ENERGIA: Copel firma primeiros contratos para compra de eletricidade gerada de biogás

  • Artigos em destaque na home: Nenhum

A Copel firmou nesta terça-feira (3/01) os primeiros contratos no setor elétrico brasileiro para aquisição de energia elétrica produzida a partir da biodigestão de resíduos orgânicos. São seis contratos que totalizam potência de até 524 kW (quilowatts), energia suficiente ao atendimento de uma centena de moradias de padrão médio, que será fornecida por quatro produtores: Sanepar, Cooperativa Lar, Granja Colombari e Star Milk. Os contratos têm vigência até o final do ano de 2012. Estiveram presentes na solenidade de assinatura os presidentes da Copel, Rubens Ghilardi, da Sanepar, Stênio Jacob, o secretário da Agricultura e do Abastecimento, Valter Bianchini, e o diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek, além de diretores dessas empresas.

Estímulo - O pioneirismo da Copel, no entendimento do seu presidente Rubens Ghilardi, deverá estimular outros produtores rurais a fazerem o mesmo, já que faltava a eles um mecanismo que lhes permitisse negociar seus eventuais excedentes de geração. "O uso de biodigestores não é, a rigor, uma prática nova, mas ter a garantia de que alguém comprará os excedentes da eletricidade que gerar pode motivar a adesão de outros produtores rurais", raciocina Ghilardi. "E quem sai ganhando com isso, em primeiro lugar, é o meio ambiente, com a retenção de efluentes que poderiam vir a comprometer os cursos d'água".

Abrindo caminho - O presidente da Copel acredita que o exemplo do Paraná possa ser seguido por outros estados brasileiros. "Num trabalho realizado em conjunto com a Itaipu Binacional, Secretaria da Agricultura e Sanepar, abrimos caminho para o que poderá ser uma excelente oportunidade de fortalecimento e aumento de renda dos produtores rurais, que além de produzirem a eletricidade necessária ao seu próprio consumo e ter garantia de compra dos eventuais excedentes, agregarão sustentabilidade ao seu negócio e poderão, até mesmo, conseguir futuramente autorização para emitir e comercializar títulos de créditos de carbono".

Redes - A idéia de estender a possibilidade de gerar eletricidade a partir da biodigestão em pequenas propriedades rurais já começou a ser trabalhada pelo secretário da Agricultura e Abastecimento, Valter Bianchini. Na cerimônia de assinatura dos contratos, ele mencionou a possibilidade de constituir redes de pequenos produtores que, em regime de associação, construiriam e operariam um sistema capaz de converter biomassa em eletricidade. "O nosso objetivo é preparar os produtores rurais paranaenses para que eles possam ser cada vez mais sustentáveis", afirmou o secretário. "Com água mais limpa e solo mais rico, nossos agricultores e produtores rurais se fortalecem e o Paraná cresce".

Pioneirismo - O diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek, enalteceu "mais um episódio de pioneirismo oferecido pela Copel e pelo Paraná ao país" ao observar que no mundo, tradicionalmente, a produção de energia é uma atividade concentrada. "Estamos quebrando um paradigma no Paraná ao desconcentrar a geração de eletricidade, permitindo que produtores rurais gerem eles próprios o suficiente ao seu consumo e vendam o excedente, quando houver", disse. "Esse conceito tem tudo a ver com sustentabilidade, pois nessas propriedades será gerada uma energia limpa, renovável e que fará bem à preservação do meio ambiente por reter e processar resíduos que, em estado natural, seriam altamente nocivos".

Os contratos - Foram selecionados e contratados em decorrência da chamada pública feita no início do ano pela Copel os seguintes produtores de energia elétrica: Sanepar (potência de 20 kW na usina termelétrica associada à estação de tratamento Ouro Verde, em Foz do Iguaçu), Granja Colombari (potência de 32 kW em São Miguel do Iguaçu), Star Milk (potência de 32 kW na Fazenda Iguaçu, em Céu Azul) e a Cooperativa Lar - esta, com contratos a partir de três plantas industriais: de aves em Matelândia (160 kW), de suínos em Itaipulândia (240 kW) e de vegetais em Foz do Iguaçu (40 kW).

Testes - A iniciativa pioneira da Copel tem respaldo em autorização concedida no final de julho de 2008 pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), como resultado de testes bem sucedidos feitos pela Copel - em parceria com a Itaipu Binacional - numa propriedade rural dedicada à suinocultura em São Miguel do Iguaçu, no oeste do Paraná - a Granja Colombari. Os ensaios e experiências tiveram início em 2007 com o propósito de estudar a viabilidade técnica e econômica de implantação de biodigestores em propriedades rurais dedicadas à suinocultura para, com o gás metano produzido pela decomposição da matéria orgânica coletada, gerar eletricidade para consumo na própria instalação e, até, para venda de excedentes à distribuidora local dos serviços.

Sustentabilidade - "Além de criar uma receita adicional aos produtores rurais e reforçar as disponibilidades de energia elétrica para atendimento ao mercado consumidor, o aproveitamento dos dejetos em câmaras biodigestoras ajuda a preservar os recursos naturais, fato que traduz exemplarmente o compromisso da Copel em favor da sustentabilidade", reforçou Rubens Ghilardi.

Segurança - Os projetos de geração descentralizada no meio rural historicamente esbarravam num sério problema de ordem operacional e de segurança: a geração em paralelo com as redes de distribuição da concessionária exporia os eletricistas ao risco de acidentes. Pois esse foi o principal trabalho das equipes de técnicos e engenheiros da Copel no projeto piloto realizado em São Miguel do Iguaçu, numa granja onde são mantidos cerca de 3 mil suínos: desenvolver um sistema simples, eficaz e de baixo custo que gerenciasse e compatibilizasse a geração de eletricidade pelo produtor rural com os requisitos de segurança da concessionária para evitar acidentes com eletricistas e demais encarregados de operar e manter as redes de distribuição.

Nutriente - O principal problema ambiental decorrente da criação de suínos é que seus dejetos são muito ricos em fósforo, que vem a ser justamente o principal nutriente das chamadas "algas azuis", um tipo de floração que contamina e deteriora a água e que pode, se ingerida ou mesmo pelo contato, causar sérios problemas à saúde de pessoas e de animais. Para diminuir ou até eliminar esse problema, a alternativa mais lógica é evitar que tais resíduos cheguem aos cursos d'água. E isso pode ser feito de forma eficiente e produtiva mantendo esse material orgânico enclausurado, confinado em câmaras de biodigestão, onde ele se decompõe produzindo metano. Esse gás, altamente combustível, pode ser usado para aquecer água, produzir vapor e movimentar um gerador de eletricidade. (AEN)

Conteúdos Relacionados