SISTEMA OCEPAR: Clima favorável no Centro-Sul e mercado instável para próxima safra, preveem especialistas
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Durante uma webinar realizada na tarde desta segunda-feira (04/09), através da plataforma Teams e que contou com mais de 180 participações de cooperativas paranaenses, o meteorologista Luiz Renato Lazinski e o consultor André Pessoa afirmaram que a próxima safra de verão na região Centro-Sul, o clima será favorável com boa distribuição de chuvas em decorrência do El Nino, mas o mercado, principalmente de grãos, será instável na questão de preços.
Presenças - O evento, organizado pela Gerência de Desenvolvimento Técnico da Ocepar, teve como objetivo analisar as perspectivas climáticas e cenários para os mercados de soja e milho para a Safra 2023/2024, foi aberto pelo presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken e contou com a participação de dirigentes de diversas cooperativas, do secretário de Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara e do Diretor de Política de Financiamento ao Setor Agropecuário no Mapa, Wilson Vaz de Araújo.
Legislação ambiental- “É mais do que oportuno neste momento, quando os produtores estão planejando a próxima safra de verão, debatermos dois temas que muito nos preocupam e ouvir de ambos os especialistas os possíveis cenários. Com foco na produção, mas sem perder de vista o mercado”, frisou Ricken. Para o dirigente, também estão no radar outros temas relevantes, entre eles a discussão em torno da Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) em torno do Código Florestal, que está sendo analisado pela Superior Tribunal Federal (STF), pelo ministro Luiz Fux. “O produtor precisa de muitos fatores para ter sucesso, entre eles o ambiental, de legislação adequada, de segurança jurídica, por isso estamos na expectativa deste julgamento no STF. No Paraná, 97% de sua área é considerada Mata Atlântica e se prevalecer o parecer do Fux, teremos que fazer esta compensação em outras regiões, diferente do que ficou estabelecido no novo Código Florestal. Um risco que corremos. Legislação ambiental impacta diretamente a produção agrícola”, destacou.
Outros fatores - Outro ponto destacado por Ricken é com relação ao crédito. “Hoje, o crédito representa mais de um terço dos recursos para a instalação de uma lavoura. Outro ponto é infraestrutura de armazenamento. Quando produzíamos em torno de 30 milhões de toneladas, a questão de armazenagem preocupava, mas não muito. Hoje, estamos chegando próximo de uma produção agrícola de 50 milhões de toneladas e um déficit de aproximadamente 10 milhões de toneladas em armazenagem. A questão é a infraestrutura de transporte, logística, estradas, ferrovias e de portos também é fundamental para o sucesso do setor. Estamos acompanhando de perto os leilões dos modais rodoviários. O primeiro lote foi leiloado recentemente, precisamos acelerar os demais para que não fiquemos para trás na logística da nossa safra”, destacou o presidente Ricken. “O que não podemos ter controle é no clima. Temos muita expectativa no que virá para a próxima safra. Se tiver demanda nós vamos produzir, afinal é o que nossos cooperados no campo sabem melhor fazer”, finalizou.
Clima favorável– Para o meteorologista Luiz Renato Lazinski é mais do que oportuno falar em clima e sobre mercado, pois os agricultores já estão se preparando para semear a próxima safra e assim possam se programar. Segundo ele, “neste ano, particularmente o centro-sul do Brasil, a América do Sul será beneficiado pelo clima, após três anos sofrendo com o clima, uma hora com muita chuva outra hora menos. O El Nino deve trazer para o centro-sul do Brasil, chuvas mais abundantes, mais bem distribuídas. Bem diferente do clima que tivemos nas últimas safras. Portanto, um clima bastante favorável para nossa safra de verão”, frisou o especialista.
Outras regiões– Lazinski destaca que, “por outro lado, o clima muda bastante em outras regiões, mais nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, principalmente na chamada região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e também no norte do Mato Grosso, onde haverá chuvas abaixo da média e ciclos mais prolongados. Mas no Sul, teremos chuvas mais abundantes e clima favorável”. Ele alerta que poderemos ter ainda uma geada tardia em setembro, mas com poucos reflexos na safra de inverno, como cevada e trigo. “Posso afirmar que as chances são muito remotas disso acontecer até porque vivemos o período do El Nino, quando as temperaturas são mais amenas e não variam tanto”.
Desafios - O meteorologista destaca que com todas as tecnologias que o produtor tem disponível hoje como melhoramento genético, manejo de pragas e doenças, agricultura 4.0 e tantas outras, um fator que ele não tem controle é o clima. “O produtor pode fazer tudo que a assistência técnica manda, mas no clima não consegue mexer. Na safra passada foi o Paraguai que teve seca, neste ano a Argentina e o Rio Grande do Sul. O agricultor tendo acesso a essas informações e sobre aquilo que vai encontrar pela frente, ele pode se preparar, não plantar no escuro, tem dados e informações que ajudam a não perder dinheiro, assim ele consegue fazer um planejamento a longo prazo”, frisou Lazinski.
Mercado – Já o diretor da Agroconsult, André Pessoa apresentou um panorama sobre o mercado para soja e milho na safra 2023/2024. Segundo ele, os preços apresentam uma certa instabilidade, como é o caso da cotação doméstica que teve uma grande oscilação. Para André Pessoa, “o setor depende de três fatores, que é o preço internacional da Bolsa de Chicago, em segundo um câmbio com muita volatilidade e o terceiro na questão de logística. Neste ano tivemos uma mudança significativa com queda na Bolsa de Chicago, que nos tomou R$ 12,00 por saca de soja. O câmbio tomou cerca de R$ 18,00 por saca. E o prêmio foi negativo. Trabalhamos na entressafra com prêmio que era da safra. Além do fato da influência da grande safra e pelo fato dela não ter sido comercializada de forma antecipada. O que dá mais R$ 10,00 de prejuízo, somando um total próximo de R$ 40,00 a menos por saca de soja produzida”, analisou.
Soja 23/24– Para o consultor, sobre a produção da soja, “estamos diante de um ciclo muito bom em termos de demanda. Uma recuperação muito forte. Demanda maior, especialmente de grandes produtores, como a Argentina que ampliou o consumo doméstico. A China também vem subindo os estoques, devido a demanda doméstica. Calculamos uma demanda de mais de 20 milhões de toneladas no consumo no mundo por soja. China será responsável de 6,1 milhões de toneladas e a Argentina 6,1 milhões de toneladas. Com certeza, para o próximo ano, haverá uma demanda muito alta pelo produto”, comentou.
Processamento – André Pessoa disse que houve um crescimento de 6% na área plantada de soja na safra 2022/2023 no Brasil. “Provavelmente não vamos ter neste ano um crescimento na área de plantio. Exportações de soja neste ano devem chegar a 97,3 milhões de toneladas, 23,6% maior que em 2022 que chegou a 78,7 milhões de toneladas. Esmagamento também cresceu 6%, passando para 54,1 milhões de toneladas e farelo 11,8% com 22,8 milhões transformados no produto. Em consequência da supersafra do ano passado a relação de troca ficou mais favorável para as indústrias de proteína animal, pela superoferta do produto. Tanto para suínos, como frango e leite”, destacou. Para ele, “quando a gente soma do lado da demanda, com mais de 20 milhões de toneladas, o estoque será de 30 milhões de toneladas a mais no mundo. Vamos gerar um excedente que poderá impactar o preço da saca, sendo mais baixo”.
Matopiba– “Nossa expectativa para o próximo ano, no que pese o ritmo de expansão, não teremos um aumento de área. O milho vai ceder espaço para a soja neste ano. Algumas regiões deverão reduzir pouco a produtividade, primeira vez com o El Nino que vamos testar os novos manejos que estão sendo realizados na região do Matopiba - região formada por áreas majoritariamente de cerrado nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, para onde a agricultura se expandiu nas últimas décadas”, disse.
Estados Unidos– “Os EUA enfrentaram um plantio menor, de quase 5% na área de soja e o desempenho de produtividade é uma incerteza por enquanto. Condições piores que anos passados. Tendência de redução na produtividade da safra americana de soja. Inicialmente vimos 117 milhões de toneladas. Agora o USDA reduziu a expectativa para para 114 e já lemos em torno de 111 milhões de toneladas. Provavelmente deverá ser ainda menor. Longe de ser uma tragédia de produtividade, mas sim com perdas sensíveis. OS EUA continuam com o aumento de consumo doméstico especialmente na transformação para combustível, o diesel verde. Assim, suas exportações serão menores, pois a produção vai atender a indústria interna. Mas podemos ver isso com uma certa preocupação porque o clima que afeta o hemisfério Norte pode pegar aqui também no Sul e assim impactar nossas previsões de colheita para o verão”. O especialista disse que com a menor competição americana, “ao mesmo tempo na América do Sul, precisamos observar a Argentina, que nos últimos quatro anos não foi bom. Mas com perspectiva de recuperação no próximo ciclo com chuvas mais frequentes e a capacidade hídrica do solo vai se recompondo. Com maior área plantada que no ano passada, acima dos 16,6 milhões de hectares, produzirá acima de 50 milhões de toneladas de soja. Nesta safra, a Argentina teve uma perda devido a seca de 30 milhões de toneladas e nós produzimos 30 milhões de toneladas a mais aqui. O que compensou esta falta no mercado internacional”, frisou.
Paraná – “Houve uma demora na compra de insumos, mas desta vez, o clima pode beneficiar. Uma safra um pouco melhor em termos de rentabilidade no Paraná se comparado com anos anteriores. Favorecida pela redução do custo de produção de R$ 1 mil por hectare. Já no Mato Grosso será diferente, porque o custo lá não vai cair”, lembrou André Pessoa. Ele destacou que Ricken tocou num ponto importante: “a questão de crédito para a safra. No que pese a rentabilidade ser positiva, o ciclo econômico está mais longo, a comercialização está mais atrasada. O ciclo vai fechar em outubro ou novembro. O ciclo está mais longo. Os produtores estão mais expostos ao fluxo de caixa e precisam de mais dinheiro. Nas revendas o pagamento do 30/04 foi transferido para 30/09. Esse quadro vai se repetir no ano que vem. Não teremos uma safra tão folgada na capacidade de pagamento dos produtores. Por isso as cooperativas precisam estar atentas na busca de mais capital de giro para seus negócios e a demanda de crédito vai crescer na mesma proporção. Por isso é necessário que o crédito rural esteja preparado para este cenário”, destacou.
Milho – Já sobre o milho, André Pessoa disse que “tivemos uma safra espetacular de verão, apesar dos problemas do Rio Grande do Sul, performou para 22,3 milhões de toneladas, com redução de 2,5% na primeira safra e aumento de 1,2% na segunda safra. Vamos se aproximar a 140 milhões de toneladas no Brasil. Com consumo recorde com mais de 80 milhões de toneladas, especialmente pela indústria de carnes e do etanol que corresponderá uma demanda de 14 milhões de toneladas e 54 milhões de toneladas que deverão ser exportadas pelo Brasil. Preço competitivo e clientes nós temos, mas a logística não nos favorece para escoar na mesma velocidade que precisamos”, alertou.