OPINIÃO: Renegociar dívida rural é preço ainda baixo

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Tudo o que se fizer pelo agronegócio será sempre vantajoso para a nação inteira

Se existem alguns caloteiros entre os empresários rurais endividados, a maioria deles está realmente em dificuldade, por causa da frustração de safras anteriores. A decisão do Governo de refinanciar dívidas com vencimentos neste ano - ora anunciada pelo ministro Reinhold Stephanes - vai aliviar o sufoco dessa classe de produtores. Tudo o que se fizer em benefício dos negócios do campo será sempre vantajoso para a nação inteira, porque entre robustecer o produtor rural, por via da renegociação, e engordar mais o Tesouro, melhor é optar pelo primeiro. Refinanciar compromissos não é perder, porque a resposta positiva virá na continuidade.

O que ressalta no episódio desse novo ajuste é a demonstração de força da bancada ruralista no Congresso, que é um poder corporativo independente de correntes partidárias. Naturalmente que, ao agir em defesa dos negócios da agricultura e da pecuária, esse poder também deve preparar-se para a contrapartida, porque o Governo não dispensa o pedido de apoio em outras causas. Cede em um segmento para ganhar em outro, ou a governabilidade torna-se mais difícil. Jornais defensores de outros sistemas corporativos reagiram a essa renegociação. Sabem que, pelo poder de fogo da banca ruralista, muitas vantagens ela poderá obter do Governo. Que ao ceder terá de readequar as finanças por conta dessa rolagem, mas se não cede pode sofrer prejuízos ainda maiores quando forem votadas medidas de interesse governamental.

Sujeito sempre às oscilações de renda, o produtor rural grande e pequeno tem sido tangido pelos riscos da atividade - que depende da boa vontade do clima, da maior ou menor voracidade das pragas, do compasso do mercado e tantas outras variáveis - mas ao menos conta com uma bancada parlamentar que os defende, e óbvio que os membros que a compõem também estão engajados na atividade rural. Corporativismos nos parlamentos são comuns em todas as democracias, porque assim se opera a representatividade popular. Se a bancada rural no Brasil é atuante em ocasiões oportunas, tanto melhor para a causa que representa. Porque, mesmo sendo um poder, não fere o sistema democrático.

Quando todas as bancadas forem fortes, mais se realçará o princípio da representatividade, razão da existência dos parlamentos.

Quanto mais benefícios a bancada ruralista obtiver, em favor do produtor rural, tanto melhor. Porque a garantia da produção, do abastecimento alimentar, da dinâmica desse negócio gerador de riqueza, nunca resultará em prejuízo para a nação, mesmo que dívidas sejam renegociadas e o Tesouro tenha de acomodar temporariamente as suas contas. Porque o governo tem mais suporte e muitas saídas, mas o produtor rural não. Embora os defensores do setor industrial digam que o Governo paga um ''pedágio ruralista'' ao renegociar essas dívidas, o preço é ainda baixo pelo que a cadeia produtiva rural representa em reforço sustentação da economia, em manutenção de empregos e em receita de moeda estrangeira.

Editorial Folha de Londrina – 16/07/07

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