CÂMBIO II: Com disparada do dólar, BC muda política de intervenção

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A forte subida do dólar nos últimos dias obrigou o Banco Central a ajustar a política cambial. O freio de arrumação veio nesta quarta-feira (21/09), com o anúncio de que não haverá rolagem do próximo vencimento de contratos de swap cambial reverso, em outubro. A liquidação desses contratos deixará quase US$ 2 bilhões no mercado. Assim, o BC, pelo menos por enquanto, retira-se como comprador não só do mercado à vista de dólar, mas também do mercado de derivativos cambiais.

 

Continuidade - Na avaliação de importantes fontes governamentais, mesmo sendo um movimento transitório, uma parte da desvalorização do real frente ao dólar - que nesta quarta chegou à cotação de R$ 1,865 - deverá permanecer, mudando a taxa de câmbio de patamar. Não se espera, portanto, o retorno ao padrão anterior (com a cotação na casa dos R$ 1,55). "O câmbio deve se acomodar em níveis menos valorizados do que antes do estresse internacional", disse um integrante do alto escalão da área econômica. "Deve ficar em torno de R$ 1,70, um pouco mais um pouco menos", previu.

 

Mudança de postura - A mudança de postura do BC no mercado à vista vinha se desenhando desde o início de setembro, com a queda do volume comprado nas intervenções. Até dia 16, foram apenas US$ 327 milhões, quantia inexpressiva diante da média mensal de US$ 5,94 bilhões dos primeiros oito meses do ano. Esta semana, o processo de acumulação de reservas cambiais foi interrompido de vez. Embora não anunciada, a interrupção ficou evidente pela ausência de leilões de compra de dólar. Na semana passada, ainda houve dois.

 

Contratos - Os contratos de swap cambial reverso a serem liquidados em outubro somam US$ 1,98 bilhão. Fazer a rolagem, seria o mesmo que demandar dólar no mercado futuro, pressionando a moeda. Isso porque, nesse tipo de operação, o BC assume posição comprada na moeda estrangeira, ganhando com a desvalorização do real. O mercado fica vendido.

 

Disparada - A disparada do dólar nesta quarta está relacionada com a preocupação de muitos agentes econômicos em desmontar posições vendidas em dólar. Nessas condições, um leilão de swap reverso em outubro careceria de demanda. O BC não informou o que fará nos vencimentos seguintes. Em novembro e dezembro, vencerão, respectivamente, US$ 910 milhões e US$ 150 milhões em contratos de swap cambial reverso, cujo estoque é de US$ 8,345 bilhões. Tudo dependerá "das condições de mercado, em particular do mercado futuro de câmbio", informou o BC.

 

Novo patamar - Na visão de um especialista do governo, os agentes econômicos estão preocupados em reduzir exposição vendida justamente por causa da percepção de que o dólar se acomodará num novo e mais alto patamar. Ainda considerada um refúgio seguro para investimentos, a moeda americana voltou a se valorizar em consequência da maior aversão a riscos provocada pelo cenário global de desaceleração econômica e de incertezas sobre a solvência de dívidas soberanas na zona do Euro.

 

Sobra - O dólar subiu apesar da sobra no mercado primário de câmbio (operações entre bancos e clientes). Nos primeiros 16 dias de setembro, a oferta da moeda superou a demanda em US$ 8,51 bilhões, segundo o BC, graças principalmente aos contratos vinculados ao comércio exterior. A taxa de câmbio, porém, não foi afetada por esse movimento, porque, no Brasil, é ditada pelo mercado futuro e não pelo mercado à vista. Além disso, a moeda estrangeira que sobrou das operações com clientes foi encarteirada pelos bancos, preocupados em reverter posição vendida também no ativo dólar, e não só em derivativos. No fim de agosto, a carteira de câmbio do sistema bancário estava vendida em US$ 6,257 bilhões. Na terça-feira (20/09), a posição já era comprada em US$ 1,7 bilhão.

 

Oscilação - Preocupados com as exportações brasileiras, alguns economistas importantes do governo consideram que o dólar pode oscilar ao redor de R$ 1,90 sem causar estragos à economia, sobretudo para a inflação. A desvalorização de 16,6% acumulada pelo real neste mês tem sido comemorada por eles. "Essa desvalorização abre ao exportador um ótimo canal para a internalização de divisas que estão fora do país, dando um refresco ao empresário que continua exportando mesmo com câmbio valorizado", disse uma fonte no governo.

 

Estabilização - Esse mesmo assessor avalia que em cerca de dez dias, no máximo, a situação deve se estabilizar, e o ingresso de dólares ao país pode voltar, aos poucos, ao ritmo verificado antes de setembro. As vantagens comparativas brasileiras, disse, continuam as mesmas - taxa de juros a 12% ao ano, num quadro de juros próximos a zero no mundo, e crescimento econômico num cenário de recessão global. (Valor Econômico)

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