ECONOMIA: Inflação no agronegócio

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Nos últimos anos, formou-se um consenso entre os economistas: o de que a inflação estaria sendo aniquilada em todos os cantos do mundo. A queda das barreiras comerciais, a disciplina dos bancos centrais e a transformação da China na grande base manufatureira global estariam criando pressões permanentes de redução de preços. Os estudiosos só se esqueceram de um detalhe. Há setores da economia em que a oferta de produtos é limitada por fatores naturais. E hoje são justamente esses segmentos, antes chamados pejorativamente de commodities, que estão fazendo o velho dragão renascer sob uma outra forma. Agora, o que assusta o mundo é a chamada agroinflação, que já afeta até o planejamento de grandes multinacionais.

Repercussão - Dias atrás, a anglo-holandesa Unilever, que é a terceira maior produtora de alimentos do mundo, anunciou a demissão de 20 mil funcionários e a reorganização de suas bases produtivas. O motivo: a alta de custo dos principais insumos, que são as commodities agrícolas. Antes da Unilever, foi a Nestlé que fez soar o alerta. “O mundo deve se preparar para um ciclo de alta duradouro dos preços de alimentos”, disse Peter Brabeck, CEO da multinacional suíça, ao inaugurar uma nova fábrica na China. Para superar o problema, a Nestlé decidiu reforçar as linhas de produto em que sua marca é mais reconhecida e onde a empresa, portanto, tem vantagens competitivas. 25% foi a alta do leite nos últimos três meses. 30% foi quanto subiu a arroba do boi no Brasil em um ano. 50% foi a alta nas cotações do trigo em 12 meses.160% foi a valorização do milho em um ano

Tendência - Essa nova “agroinflação” é um fenômeno diretamente relacionado com o Brasil. O aspecto positivo, visível nos números da balança comercial, é o show de exportações do agronegócio. Apesar do câmbio desfavorável, os produtores rurais deverão exportar US$ 45 bilhões neste ano – isso significa que praticamente 100% do superávit brasileiro vem do campo e está ancorado, naturalmente, ao ciclo de alta das commodities. O aspecto negativo é a alta de preços de algumas mercadorias – nas últimas semanas, os consumidores sentiram no bolso a elevação de produtos como a carne, o leite e mesmo o macarrão, em função da alta nas cotações internacionais do trigo. Dias atrás, a Fundação Getúlio Vargas divulgou que a inflação medida pelo IGP-M acelerou em julho, pressionada pela alta de 1,23% nos preços dos alimentos. “Estamos entrando num ciclo indefinido de aumentos”, afirma Fábio Meirelles, presidente da Confederação Nacional da Agricultura.

Biocombustíveis - No entanto, ao mesmo tempo em que os produtores lucram exportando commodities, o Brasil começa a enfrentar críticas cada vez maiores em função de um outro fenômeno, que também pressiona os preços dos grãos. Trata-se da febre do etanol. Como os alimentos e a cana “competem” pelo mesmo bem escasso, que é a terra, a onda dos biocombustíveis tem jogado mais lenha na fogueira. Em Roma, no início do julho, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação divulgou um estudo no qual prevê que os biocombustíveis terão forte impacto na agricultura na próxima década, levando o custo dos grãos a um aumento de até 50%. Nos Estados Unidos, os preços do milho dispararam depois que o presidente George W. Bush deu impulso ao seu gigantesco programa de etanol. No México, houve até uma rebelião, a “revolta da tortilla”, em função também da alta do milho.

Zoneamento - No Brasil, a competição entre alimentos e combustíveis ocorre em várias regiões. Dados do levantamento da safra 2006/2007, feito pela Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab, apontam a expansão da cultura da cana-de-açúcar em Minas Gerais, onde houve um aumento de 16,8% na área plantada, em Mato Grosso do Sul, com 18%, e no Paraná, com 25%. “Efetivamente, a cana está tomando área do milho e da soja”, analisa Sílvio Porto, diretor de Logística e Gestão Empresarial da Conab. É a primeira vez que um técnico do governo reconhece a pressão que a expansão da cultura exerce sobre as áreas produtoras de grãos. O alerta interno fez o Ministério da Agricultura montar uma operação para frear o processo que já bate às portas da região da Amazônia Legal. “Dentro de um ano deveremos ter pronto o zoneamento para a plantação da cana”, disse o ministro Reinhold Stephanes à Revista Isto É Dinheiro. (Revista Isto É Dinheiro)

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