INSUMOS II: Custos altos da pesquisa inibem atuação mais forte

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Estimativas da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda) apontam que para cada 1 milhão de toneladas de fertilizantes à base de fosfato ou potássio, são necessários investimentos de US$ 1,6 bilhão, com prazo de maturação de quatro anos, no caso do fosfato, e de cinco a sete anos para o potássio. Para a produção de uma tonelada de amônia (principal nitrogenado, obtido a partir da combinação do nitrogênio do ar e do hidrogênio do gás natural), é necessário US$ 1,4 bilhão e prazo de três anos. 

Pesquisa mineral - "O desafio é a pesquisa mineral e uma das dificuldades é o fato de que apenas 25% do território brasileiro é mapeado geologicamente, o que inibe o investimento em pesquisa. O mundo investe US$ 11 bilhões em pesquisa mineral. O Brasil representa 3% desse montante, enquanto países como Peru e Chile investem o dobro", lamenta Marcelo Ribeiro Tunes, diretor de assuntos minerais do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). 

Desistência - Esse quadro levou a Bunge a desistir da exploração mineral vendendo as participações na Fosfértil e todos os ativos de mineração de fosfato, incluindo minas em Araxá (MG) e Cajati (SP) e direitos de exploração em outras jazidas, por US$ 3,8 bilhões, para a Vale, no início de 2010. Na transação, dada a escassez de matéria-prima, a empresa fechou acordo de garantia de fornecimento. 

Agronegócio - Segundo Adalgiso Telles, diretor de assuntos corporativos e sustentabilidade da Bunge Brasil, mesmo quando detinha as minas de fosfato a empresa precisava recorrer às importações. Telles diz que a Bunge decidiu focar no agronegócio. O processo de exploração mineral é muito mais complexo, e começa com a obtenção de uma licença para pesquisa no Departamento Nacional de Produção Mineral. Apenas no período de prospecção leva-se de 18 meses a três anos.

Custo - "Cada perfuração é feita a um custo de US$ 1 milhão e somente após um conjunto de perfurações é que se avalia se a área tem viabilidade econômica", diz Telles. Depois disso são necessários pelo menos três anos para se obter o Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (EIA-RIMA) e mais dois a três anos para se construir o empreendimento. "Decidimos deixar esta atividade para grandes empresas especializadas em mineração e nos concentrarmos na produção de misturas e na distribuição de fertilizantes", justifica.

Concentração - Esse cenário faz com que o setor de fertilizantes seja bastante concentrado na maior parte dos elos da cadeia. Na exploração de minério e gás natural atuam apenas a Vale, a Petrobras, a Galvani e a Copebrás. A produção de nitrogenados como ureia e amônia está a cargo apenas da Vale e da Petrobrás. Nos fosfatados, há uma variedade maior de players, embora com algum nível de concentração em produtos como MAP/DAP, limitados à produção da Copebrás e Vale; e TSP (superfosfato triplo), produzido pela Copebrás, Timac, Vale e Yara. Apenas no segmento dos misturadores há uma participação diversificada de empresas e são justamente as que ficam a mercê dos produtos importados. 

Heringer - Este é o caso da Heringer, maior distribuidora de fertilizantes em 2010, com entregas de 4,5 milhões de toneladas. Segundo Wilson Rio Mardonado, diretor de relações com investidores, a empresa é bem atendida no mercado nacional pela Vale, Petrobras, Copebrás e Galvani, mas também no mercado internacional por meio de estratégias de global sourcing. "A maior disponibilidade de produtos nacionais traria vantagens do ponto de vista logístico, uma vez que os preços são equivalentes. Há empresas no Brasil que entregam em 15 dias, enquanto na importação os prazos chegam a 45 dias", diz Mardonado. (Valor Econômico)

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