COOPERATIVISMO II: Projeto da Coopavel completa 4 anos com 2,5 mil nascentes recuperadas

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As fontes naturais de água ganharam valor especial durante a expansão da atividade rural no Paraná. Quando os sítios começaram a ser recortados, no início do século passado, uma das principais preocupações era garantir pelo menos uma fonte para cada pedaço de terra. Em volta dela é que seria construída a moradia do produtor e os criadouros de animais. Mas esse quadro mudaria bastante em pouco tempo. Com a mecanização das lavouras, muitas fontes secaram e outras ficaram mais fracas. O uso contínuo de fertilizantes e defensivos instalou dúvida sobre se a água desses vertedouros, mesmo clara e fresca, continuava sendo potável. Poços artesianos se tornaram cada vez mais comuns pela distância da rede de água tratada. No entanto, a preferência por água da fonte prevalece. É o que mostra uma iniciativa da cooperativa Coopavel, com sede em Cascavel (Oeste), que já recuperou 2,5 mil nascentes.

 

Aprendizado - O programa Água Viva ensina, desde 2004, produtores rurais a restaurar vertedouros cobertos pelo mato e pela erosão. "São fontes que iriam desaparecer, deixando até as pessoas que moram no sítio sem água", afirma o coordenador do projeto, Antonio Augusto Putini. Sem prazo para terminar, ganhou o prêmio Cooperativa do Ano 2008, da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), na categoria Meio Ambiente.

Logo depois da limpeza e da arborização da área, a natureza responde. O volume de água das nascentes normalmente aumenta. Em épocas de pouca chuva, fontes que estariam secas voltam a mostrar fôlego extra. Tudo a partir de tarefas consideradas simples, que qualquer pessoa pode aprender em poucas horas.

 

Como é feito - São adotadas basicamente quatro medidas para recuperação das fontes. Primeiro os produtores limpam a saída da água, tirando galhos, lixo e capinando o mato. Depois juntam pedras e constroem um pequeno muro em volta do olho da vertente, usando barro e cimento no reboco. A mureta, conhecida como taipa, deve ser atravessada por um ou dois canos de plástico (com ou sem torneiras), que vão dar vazão à água. Na terceira tarefa, enche-se o compartimento formado pela mureta com pedras da própria região e cobre-se o local com uma lona plástica e terra (por cima da lona). Na cobertura também instala-se um cano com tampa, por onde pode ser jogada água sanitária numa futura operação de limpeza do reservatório. Por último, planta-se grama e flores em volta da fonte. Os produtores deixam crescer árvores num raio de 50 metros e registram a área em reserva legal. Na prática, transformam fios de água que saem do meio da lavoura ou de um canto da propriedade num reservatório envolto de grama e plantas nativas.

 

Outros estados - Os agentes que trabalham na iniciativa já foram chamados aos estados de Alagoas e Tocantins e ao Paraguai para ensinar a técnica. São gastos cerca de R$ 500 para recuperar cada fonte. A Coopavel mantém um veículo reservado ao Água Viva e doa o material (um saco de cimento por nascente e canos) aos agricultores. Metade dos custos são bancados pela Syngenta, conta Putini. Além disso, a cooperativa repassa as instruções aos produtores rurais. Quando uma fonte vai ser recuperada numa comunidade, organiza-se um mutirão para que os vizinhos ajudem e, ao mesmo tempo, aprendam a técnica.

Conservação de nascentes gera economia e traz renda - A recuperação das nascentes pela cooperativa ganha sentido não só pelo lado ecológico do programa Água Viva. Os produtores têm vantagens que vão da valorização da terra à sustentabilidade da atividade rural. Casos de mortandade de frangos são comuns em regiões sem boa água, segundo a Coopavel. Fontes poluídas e fracas atrasam também o desenvolvimento do gado. O agropecuarista João Nazari, de Cascavel, conta que o volume de água da fonte que recuperou em sua propriedade aumentou três vezes. "Era uma pequena nascente, com um estábulo perto,que tinha virado um brejo", lembra. Ele relata que a matéria orgânica da criação bovina estava fazendo o vertedouro desaparecer. Agora, o gado é diretamente beneficiado com a água limpa e com qualidade, que pode ser consumida pelos animais e pelo homem.

 

Piloto - Lançado em 2004, o Água Viva surgiu há dez anos como uma experiência orientada pelo Instituto Emater. Uma série de nascentes foi recuperada na localidade de Cruzeirinho, em Matelândia, também Oeste. O produtor Pedro Josino Diesel, que mora na região, se tornou instrutor do projeto. Ele diz que a idéia sempre foi difundir ao máximo a técnica e fazer com que os agricultores se tornem multiplicadores. Diesel tem ajudado a recuperar uma média de 40 nascentes ao ano na última década. São mais de 400 sítios que tiveram as condições de moradia e a produção melhoradas. Mesmo com tantas vantagens econômicas, quando o trabalho chega ao fim, o produtor se obriga a fazer uma reverência à natureza. Para beber água da fonte, é preciso ficar de joelhos, muitas vezes sobre pedras. (Gazeta do Povo/Caminhos do Campo)

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