TRANSPORTE: Procaminhoneiro será prorrogado

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Lançado em agosto de 2009 como parte do Programa de Sustentação do Investimento, o Procaminhoneiro terá sua vigência prorrogada até o fim de 2012. Voltado para estimular a renovação de frota de caminhoneiros autônomos e microempresários e criado no auge da crise internacional, com juros camaradas do BNDES, o programa não atingiu os objetivos propostos em razão da informalidade de grande parte do público alvo, que não conseguiu preencher os requisitos mínimos para crédito exigidos pelo BNDES. Ainda não anunciada oficialmente pelo governo federal, a prorrogação deve agradar entidades patronais e sindicatos. A decisão seguirá a linha adotada pelo governo no caso do financiamento de máquinas agrícolas, programa igualmente incluído no PSI, que tinha previsão de término no fim deste ano e que será mantido até 2012.

 

Condições de financiamento - Para as entidades patronais, a questão que mais incomoda são as atuais condições de financiamento. Quando de seu lançamento, o Procaminhoneiro oferecia taxa anual de juros de 4,5% e era possível financiar 100% do bem, com carência de seis meses e prazo de até 96 meses, envolvendo caminhões novos, usados com até 15 anos e implementos rodoviários - reboques, semirreboques cavalos-mecânicos e carrocerias sobre chassis. Previsto para encerrar em dezembro de 2010, foi estendido para junho deste ano, com taxa de 5,5%, e, novamente, prorrogado até o final deste ano, com taxa de 7% e valor financiado reduzido para 90% do bem.

 

Aumento significativo - Para o presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Clésio Andrade, houve um "aumento significativo" desde o momento inicial. "Apesar de a taxa registrada dos juros ainda ser inferior à taxa de financiamento de mercado, ela onera os que querem utilizar esse programa e, desta forma, diminui o incentivo à substituição de caminhões", diz. Para ele, a redução do montante passível de financiamento é outro fator que dificulta o investimento, principalmente para os caminhões autônomos, já que requer aporte mínimo de 10% do valor do caminhão no ato da compra.

 

Bem de capital - O diretor do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região, André Ferreira, também desaprova as condições de financiamento. "O incentivo para a compra de caminhões não é o mesmo dado às indústrias, quando compram equipamentos. Caminhão não é bem de consumo, mas bem de capital. Quem busca um caminhão não tem acesso ao mercado externo para a captação de recursos, como as indústrias", argumenta.

 

Discordância - O BNDES discorda das críticas do setor. Segundo Paulo Sodré, do departamento de financiamento de máquinas e equipamentos, o programa vem sendo "um grande sucesso". Só não foi maior, diz, em razão da falta de bancarização dos autônomos. Ele admite uma "certa burocracia", mas considera que mesmo a taxa de 7% é atraente comparada à praticada no mercado.

 

Momento de pico - De acordo com dados do BNDES, o momento de "pico" do Procaminhoneiro aconteceu em 2010, quando foram aprovados R$ 6,5 bilhões em financiamentos, em operações de valor médio na faixa de R$ 130 mil. Normalmente, o tomador do crédito oferece o seu veículo usado e financia também um reboque, carroceria ou cavalo-mecânico. Em 2011, reconhece Sodré, houve um recuo nas operações, mas ele não atribui à alta de juros do primeiro semestre, mas a uma antecipação de investimentos.

 

Rodovias - Colocar caminhões novinhos em folha em estradas esburacadas ainda é a realidade para esses profissionais. Principais responsáveis pelo escoamento da produção brasileira, com mais de 60% do transporte de cargas, as rodovias do país melhoraram um pouco nos últimos anos. A 14ª edição da pesquisa sobre as condições das rodovias realizada pela Confederação Nacional do Transporte e pelo Sest Senat (entidades do serviço social e do sistema de aprendizagem do setor de transporte) mostra que subiu de 31%, em 2009, para 41,2% o total de estradas ótimas ou boas, com redução de 45% para 33,4% a proporção de "razoáveis". As péssimas e ruins também aumentaram, de 24% para 25,1%. A pesquisa avaliou a conservação, sinalização e geometria de 90,9 mil quilômetros de estradas.

 

Ressalvas - Reflexo do maior volume de investimentos no setor, a melhoria das rodovias é bem recebida, mas com ressalvas. "As rodovias ainda devem ser aprimoradas para que se tenha um padrão compatível com as necessidades logísticas das atividades industrial, agrícola e de todo o conjunto da sociedade", diz Clésio Andrade. "Estradas bem pavimentadas e bem sinalizadas aumentam a produtividade dos veículos e reduzem a duração das viagens e o número de acidentes, fatores que impactam nos custos do transporte e no preço final dos produtos."

 

Capacidade de absorção - Ao mesmo tempo em que melhoram, as rodovias começam a representar um grande problema em pelo menos um aspecto: a capacidade de absorver o volume de tráfego. Todos os estudos de trânsito indicam saturação de várias rodovias ou trechos rodoviários, diz Jaime Waisman, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Segundo ele, pelo menos dois importantes corredores rodoviários de São Paulo, os sistemas Anchieta-Imigrantes e Anhanguera-Bandeirantes devem apresentar saturação e grandes congestionamentos nos próximos anos, como ocorre com trechos da via Dutra - em especial nas proximidades de São Paulo e Rio de Janeiro. (Valor Econômico)

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