OPINIÃO: Sempre há um caminho
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{gallery}noticias/2011/Setembro/21/2011921152923/{/gallery}*Irineo da Costa Rodrigues
Se pensarmos de forma global e nos desafios que a agricultura precisa superar para gerar alimentos e evitar o flagelo da fome quando a população cresce acima do aumento da produção de alimentos, não seria difícil acreditar que haveria conflitos para satisfazer as necessidades alimentares em determinadas regiões ou países.
Segundo dados da FAO, em 2050 a população mundial será de mais de 9 bilhões de pessoas e as terras disponíveis por habitante estarão cada vez mais escassas. Segundo a mesma estimativa, se em 2010 a área per capita usada para produção de alimentos foi de 0,46 ha, em 2050 será de apenas 0,35 ha, considerando-se o aumento de área total e também o aumento de produtividade dos cultivos.Contudo, para agravar a situação, as áreas ainda disponíveis para produzir alimentos são marginais, ou seja, não têm a mesma fertilidade e potencial climático para suprir a demanda, sem considerar que novas pragas, doenças e adversidades climáticas estarão cada vez mais desafiando a criatividade dos pesquisadores para se reduzir as frustrações de safras, que em determinados anos, como agora em 2011, reduziram assustadoramente os estoques de alimentos, refletindo no aumento dos preços das commodities agrícolas, tornando os alimentos mais caros aos consumidores.
Felizmente, a ciência genética e as novas técnicas de manejo, insumos e máquinas têm evoluído de forma sistemática, possibilitando ganhos crescentes de produtividade, o que compensa a necessidade de agregação de novas fronteiras e, assim, precisamos cada vez menos área para alimentar uma pessoa. Pelos métodos antigos, já teríamos que ter derrubado muitas florestas para atender à demanda atual, o que traria reflexos negativos no clima que, certamente, comprometeriam a produtividade.Considerando-se os dados estatísticos de produção e área plantada com grãos e fibras no Brasil no período de 1976 a 2011, publicados pela Conab em seu site, se o Brasil tivesse mantido a mesma produtividade de 1976, necessitaria em 2011 ter agregado mais 76 milhões de hectares (ha) além dos 48 milhões plantados hoje, para produzir as mesmas 160 milhões de toneladas de alimentos estimadas para 2011. Foram 76 milhões de ha de florestas poupadas pela agregação de diversas tecnologias na agricultura, que fizeram a produtividade média brasileira saltar de 1.250 kg/ha em 1976 para 3.222 kg/ha em 2010/11, considerando a média de todos os cultivos. Por isso, a agricultura sem o uso de tecnologias e insumos modernos só teria viabilidade para atender nichos de mercado com alto poder aquisitivo, deixando grande parte da população com restrição a alimentos mínimos e necessários para a sobrevivência humana, pois o custo dos alimentos seria impraticável.
Mas, na última década, a ciência abriu as portas para uma nova geração de tecnologias, principalmente com o avanço da biotecnologia, através da qual está sendo possível acelerar o desenvolvimento de novas cultivares mais produtivas. Com estes novos métodos, é possível utilizar genes de interesse, oriundos de espécies diferentes, obtendo-se plantas muito mais eficientes e com características as mais diversas, como a resistência a herbicidas que proporcionam um controle das ervas daninhas muito mais eficiente e econômico, a tolerância a alguns tipos de pragas e doenças que, além de proteger a planta de forma natural, promovem a redução significativa do uso de alternativas químicas de combate, a tolerância a diversos tipos de estresse abiótico, entre os quais a tolerância à seca que tem sido a característica mais esperada pelos agricultores.Há também outros tipos de tecnologias que estão já em fases avançadas, propiciando plantas com maiores capacidades de aproveitar os nutrientes do solo, produzir alimentos com teores nutricionais diferenciados e até mesmo alimentos nutracêuticos e fármacos que, se não atuam no aumento de produtividade, gerarão matéria-prima natural para alimentos e medicamentos benéficos para a população.
Portanto, a tecnologia moderna que está em curso não só proporciona redução de custos, mas melhora sensivelmente o ambiente e preserva o meio ambiente, aumentando a produção de alimentos, sem a necessidade de derrubar árvores, destruir florestas para produzir em novas áreas marginais, o que demonstra que sempre há um caminho.Pena que nosso país, que tem uma enorme oportunidade pela frente, não tenha tido nos últimos anos uma visão estratégica para definir uma política pragmática, clara, contemplando infraestrutura necessária, a integração da agricultura com os meios de produção de forma ordenada e pacífica com a aprovação do novo Código Florestal, a redução da carga tributária sobre a produção de alimentos e um câmbio adequado, que não sufoque a competitividade nas exportações, já que a vocação do Brasil é a de ser um ator importante na alimentação mundial.
O mundo vê e coloca no Brasil a grande expectativa de que venha a suprir a crescente demanda por alimentos. Saberemos usar nosso potencial e vocação?*Engenheiro agrônomo e diretor presidente das Cooperativas Lar e Coodetec