Aftosa: é preciso vacinar!

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João Paulo Koslovski(*)

Há cerca de um ano, em reunião anual da Organização Internacional de Epizootias(OIE), o Paraná e mais 4 Estados brasileiros receberam o certificado de área livre de febre aftosa com vacinação, status conseguido com muito trabalho e determinação. Sob coordenação da Seab, com apoio do Ministério da Agricultura e efetiva participação da iniciativa privada, o Paraná se mobilizou, desencadeando ações expressivas para conscientização de todos na manutenção desta significativa conquista. O apoio da sociedade permitiu a constituição de mais de 150 conselhos de sanidade agropecuária municipais ou intermunicipais, que são a linha de frente na defesa sanitária animal.

Se por um lado os pecuaristas paranaenses fazem a sua parte, também é preciso que a sociedade se mobilize para manter este status sanitário, que trouxe conquistas significativas ao país. As exportações brasileiras, de lá para cá, cresceram em percentuais que evidenciam que o caminho da sanidade é o único: ou se tem, ou toda sociedade perde, porque nenhum país quer importar produtos de qualidade, sanidade ou origem duvidosas.

A grave crise vivenciada mundialmente em função da doença da ?vaca louca? e da febre aftosa, que afetam especialmente a Europa e países da América do Sul, nos levam a estimativas otimistas de crescimento, neste ano, de nossas exportações de carne bovina (36%), suína(23%) e de aves(10%).

No caso do milho, a situação ainda foi mais positiva, pois saímos de exportações praticamente zero no ano passado, para uma previsão de exportação de 2,0 milhões de toneladas, permitindo uma melhor remuneração aos agricultores. Essas mudanças são altamente positivas, mas a maior conquista está na abertura, sem precedentes, dos mercados. Apesar de todas as barreiras impostas à importação de nossos produtos pelos mercados da Europa, EUA e Ásia, estamos provando que temos capacidade de competição, oferecendo produtos com sanidade e qualidade.

Com isso, viabilizamos as pequenas propriedades, mantendo no campo milhares de agricultores que, sem essa possibilidade de agregar valor à produção, abandonariam a atividade. A avicultura, a suinocultura e a bovinocultura de leite e corte são atividades de importância fundamental para o setor primário, pois agregam valor pela utilização dos alimentos produzidos internamente. Além de ter grande importância para a alimentação e renda complementar aos agricultores, que têm nessas criações uma atividade secundária, nos últimos anos cresceu significativamente o número de produtores dedicados especialmente à avicultura, suinocultura, integrados em cooperativas ou empresas privadas que garantem o fornecimento de material genético, assistência técnica, rações, industrialização e comercialização. E são estas as atividades que estão sendo imensamente valorizadas pelo controle das doenças animais num momento de crise da sanidade nos países europeus, que são grandes importadores de proteína.

Além do mais, é preciso fazer duas análises importantes sobre nossa capacidade de geração de divisas e logística na produção de grãos: primeiro, o Paraná não tem outra riqueza maior que sua capacidade de produzir alimentos ininterruptamente, garantindo o abastecimento interno e gerando divisas através das exportações; segundo, se estamos em desvantagem em relação às novas fronteiras na produção de grãos (custo de produção e distância dos mercados externos), precisamos transformar esses grãos em proteína, agregando assim valor à produção. Com isso se garante a continuidade da produção interna de grãos e carne, com todos os reflexos positivos na geração de emprego no campo e nos setores de produção de insumos e serviços.

Fomos muito competentes para conquistarmos o status de área livre da febre aftosa com vacinação; agora teremos que trabalhar dobrado para manter esta situação. A nossa responsabilidade aumenta à medida que nossos vizinhos Uruguai, Argentina, e mesmo o Rio Grande do Sul, enfrentam sérios problemas com a detecção do vírus da doença em seus rebanhos. As perdas para estes países e para o Rio Grande do Sul são enormes, prejudicando o comércio, o produtor, o governo e toda a população.

O trabalho que vem sendo feito no Paraná, através do poder público, das entidades de classe, do Conselho Estadual de Sanidade Animal e do Fundepec prova que é possível, através da cooperação e união de todos, sensibilizar o pecuarista para a vacinar 100% do nosso rebanho, mantendo o Estado livre do vírus. Cada um de nós tem o dever e a obrigação de contribuir para que o pecuarista vacine seu rebanho, evitando a entrada do vírus no Paraná.

A forma de participação depende das peculiaridades de cada região e a ajuda deve ser ampla, com os grandes produtores ajudando os pequenos, com as prefeituras facilitando e estimulando as ações efetivas para a vacinação. Os conselhos de sanidade animal, as instituições oficiais e privadas têm uma missão fundamental, que é orientar e realizar a imunização de todos os animais, com o dever de denunciar aqueles que se negarem a efetuar a vacinação.

Conquistar o status de área livre da aftosa foi importante, mas neste momento a sua manutenção é imprescindível para que toda população possa usufruir das conquistas que se acumulam pela melhoria do nível de exportações e geração de empregos. Vamos à luta! Precisamos vacinar 100% do nosso rebanho e esta responsabilidade é de todos nós paranaenses.

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(*) Engenheiro agrônomo, presidente da Ocepar ? Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná.

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