INTERNACIONAL: China, EUA e UE rejeitam negociar regras sobre câmbio e comércio
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O Brasil quebrou nesta segunda-feira (24/10) mais um tabu na Organização Mundial do Comércio (OMC), levando os países a aprofundar a discussão envolvendo desalinhamento cambial sobre o comércio internacional, algo até recentemente impensável. Como previsto, Estados Unidos, China, União Europeia, Japão e Suíça deixaram claro que aceitam discutir, aprovaram seminário para aprofundar a questão, mas não querem negociar regras sobre câmbio e comércio. Nem o Brasil declarou que quer negociar regras, como por exemplo o antidumping cambial mencionado por Brasília, pela qual um país afetado pelo câmbio desvalorizado do parceiro poderia adotar sobretaxa para compensar essa situação
Estratégia - A estratégia brasileira é gradual. Já foi um sucesso aprovar a realização de um grande seminário internacional, que poderá ocorrer no Rio, pelas sugestões animadas que surgiram no debate. É com seminário e aprofundamento da discussão que se chegará no futuro a uma questão óbvia: e agora, o que fazer? Se os países considerarem que a OMC tem instrumentos suficientes para atuar contra desalinhamentos cambiais que afetam o comércio, elas devem ser efetivamente acionadas. Se não, é o caso de ver o que fazer.
Relutância natural - “A relutância dos países de, desde já, falar em novas regras é natural, porque a própria literatura econômica sobre câmbio e comércio ainda é incipiente”, afirmou o embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo. “Não poderíamos esperar resultado melhor que esse, para o estágio atual das conversações”, acrescentou, referindo-se à aprovação unânime do seminário.
Inédito - O debate realizado nesta segunda na OMC foi com base em algo também inédito: um levantamento do secretariado da entidade. O documento aborda estudos já feitos sobre dois pontos. Primeiro, como o comércio é afetado pela volatilidade cambial. E segundo, o desalinhamento cambial e seu impacto nas trocas.
Resultado ambíguo - No primeiro caso, os resultados são ambíguos. Em relação ao desalinhamento, não existe muitos estudos, mas o documento deixa claro que há problema sério, no qual países pequenos e empresas menores são mais afetados. Na discussão, os países concordaram que a OMC não tem que se preocupar com as causas do desalinhamento cambial nem com as opções políticas dos membros na definição de sua política cambial, estimando que isso é tema para o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Uso da taxa de câmbio - O que cabe discutir na OMC é como se usa a taxa de câmbio. Uma vez que há os desalinhamentos, resta saber qual o impacto sobre o comércio. Sobre isso, vários países acham que a questão precisa ser examinada.
Mais tarde - Os principais parceiros insistiram de novo, porém, que não gostam da ideia de negociar regras mais tarde. Para o Japão, o problema de desalinhamento cambial deve ser corrigido pelo próprio país em primeiro lugar, e não acionado pela OMC. Para a Suíça, o importante é “conscientizar” os países emissores de moeda de reserva internacional, como EUA e os da zona do euro, sobre o impacto de suas políticas cambiais sobre o resto do mundo. Os EUA não perderam a oportunidade para ir em outra direção: acham que os países deveriam liberalizar o setor financeiro, de forma que suas companhias possam melhor dispor de instrumentos de hedge para compensar volatilidade cambial, fazendo contratos com bancos estrangeiros.
China - A China fez clara divisão sobre o trabalho da OMC e do FMI. Considera que não se pode resolver problemas de taxa de câmbio com medidas comerciais. Exemplificou com um projeto de lei no Congresso americano, pelo qual alguns deputados defendem punição para importações originárias de países com câmbio desvalorizado. Para Pequim, trata-se de violação das regras da OMC. Todos os outros consideraram que no primeiro momento o tema deve ser estudado para depois se decidir o que fazer, diante de sua complexidade. (Valor Econômico)