FÓRUM DOS PRESIDENTES III: Último painel do segundo dia debateu infraestrutura e logística
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Para mediar o quarto e último painel do Fórum dos Presidentes, realizado na sexta-feira (15/06), em Foz do Iguaçu, foi escolhido Darci Hartmann, presidente da Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs), uma das entidades apoiadoras do evento. Além dele, participaram da mesa de debates, Jonas Mendes Constante, diretor de projetos e consultor sênior em Estratégia e Inovação Portuária na Espanha; Dilvo Grolli, presidente da Cotriguaçu e Coopavel; e Luiz Fernando Garcia da Silva, presidente da Associação dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa).
Alianças - Ao realizar a abertura do painel, Darci Hartmann destacou que a proposta do evento é “fortalecer o relacionamento entre as cooperativas brasileiras presentes e as cooperativas europeias, em especial da Espanha, que tem sido uma grande consumidora dos produtos agro do Brasil. Temos que aproveitar os pontos que nos convergem, que nos unem, e transformar tudo isso em parceria, alianças”. O dirigente gaúcho disse que “não podemos mais andar a passo de tartaruga na questão da logística e infraestrutura. O sistema tem pressa e já perdemos tempo demais em alguns pontos, precisamos conversar mais para chegarmos a um consenso para irmos em frente, por isso convidamos três grandes especialistas na área para falar a respeito aqui hoje, um deles representante do principal porto espanhol”. Hartmann afirmou que no Rio Grande do Sul, apesar da boa vontade do governo estadual, “estamos brigando há seis anos para poder ampliar a malha ferroviária. Precisamos mais do que urgente avançar na logística, sob pena de pagarmos um preço alto no futuro”.
Força da União - Dilvo Grolli falou sobre o trabalho realizado pela Cotriguaçu, central fundada em 1975 e que reúne quatro cooperativas singulares da região Oeste do Paraná, C.Vale, Coopavel, Copacol e Lar, e que, juntas, foram responsáveis por uma movimentação econômica de R$ 58,6 bilhões, em 2022, o que correspondeu a 35% do total no estado, exportaram US$ 3,7 bilhões ano e empregaram 61 mil pessoas.
Cotriguaçu - A central tem sua sede administrativa em Cascavel, onde também estão localizados o armazém graneleiro e a câmara frigorífica. “Devido à sua localização geográfica, Cascavel é um importante polo de atração de cargas do Paraná e, os investimentos realizados pelas cooperativas no moderno terminal logístico, possibilitaram que a Cotriguaçu realizasse, entre os meses de janeiro e março deste ano, uma movimentação recorde de 3.541 contêineres até Paranaguá por via férrea, o que corresponde a 42% da participação total do estado, que foi de 8.346 contêineres”, frisou Grolli.
Estrutura - Na região Oeste, além da sede e do terminal localizado estrategicamente às margens da BR 277, em Cascavel, a Cotriguaçu possui um moinho de trigo, em Palotina. “Hoje, a central é a segunda maior empresa em operação no Porto de Paranaguá, responsável pela exportação das cooperativas filiadas de 3 milhões de toneladas de embarque de grãos em 2023”, disse. O dirigente destacou que cerca de 69% do destino da soja do Brasil é a China, ficando a Espanha com a segunda colocação, com apenas 4% do total. Já em relação ao milho, a Espanha é a terceira colocada, com 11%, tendo à frente Irã e Japão, com 15% e 12%, respectivamente. Então, temos um espaço muito grande para crescer ainda”, ressaltou Grolli.
Eficiência- O dirigente cooperativista afirmou que os produtores são extremamente eficientes da porteira para dentro e que as cooperativas cumprem com seu papel de receber, armazenar e industrializar e comercializar, “só que, no meio do caminho, temos muitos gargalos, entre os quais o de infraestrutura e logística”. “Para se ter uma ideia” – conta Grolli -, “em termos de custo de transporte, estamos atrás da Argentina, onde o valor por tonelada transportada é de US$ 43, enquanto no Paraná é de US$ 50 e no Brasil de US$ 70 por tonelada”, destacou. Ele completa afirmando que “são necessários pesados investimentos no setor para que possamos desenvolver ainda mais a agropecuária como o cooperativismo no estado”. Ele lembrou que o Paraná, mesmo tendo apenas 3,6% de área do território brasileiro, 199.315 quilômetros quadrados, produzirá nesta safra mais de 45 milhões de toneladas, o que comprova nossa alta produtividade.
Cooperativismo - As cooperativas paranaenses respondem por 64% da produção do estado, sendo 70% na produção de soja, 62% do milho, 55% do trigo, 56% dos suínos, 44% do frango, 35% do leite e 30% do peixe. “Somos hoje 61 cooperativas agropecuárias, que exportam anualmente US$ 7,5 bilhões. As cooperativas foram muito visionárias, empreendedoras, estrategistas pensando em longo prazo, transformando grãos em carne”.
Sustentáveis - Sobre as constantes críticas que o setor produtivo vem recebendo a respeito da preservação ambiental, Grolli fez um apelo aos participantes do Fórum: “não falem mal do Brasil, somos o único país do mundo que preserva 60% do seu território. Preservamos 41% da floresta amazônica. No Paraná, 28% de suas terras são preservadas, a lei exige 20%, portanto, é grande a responsabilidade dos líderes do agronegócio neste momento”. Ele encerrou sua fala tocando num ponto importante na questão da infraestrutura e logística. Grolli lembrou que, “infelizmente os governos passados investiram em rodovias antes de fortalecer nossas ferrovias, que já eram precárias. Geograficamente, nossos principais rios nascem no sentido contrário da origem dos produtos agrícolas, ou seja, eles descem para o interior e, no caminho, temos várias hidrelétricas. Então, não conseguimos pensar no modal hidroviário para Paranaguá. Temos que pensar em ferrovia. Por isso, precisamos rever todo nosso modal de transportes”.
Porto de Valência - Jonas Mendes Constante, representante do Valência Portos, da Espanha, disse que o porto espanhol pode servir de modelo para o setor brasileiro. Segundo ele, um dos principais motivos é o foco em planejamento, muito antes da carga chegar, citando inúmeros exemplos de investimentos realizados ao logo de décadas. “Hoje é o principal porto espanhol é conhecido pela sua alta conectividade. Se não tivermos navios lá, nada acontece. Conectividade a que me refiro é isso, trazer navios para o porto e atender no menor espaço de tempo”, frisou. Toda essa estrutura pensada e construída permitiu que Valência passasse em 25 anos, da movimentação anual de 300 mil TEUs (Twenty-Foot Equivalent Unit), para 6 milhões de TEUs, preparado para chegar a 10 milhões, transformando-o no quarto maior porto da Europa.
Relevância - Constante afirma que é necessário manter o Porto de Valência como hub principal. “Que tipo de posicionamento o seu porto tem que ter? – pergunta o especialista - Se ele não for o principal porto exportador, seus clientes irão pagar um frete maior”, responde. É uma questão de posicionamento estratégico. Por isso é necessário investir em inovação tecnológica. “Há 20 anos tivemos a automatização das operações portuários e agora passamos por outra onda inovadora que são o uso de drones, robôs e inteligência artificial para facilitar a vida dos exportadores e estar na frente dos competidores internacionais”, lembra.
Sistema único - Mas Constante afirma que não basta apenas investir em alta tecnologia. “É preciso capacitar as pessoas. Para o embarcador, dono da carga, o porto são todos os atores que operam aquela carga, desde o prático, o armador, autoridade portuária, inspeção. Se eles não se sentam para trabalhar de forma coordenada não vou conseguir entregar um bom serviço. Por mais que seja o melhor porto do mundo. No final do dia o gargalo vai estar ali. A qualidade global do serviço dependo do envolvimento de todos. Por isso, precisamos definir regras comuns e operar um mesmo sistema, sincronizado. Você tem todos seus atores cada um com seu sistema, e esses sistemas não se conversam. Lá, trabalhamos com um único sistema o que garante transparência, visibilidade e garante a entrega da carga no final dia, com excelência e eficiência”, disse.
Interação - Ele destaca que a formação das pessoas, a capacitação para trabalhar de forma conjunta e entender todo o processo, é fundamental. “Não conseguimos se as pessoas não estiverem capacitadas”. Constante também fala sobre a importância de o Porto respeitar as pessoas no entorno. “Outro elemento é do porto com a cidade. Valência é bem emblemático, e mesmo assim existe um debate o quanto o porto poder expandir ou não. Investimos em ações para a cidade onde está localizado o porto. Tem um papel crucial para que tenhamos uma gestão partilhada com a cidade, com a comunidade, sempre procurando dialogar com todos os personagens para amenizar possíveis conflitos de interesse”.
Modais - “Outro detalhe importante é investir em serviços de transporte ferroviário. Tirar caminhões do trajeto, melhorar a logística. Hoje temos 80 serviços semanais de trens chegando no porto com carga de vários destinos da Espanha. Temos investido cada vez mais em Portos Secos em todo o país. Temos uma área em Madrid e Saragoça e investindo em outros locais para desafogar o porto principal. Cerca de 99% das operações estão registradas no PCS, sistema de controle do porto”.
Porto inovador - “Na questão ambiental, estamos com zero emissão líquidas”. Ele informou que o primeiro porto no Brasil a ter um selo Ecoport foi o de Paranaguá, recentemente. “Hoje, com o ESG, um diferencial importante em termos de sustentabilidade”. Este selo é certificado pela Fundação Valencia Port.
Porto de Paranaguá - Luiz Fernando Garcia da Silva, presidente da Associação dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) disse que a Fundação Valência Portos “é uma importante parceira do nosso porto, com quem temos trocado muitas informações e experiências”. Hoje, os portos de Paranaguá e Antonina têm área de abrangência no Paraná, Norte de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Mato Grosso, Goiás e Paraguai. “De Santos estamos a 450 km, são quatro horas de navegação, de Santa Catarina 100 km, duas horas. Nossa posição nos assusta, mas nos estimula, pois estamos próximos a outros importantes embarcadores. Se o Paraná não for eficiente, os nossos clientes encontrarão alternativas. Nos estimula a pensar cada vez mais em eficiência”, frisou.
Ranking - Os principais destinos e origens dos produtos exportados por Paranaguá são China, responsável por 60% dos embarques. “Hoje, 30% dos fertilizantes que entram no país passam pelos portos paranaenses”, disse. Primeiro lugar em exportação de óleo vegetal e frango congelado, fertilizantes e capacidade de movimentação de contêineres. Segundo em movimentação geral, exportação de soja, açúcar, carne, papel, álcool, movimentação de contêineres e veículos. “Para podermos manter essa excelência, foram investidos R$ 403 milhões em dragagem e 26 milhões em derrocagem, além de R$ 1,07 bilhão em concessão do canal de acesso”.
Logística - Para o dirigente da Appa, investir em pilares de gestão é importante para fortalecer as ações prioritárias no Porto. Segundo ele, esses investimentos passam pela melhoria dos acessos terrestres, ferrovias e rodovias. Segundo Luiz Fernando, “os novos lotes das concessões de rodovias são prioridades do governo. Esperamos que ajude na logística, para fazer com que a carga chegue de forma mais rápida. E, com boas perspectivas ferroviárias, como a malha sul, que vem do Norte, com 7.223 km, e a malha paranaense com 2,4 mil km e a nova Ferroeste, com 1.567 km, que envolve os estados do Paraná, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. E, para atender o projeto da Nova Ferroeste, serão investidos R$ 593 milhões no Moegão, uma das obras mais caras da história do Porto de Paranaguá”, disse. Este novo Moegão prevê 180 vagões simultâneos, três linhas independentes e 11 terminais interligados. Redução no número de passagens de nível e interferências do trilho do trem no modal rodoviário. Atualmente, 78% de todos os produtos recebidos pelos portos paranaenses vem pelo modal rodoviário, apenas 19,3% por trem e 2,7% por oleoduto. Em 2022, foram 391 caminhões recebidos no Pátio Público de Triagem. A ideia, segundo Luiz Fernando, é reduzir para 700 caminhões dia. Ele lembra que a última inovação que aconteceu no meio portuário mundial foi a caixa de metal para exportar: os contêineres, “um dos maiores passos inovadores do mundo”.
Meio ambiente - “Não posso deixar de destacar a nossa excelência em sustentabilidade. Recebemos recentemente um selo da ONU, único porto do Brasil com certificação PERS, e com investimentos de R$ 62 milhões em contratos permanentes na área ambiental. Firmamos uma parceria inédita com Porto de Roterdã sobre hidrogênio verde. Em conjunto com todos os parceiros que operam em nossos portos, estamos realizando um trabalho para atender os interesses de nossos clientes e sabemos da importância que o agronegócio tem nesse cenário todo, afinal, sustentar um terço do PIB brasileiro tem que ser muito eficiente como é a agricultura e as nossas cooperativas”, finalizou.
FOTOS: Hidalgo José