CRISE NO CAMPO II: Pacote não resolve sem novo câmbio, diz Rodrigues
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O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, condicionou o sucesso do pacote de medidas a ser anunciado pelo governo para o setor na quinta-feira e o conseqüente abrandamento da crise agrícola à efetivação de uma reforma cambial. Em Londres, onde foi recebido em almoço pela Câmara Brasileira de Comércio no Reino Unido, participou de reuniões com representantes de café, carne e grãos e discutiu biocombustíveis com o titular britânico da ciência, Rodrigues definiu o atual momento como "fundo do poço" e acrescentou que, sozinho, o pacote não resolverá a situação. "Tenho certeza de que, com as ações que estamos desenvolvendo, e sobretudo se houver de fato uma ação concreta na área cambial, estamos desenhando o fim da crise", disse.
"Creio que o pacote vai minimizar muitos problemas, mas não vai resolver todos os problemas, é impossível fazê-lo. Com a questão cambial avançando positivamente, aí o resto estará resolvido".
No fundo do poço - Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o governo está "preocupado" com a valorização cambial e que medidas para flexibilizar a legislação do setor serão anunciadas em breve. Rodrigues observou que os agricultores do país tiveram anos sucessivos de complicações por causa do câmbio. "Em 2004, plantamos a safra a um câmbio de R$ 3,20, ou seja, os insumos foram comprados nessa cotação, e vendemos a safra a um câmbio de R$ 2,50, R$ 2,60, com o qual plantamos a safra de 2005 -que estamos colhendo a R$ 2,10. Some-se a isso safra cadente por causa da seca, questão de logística, e mais febre aftosa, gripe aviária. É um conjunto de fatores que se formaram quase que de forma inédita para produzir uma crise com essa extensão. Reconheço que estamos no fundo do poço".
Missão cumprida - O ministro reiterou que deixará o cargo ao final do mandato de Lula, independentemente do resultado das eleições. "Considero minha missão cumprida nesses três anos e pouco. Adicionalmente, o presidente Lula, se reeleito, como tudo indica, terá de compor um novo gabinete. Não cabe mais a mim participar nele". Questionado se não sairá um pouco frustrado e se gostaria de ter feito mais, respondeu: "Isso sim, nunca neguei isso, achava que em seis meses seria o melhor ministro da Agricultura da história do Brasil. Mas não é assim. A inter-relação com outros setores e as demandas sociais imensas que o Brasil apresenta, e que esse governo vem atendendo muito mais consistentemente, acabaram inibindo os resultados que eu pretendia". No almoço da Câmara Brasileira de Comércio, Rodrigues rejeitou as denúncias, corrente entre ONGs britânicas, de que plantadores de soja têm desmatado a floresta amazônica. Na porta de entrada do hotel onde foi realizado o almoço, militantes do Greenpeace protestaram contra a multinacional de grãos Cargill, apontada pela ONG como uma das maiores responsáveis pelo desmatamento na Amazônia, por fomentar a produção de soja para exportação. A Cargill nega.
O dinheiro chegou tarde – Em entrevista publicada na Folha de São Paulo de hoje (24/05), o ministro disse que a dificuldade em obter recursos em quantidade adequada e no momento certo agravou o problema da comercialização. “O ministério vem insistindo com o governo sobre a necessidade de recursos. Em fevereiro de 2005, a Agricultura solicitou R$ 1 bilhão para a Fazenda. Se tivéssemos colocado aquele recurso para apoiar a comercialização em fevereiro e em março, teríamos dado um sinal para impedir o desastre no nível dos preços”. Mas o governo liberou apenas R$ 400 milhões em julho de 2005 e R$ 300 milhões no final de novembro, “quando a comercialização da safra já tinha praticamente passado. Todos os grandes fatores causais da crise agrícola estão fora do ministério”, frisou o ministro.
Responsabilidade na crise – Indagado se teve culpa na crise da agricultura, respondeu: “Se tive culpa nesse processo foi por não ter sido suficientemente convincente, dentro do governo, com as áreas que desejava ter modificado. Não deixei de lutar um minuto. Talvez, se culpa tenho, é por não ter sido capaz de transmitir a importância de priorizar a agricultura no rol das atividades do governo”.