios críticos que o Brasil enfrentará em 2026, na primeira eleição geral sob as novas regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre o tema. 

A IA como "cocriadora" da realidade

A futurista e designer Paula Abbas iniciou o debate definindo a IA como uma "tecnologia de propósito geral", capaz de modificar estruturas sociais e causar revoluções. "Elas moldam o campo de atenção das pessoas, de onde são coletadas as informações. Ela define o que será pensado e o que será debatido na esfera política. Uma inteligência na criação de narrativas políticas. O algoritmo participa da invenção da realidade", afirmou.

Segundo Abbas, a IA já define o que será pensado e debatido na esfera pública, funcionando como uma "inteligência na criação de narrativas políticas". Ela citou exemplos internacionais recentes, como a clonagem de voz do presidente Joe Biden nas eleições dos EUA em 2024 e o uso de IA na Indonésia para criar declarações de apoio de políticos já falecidos.

O principal risco, descrito pela revista Time e destacado pela palestrante, é a "inflação narrativa": um volume tão colossal de conteúdos artificiais que o eleitor não saberá mais em quem ou no que acreditar.

"Quem dominar os dados sintéticos vai dominar a disputa política", sentenciou Abbas. Ela alertou para o perigo de "colapsar a realidade", defendendo a "urgência de uma alfabetização sensorial e cognitiva" para que o cidadão possa distinguir o real do fabricado. 

O desafio da legislação brasileira

O advogado e consultor jurídico e especialista em legislação eleitoral, Moises Pessuti,  confessou ser "ainda uma pessoa analógica" apesar de ter a política no "DNA familiar", focou sua análise no desafio legal imediato para o Brasil. Moises é filho do ex-governador Orlando Pessuti, também presente no evento.

Moises Pessuti destacou a principal lacuna da Resolução 23.732/2024 do TSE, que regulamenta o uso da IA na propaganda eleitoral. "A legislação atual veda a deepfake, que é a substituição ou alteração de conteúdo. No entanto, a IA generativa de hoje faz tudo isso melhor, criando conteúdo hiper-realista do zero", explicou.

Este conteúdo novo, por não ser tecnicamente uma alteração, pode cair na regra mais branda da transparência, apenas informando que foi feito por IA, escapando da proibição. "Se não houver uma alteração nesta lei, as próximas eleições serão uma guerra de narrativas e fake news", alertou Pessuti.

O palestrante relatou a dificuldade de remover conteúdo do ar devido a essas lacunas e propôs três medidas urgentes para 2026:

  1. A delimitação técnica precisa do que é deepfake.

  2. Mecanismos de rastreabilidade para combater o anonimato nocivo.

  3. A inversão do ônus da prova em casos de manipulação evidente. 

Responsabilidade compartilhada

Ambos os palestrantes concordaram que o combate à desinformação, definida pela Unesco como a tentativa deliberada de confundir ou manipular, é o desafio central. Pessuti concluiu que a solução exige responsabilidades compartilhadas entre a Justiça Eleitoral (TSE), que precisa de "modernização normativa" constante; os partidos e candidatos, com programas de integridade; as Big Techs, na remoção de conteúdos ilícitos; e os próprios cidadãos.

"A maturidade cívica é fundamental", disse Pessuti. "É essencial a educação midiática e digital. Precisamos capacitar a população para duvidar do que seus olhos enxergam e seus ouvidos escutam, reconhecendo que os vídeos não possuem mais credibilidade absoluta."

Fotos

Acesse o Flickr do Sistema Ocepar para conferir todas as fotos do evento: https://flic.kr/s/aHBqjCzdZB

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FOTOS: Samuel Milléo Filho / Assessoria de Comunicação Sistema Ocepar

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