TRIGO III: Produtor arrisca mais uma vez
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João Nazima é produtor de grãos, em Guaravera, e vai apostar no trigo mais uma vez. Apesar de todo o risco a que a cultura está sujeita e todos os problemas de comercialização que envolvem o setor, ele afirma que não tem muita opção. ''Deixar a terra sem cultivar não vale a pena. E cultura de inverno é de risco mesmo: ou de produção, ou de comercialização'', lamenta.
Conjuntura - Toda a área de sua propriedade, 220 hectares, já recebeu sementes do cereal. Não dividiu o espaço com o milho safrinha porque o mercado também não está atraente. ''Na atual conjuntura não está compensando plantar nada, mas tem que plantar, então optei pelo trigo'', admite Nazima. E nesta temporada, escolheu três variedades, de ciclos diferenciados, para otimizar a produção e a colheita.
Sucesso - Apesar dos problemas com a safra passada - quando perdeu quase tudo e só somou prejuízos - ele acredita que possa ter sucesso desta vez. E o clima, segundo o produtor, tem colaborado por enquanto. ''Clima ou mercado estando bom ou não temos que ser persistente. Do contrário, a gente não acerta nunca'', avisa Nazima. Nesta safra, tem expectativa de voltar ao patamar normal e colher em média 120 sacas por alqueire. No ano passado, para se ter uma ideia do prejuízo, o volume caiu para 70 sacas em média por alqueire.
Angústia - Na propriedade dos irmãos Mauro e Maurício Okimura, o ânimo está apenas em colocar a ''mão na massa'' e semear o trigo. Mas eles vivem a mesma angústia dos demais produtores do setor: falta de perspectiva no mercado e preocupação quanto ao clima. ''Mas não dá para ficar sem plantar por causa do solo. Se ficar sem nada, o mato toma conta'', diz Mauro.
Perda total - Os irmãos vêm de uma safra de trigo com perda total. ''Só sobrou uma conta bem alta. Ficamos no vermelho'', lamenta o produtor, que normalmente colhe 120 sacas por alqueire, mas no ano passado se viu sem nada. O que amenizou o problema foi o seguro de contratempo oferecido pela cooperativa Integrada, do qual faz parte. ''Este ano queremos superar nossa média de colheita. A expectativa sempre é boa, tem que ser'', confessa Mauro.
Incerteza - Ele admite, entretanto, que todo ano a produção do trigo gera incerteza. ''Tem questões climáticas, de seguro e de falta de motivação em relação às políticas públicas para o setor'', comenta. Ele acredita, por exemplo, que a nova classificação do trigo pode alavancar o setor, mas o incentivo por parte do governo em relação ao seguro terá que ser maior. Para esta safra, conta Mauro, ainda está sendo avaliado a aquisição de seguro, pois a medida pesa muito no bolso do produtor. No caso do trigo, chega a custar até seis sacas por alqueire.
Área reduzida - Bem mais desanimado, o produtor Joaquim Rocha Melquíades, do Patrimônio Selva, optou por plantar apenas 10 alqueires, dos 50 da sua propriedade. ''Não ia produzir nada, mas resolvi cobrir um pouquinho da terra'', conta, lembrando que em 2009 semeou toda a área e perdeu tudo, com o excesso de chuva e de doença, que acometeu a lavoura. Melquíades comenta que desta vez não gastou nada com insumos, não colocou nenhum adubo, apenas cobriu uma parte da terra. Os 40 outros alqueires ficaram descobertos.
Custo de produção - Melquíades diz que o custo de produção está muito elevado. Segundo ele, no caso do trigo, está entre R$ 26 e R$ 27, a saca. E tem sido comercializada por R$ 23, em média. ''Não está cobrindo os custos'', reclama. Mas confessa que não dá para desistir. Para a próxima temporada, tem mais esperanças. ''Não dá para parar, não sabemos fazer outra coisa. Para o ano que vem será outra história''. (Folha Rural / Folha de Londrina)