FÓRUM DOS PRESIDENTES IV: Paulo Hermann fala sobre os potenciais e oportunidades do agro brasileiro na palestra magna

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Natural de São Lourenço, Rio Grande Sul, Paulo Hermann, formado em Engenharia Agrícola pela Universidade de Pelotas (RS), entrou para a John Deere em 1999, onde foi gerente de projetos, vice-presidente de Marketing e Vendas para a América Latina e presidente por 10 anos da companhia no Brasil. Atualmente é CEO da PH Consulting House. Ele foi convidado para realizar a palestra magna na abertura do Fórum dos Presidentes das Cooperativas, durante a solenidade realizada na noite dessa quinta-feira (15/06), no hotel Recanto Cataratas, em Foz do Iguaçu, e que contou com a participação de cerca de 200 lideranças do cooperativismo europeu, do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, autoridades e convidados.

Aumento populacional - Com o tema: “O agro brasileiro, potencial, reflexões e oportunidades”, Hermann lembrou do tempo que concluiu seu curso e ouvia dizer que as máquinas no Brasil eram coisas do passado, velhas, desatualizadas. “Como convencer então aos americanos, donos da John Deere, que aqui no Brasil era o negócio do presente e do futuro no setor de máquinas agrícolas? Com dados, estatísticas dos potenciais que o país possuía e ainda tem”, conta ele. Hermann disse que, em 1800, havia dois lugares altamente povoados no mundo: Índia e China, onde estavam cidades com mais de 1 milhão de moradores. “Hoje, estão espalhados por todos os continentes, mas precisamos olhar bem para a África, onde hoje temos 17% da população mundial, cerca de 1,3 bilhão de pessoas, mas que, em 2050, as projeções mostram que serão 2,5 bilhões, ou seja, 26% do total, que pode chegar perto de 10 bilhões de cidadãos no mundo todo. Como é então que os governantes europeus irão definir os padrões de sustentabilidade no mundo, com milhões de pessoas que irão imigrar para todos os lugares em busca de alimento, de uma vida melhor? Por isso, concordo com a fala do governador do Paraná, Ratinho Junior, aqui hoje, que seremos o supermercado do mundo. Claro que é uma forma simples, mas, ao mesmo tempo, clara para traduzir a grande responsabilidade do agro, das cooperativas do Paraná e do Brasil”, frisou.

Paz - Para ele, o que derruba um governo é a insegurança alimentar. “Talvez, não em países desenvolvidos, mas aquele emergente, em crescimento, é um risco. O líder cooperativista brasileiro, Roberto Rodrigues, sempre fala que o agro é o caminho para a paz, afinal, na casa que falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão, já diz o ditado popular. Mas onde está o dinheiro no mundo hoje? Em poucas mãos: EUA, China, Japão, Alemanha, Índia, Reino Unido, França, Canadá, Rússia, Itália e Brasil. Mas, em 2050, veremos um outro cenário, onde o Brasil ocupará a sexta posição”. Segundo Hermann, a “China não tem interesse em produzir alimento. Eles querem ser produtores da indústria de alta tecnologia e continuar se abastecendo em países como o Brasil. Mas temos que nos preocupar com a Ásia, sim, lá que estão nossos concorrentes”.

Pontos favoráveis - Paulo Hermann frisou que o Brasil tem cinco fatores fundamentais que nenhum outro país no mundo tem. “Não quero ser arrogante aqui, mas com todo este tempo atuando no setor, posso garantir que esses diferenciais contribuem muito para nosso sucesso no agro. O primeiro é o sol. Estamos numa região tropical, onde há sol o ano inteiro”, disse. “Segundo, é água em abundância, outro é a terra, ciência e gente. Na questão da água, só para termos uma ideia, 20% do total da água doce do mundo está no Brasil. Estamos em cima dos dois maiores aquíferos do mundo, o Amazônico e o Guarani. Somente o Guarani tem uma reserva que poderia abastecer a população atual do Brasil por 1.750 anos. Então, temos que parar com essa história de que a agricultura está acabando com nossa água. Para produzir, é preciso água e, para viver, precisamos de comida”, destacou. Já em relação à ciência, Hermann disse que temos o privilégio de termos a Embrapa, como uma das principais fontes de pesquisa agropecuária do mundo e que muito contribui para o desenvolvimento do setor.

Produção - “Nós crescemos da década de 1970, de uma tonelada de grãos por hectare, para quatro toneladas de grãos por hectare atualmente. Mas ainda há espaço para crescer. Neste mesmo período saltamos de uma produção de 40 milhões de toneladas para 271 milhões de toneladas, em 2022, e temos potencial para chegar em 2030 em 400, 500 milhões de toneladas, disse.

Números duvidosos - Hermann alerta para outro detalhe importante, que é sobre “as tais previsões de safra. O USDA erra sempre a previsão da safra para cima, nunca para baixo. Sempre arranca com dados para cima. Anunciam que os americanos farão uma mega safra de soja, só que muitas vezes essa safra nem ainda foi plantada. Agora mesmo enfrentam uma seca e que pode causar perdas. Mas o anúncio foi de supersafra”. Segundo o USDA, para que o mundo continue equilibrado no fornecimento de alimentos, a Oceania precisa aumentar em 9% a produção de alimentos, a China 15%, União Europeia, 12%, Leste Europeu, 7%, EUA, 10%, Canadá 9% e o Brasil 41%. “Mas tem um detalhe, a Ucrânia, que era um grande produtor de alimentos, caso a guerra pare agora, levará mais de uma década para se reerguer, pois toda sua infraestrutura está comprometida”, lembrou.

Planejar - “Por isso, vocês da Ocepar, estão no caminho certo em ter metas, planejar. Nós não podemos ter medo de investir. Mas o que precisamos ter no agro é planejamento setorial. Visão plurianual e alianças sustentáveis. Planejar é a palavra. O cooperativismo está no caminho certo, não tem medo de investir e sabe crescer. Prova disso são os números que o presidente Ricken apresentou neste evento”, salientou Hermann.

Fragilidades - Para ele, o setor agro precisa superar algumas de suas fragilidades, destacadas por ele na palestra. “Nosso modelo tem a fragilidade de ser somente exportador. Nos últimos anos, o agro brasileiro exportou 1,3 trilhão de dólares. Precisamos olhar como reduzir tal fragilidade. Comemos na mão de quatro tradings que fazem o preço. Oligopólios que controlam a comercialização. O sistema cooperativista já é uma forma bem fundamentada e quem tem enfrentado com inteligência essa força”. Hermann orienta que é preciso mobilizar todos os setores do agro para ter um único e grande escritório lá no mercado comprador, que cuide de nossos interesses.

China - Para o palestrante, o segundo ponto que nos torna muito vulnerável é que estamos vendendo 40% de tudo que exportamos para um país só: China. “É um perigo concentrar todo esse volume para lá. Não sou contra esse comércio, mas precisamos ficar atentos a essa estratégia que pode nos tornar refém. Ninguém compra tudo isso sem impor seus interesses”, lembra.

Sanidade - Hermann diz que o terceiro ponto é um grande desafio. “A questão sanitária, apesar de todos os esforços. Ainda temos um sistema de controle e de vigilância precário, mal estruturado. Somos presas fáceis” – e ressalta: o Sul do Pará, está mais distante de Uruguaiana do que da Flórida nos Estados Unidos, mas quando surge uma questão sanitária como aconteceu com a Vaca Louca, os produtores de todas as demais regiões pagam o preço. “Por que colocar todo o país em risco e fechar o comércio das demais regiões? É preciso mudar isso”.

Alerta - Outro alerta: “O sistema, do jeito que está armado. Somos presas fáceis para a especulação. Começa sempre assim, estimativa de alta, projeções de safras sempre otimistas. Incertezas dos volumes a serem exportados. Déficit de infraestrutura de armazenamento. Tudo é cenário propício para o estímulo a especulação. Infelizmente armazenamos apenas 15% da nossa produção, enquanto os americanos têm possuem 40% de capacidade estática de toda sua produção de grãos”.

ESG - Ele preferiu não entrar em detalhe sobre o ESG, afirmando que é um tema complexo e que necessitaria de mais uma hora para falar a respeito, mas que no seu ponto de vista, “é algo requentado, coisa que já se fala há muito tempo, mas que também existem muitos interesses por trás. Neste quesito, o cooperativismo tem muito o que apresentar. As cooperativas já estão fazendo um grande trabalho nas áreas, social, ambiental e de governança. O que precisamos é descolar a nossa atividade da discussão sobre a floresta amazônica”.

Missão - “O que está acontecendo do outro lado, grandes grupos estão se unindo. Temos que ter um olhar para esses movimentos das grandes corporações. Por isso estamos organizando uma grande missão para Iowa nos Estados Unidos, um estado muito parecido com o Paraná em termos de produção agrícola”, acrescentou.

Conectividade - Outro tema abordado por ele foi sobre conectividade. “No passado, tínhamos um problema de energia, vocês lembram? Até tomávamos banho frio em pleno inverno lá no sítio. Mas o que fizemos? Criamos as cooperativas de eletrificação. Com o problema da falta de conectividade, temos que buscar solução. Conectividade é a eletricidade da década de 1960 e 1970. Vamos nos organizar, nos unir e fazer com que as cooperativas também entrem nesse negócio e ganhem dinheiro. Conectividade hoje é ouro. Vamos colocar antenas em todas as regiões do país. O campo quer isso urgente. Se formos esperar que alguém faça ficaremos também reféns em tecnologia. Os jovens estão voltando para o campo, a Covid contribuiu para isso com a digitalização das informações. Eles levaram a tecnologia para seus pais. Nosso campo está rejuvenescendo, mas sem conectividade, eles não ficarão lá”, alertou. Hermann frisou que a média de idade no campo brasileira é inferior de outros países. “Na Europa ,a média é 62 anos, Estados Unidos 58 e aqui no Brasil é apenas 46 anos”.]

FOTOS: Hidalgo José

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