(*) Luiz Antonio Barreto de Castro
A comercialização de OGMs (Organismos Geneticamerrte Modificados)
começou em meados dos anos 90 com o tomate de maturação
lenta produzido pela norte-americana Calgene e com a soja resistente ao
glifosato, patente da também norte-americana Monsanto. Outras plantas
foram desenvolvidas e liberadas para uso comercial no mundo, como a canola
e a soja, cuja composição de lípídios foi
alterada para diminuir o possível efeito do óleo no nível
de colesterol no organismo humano. Outro exemplo foi o golden rice, rico
em caroteno, efetivo para reduzir os efeitos da avitaminose A, que causa
cegueira noturna em milhões de pessoas em todo o mundo.
Dados do International Service for the Acquisition of Agribiotech Applications
(lsaaa) dão conta de que a área cultivada globalmente com
transgênicos aumentou de 1,7 milhão de hectares em 1996 para
cerca de 58,2 milhões em 2002, cultivados por 5,5 milhões
de agricultores, sem que tenha sido constatado qualquer efeito danoso
ao meio ambiente ou à saúde humana. A soja tolerante ao
glifosato já ocupa 65% da área cultivada com a oleaginosa
nos Estados Unidos, abrange toda a área destinada à soja
na Argentina e supera a soja convencional em todo o mundo. Estima-se que
nos supermercados dos Estados Unidos cerca de 600 produtos transgênicos
ou derivados destinados à alimentação humana e animal
estejam sendo consumidos, sem registro de qualquer efeito danoso ao homem.
No Brasil foi judicialmente negado ao agricultor brasileiro o acesso à
tecnologia. Na história da agricultura brasileira o caso é
único e desde que a cana-de-açúcar se estabeleceu
aqui nunca foi negado esse acesso ao agricultor. Não é por
outro motivo que estamos entre as maiores potências do mundo em
competitividade. Particularmente nos últimos três anos as
safras batem recordes sucessivos, ultrapassando os 120 milhões
de toneladas de grãos. Poderia ser ainda melhor se há cinco
anos não convivêssemos com uma moratória branca judicial
contra os transgênicos que tem origem em ações do
Greenpeace e do ldec (Instituto de Defesa do Consumidor) e que gradualmente
está diminuindo a competitividade da agricultura brasileira no
contexto mundial. Como conseqüência dessas ações
legais, 20% da área cultivada com soja no Brasil são hoje
ilegalmente transgênicos, com graves prejuízos para a industria
de sementes no Brasil e para a Embrapa, que deixa de receber retorno por
seus cultivares comercializados. A quem interessa o retrocesso da agricultura
brasileira, que terá dificuldades de concorrer com os transgênicos
da China, Argentina Canadá e Estados Unidos? Que futuro terá
a Embrapa sem financiamento para suas pesquisas e contando apenas com
um modesto apoio do Ministério da Agricultura? Há 25 anos
investimos e desenvolvemos competência em engenharia genética,
mas não receberemos nenhum centavo por esse investimento porque
estamos impedidos de colocar os nossos produtos no mercado para servir
a agricultura. Quem pagará por esse atraso científico e
tecnológico? Há cinco anos pergunto a que interesses servem
essas campanhas. Que razões existem para justificar esse crime
contra o estado democrático? Em 1998 se dizia que o momento exigia
cautela. Cinco anos e US$ 12,5 bilhões de agrotóxicos vendidos
no Brasil, volto a perguntar: onde estão as vítimas dos
transgênicos? A lei de biossegurança brasileira é
tão moderna e completa quanto as mais exigentes do mundo. O Brasil,
no exercício desta lei, tem sido mais cauteloso que qualquer país
do mundo. Por que negar ao agricultor brasileiro o que não foi
negado aos agricultores dos Estados Unidos, Canadá, Argentina,
Austrália e China?
(*) Chefe geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e
membro da Academia Brasileira de Ciências, em artigo publicado pela
revista Conjuntura Econômica
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