Webinar reúne especialistas para debater conjuntura, clima e mercado para a próxima safra
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Cerca de 180 lideranças cooperativistas paranaenses e convidados participaram, na tarde de sexta-feira (30/08), de uma webinar com o tema “Perspectivas da Safra 2024/2025”, transmitida pela plataforma Microsoft Teams. O evento reuniu os especialistas, Eugênio Stefanello, Luiz Renato Lazinski e Étore Baroni, que abordaram, respectivamente, sobre conjuntura macroeconômica, condições climáticas e tendências de mercado para a Safra 2024/2025.
O evento foi aberto pelo presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken, que destacou a importância neste momento de ouvirmos quem entende dos temas propostos para que com base em dados e informações, cooperativas possam orientar seus cooperados com relação a instalação da próxima safra de verão. “Esta visão dos especialistas é importante para podermos nos preparar para o plantio. Só no Paraná, na safra passada, perdemos cerca de 6 milhões de toneladas. Tivemos uma condição climática não muito favorável. As margens estão estreitas, pois os preços estão longe do que vinha sendo praticado”, destacou o dirigente.
Conjuntura macroeconômica
O professor Eugênio Stefanello, ex-secretário da agricultura do Estado do Paraná, falou sobre o cenário macroeconômico no Brasil. Para o economista, a atenção maior está nas contas públicas: “se o governo gasta mais do que arrecada, vem o endividamento público, que é uma das formas de financiar o déficit público, além da emissão da moeda ou do atraso de pagamentos. O governo privilegia, inicialmente, um equilíbrio primário das contas públicas e um pequeno déficit nominal. A diferença entre primário e o nominal são os juros pagos. O equilíbrio primário significaria dizer que o governo arrecadaria o montante de dinheiro de tributos equivalente ao que gastaria no custeio e no investimento no subsídio. Nos últimos dois meses até julho deste ano, o governo tem déficit primário das contas públicas, que chega a 260 bilhões de reais, e o déficit normal, que inclui o pagamento de juros, 130 bilhões de reais”. Na visão de Stefanello, “o governo fechará esse ano de 2024 com um déficit primário e nominal das contas públicas. É possível que esta situação continue em 2025”, ressaltou.
Já sobre a política monetária de crédito conduzida pelo Banco Central, o analista disse que “no início do ano se previa uma redução da taxa básica de juros, a taxa Selic, até os 9% ao ano, e a redução dessa taxa foi menor que a inicialmente prevista pelo mercado, ficou em 10,5%. O próprio Banco Central sinaliza que, ao contrário de uma redução, daqui para frente, há uma grande probabilidade de aumento desta taxa básica de juros para evitar a ocorrência de inflação em função do aumento do gasto público”.
O ponto positivo são os investimentos e geração e emprego. “Novos investimentos, geram riqueza e emprego formal. Estamos com uma das menores taxas de desemprego da história, chegando em 6,9%. Se compararmos com 2020, chegamos a ter uma taxa de 15% com pessoas desempregadas”, frisou.
Clima
Na sequência, o meteorologista e consultor Luiz Renato Lazinski falou sobre o comportamento do clima para a próxima safra. “Estamos no início da safra e, aqui no Paraná, não tem chovido muito. Pancadas irregulares em algumas regiões, especialmente no Sudoeste onde as precipitações estão a contento e em outras, Norte e Noroeste sem umidade no solo. Agosto foi um mês de poucas chuvas no todo, abaixo das médias históricas”. Segundo ele, o mês de setembro será um pouco melhor. “Deveremos ter o retorno das chuvas para a segunda quinzena de setembro com a chegada de algumas frentes frias. A tendência é que a umidade do solo, especialmente nas regiões Oeste e Noroeste, melhorem gradativamente até o final de setembro e início de outubro, que poderá beneficiar a semeadura das lavouras”.
Ele destacou que estamos saindo da fase do fenômeno do El Niño (aquecimento das águas do Pacífico), agora estamos numa fase neutra e deveremos entrar na La Niña (resfriamento das águas do Pacífico), que para nós aqui do Sul do país, provoca chuvas muito irregulares, abaixo do média. “Foi o que passamos nos anos de 2020, 2021 e 2022, praticamente três anos com o La Niña influenciando nosso clima e nossas lavouras. Em outubro teremos presença de chuvas, mas em novembro e dezembro, perceberemos uma diminuição nas precipitações e com pequenos veranicos que podem se prolongar devido a presença do La Niña”, destacou. Lazinski tranquiliza que a La Niña não deve durar três anos, como aconteceu recentemente. “Deve perder intensidade em meados do ano que vem, desta forma, tanto a safra normal como a safrinha irão se desenvolver com a presença deste fenômeno chamado de La Niña”, disse.
Lazinski concluiu afirmando que “primavera/verão, teremos chuvas abaixo da média no Centro-Sul do Brasil e Centro-Sul da América do Sul, com distribuição irregular, e chance grande de verânicos mais prolongados. Temperaturas devem ficar um pouco acima da média, mas com grandes amplitudes térmicas no Centro-Sul do Brasil. Chance de ondas de frio tardio mais intensas atingirem o sul do Brasil (setembro)”, afirmou.
Mercado de soja e milho
Já o consultor Étore Baroni, da StoneX Brasil, falou sobre o comportamento do mercado para a próxima safra de soja e milho. O especialista falou que as mudanças climáticas continuarão fazendo forte pressão nos preços das commodities, especialmente relativas as perdas que porventura poderão acontecer no transcorrer da safra por falta ou excesso de chuvas. “Nesse momento que iniciaremos o plantio da próxima safra de soja aqui no Brasil, os Estados Unidos estão colhendo sua safra. A expectativa é o mundo produzir 428.72 milhões de toneladas de soja, das quais, o Brasil será responsável por 169 milhões de toneladas, EUA 125 milhões, Argentina 51 milhões e a China 20,7 milhões de toneladas. Somente Brasil e a Argentina juntos, serão responsáveis por quase 54% do total produzido no mundo. A safra mais importante do mundo está na América do Sul e não mais nos EUA. E somos nós que vamos atender boa parte da necessidade da demanda de soja pela China, hoje em torno 126.80 milhões de toneladas”, destacou.
A área plantada de soja no Brasil vem crescendo ano após ano, em torno de 1 milhão de hectares a mais cultivados. Já nos EUA a área cultivada estagnou em 34,8 milhões de hectares enquanto no Brasil é de 47,3 milhões de hectares. Já no cultivo do milho, o Brasil produz menos que os EUA. Plantamos aqui 22,3 milhões de hectares e nos EUA são 33,5 milhões de hectares. Mas de 2001 até a safra passada, tivemos um aumento de 72% da área plantada com milho no país, ou seja, 9,3 milhões de hectares no período e nos EUA foi de apenas 4,2 milhões de hectares.
Étore considera importante ficar de olho no comportamento do principal consumidor de soja brasileira, que é a China. Segundo ele, o mercado está com produção alta. Ele destaca que a China abriu o mercado para o mundo em 2002, quando entrou para OMC. “Hoje temos um crescimento chinês menor, caiu para 5%. Estamos acompanhando uma redução populacional na China, assim, são menos consumidores. Em 2020 menos nascimento do que mortes por lá. Depois da pandemia a população está reticente em aumentar a família. Ficou caro ter mais de um filho, dessa forma estamos acompanhando a demanda deles por alimento cair. A exportação de soja para China, está ligada diretamente ao aumento da população e ao crescimento do PIB. O Brasil é o principal fornecedor de soja para a China”, destacou.
Links
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