Viagem de imersão

  • Artigos em destaque na home: Nenhum

Nesta edição do informe publicamos a 3ª reportagem produzida pelos profissionais da imprensa que participaram da viagem de imersão durante o Fórum de Jornalistas e Comunicadores das Cooperativas do Paraná, realizado nos dias 28 e 29, em Campo Mourão. A reportagem que publicamos a seguir foi produzida pelo jornalista Norberto Staviski, do jornal “Gazeta Mercantil”.

Cooperativas agrícolas confiam no 2º semestre
Apesar da crise que ronda a agricultor e das projeções de queda de faturamento e retração de plantio, as cooperativas do Paraná não pretendem interromper seus planos de investimentos. Capitalizadas após três anos consecutivos de bons preços agrícolas e revigoradas com o pacote do governo de refinanciamento das dividas rurais, as cooperativas pretendem manter seus investimentos em infra-estrutura. “O primeiro semestre, é verdade, não foi bom. Mas esperamos uma recuperação de preços na metade do ano. com isso, apesar da crise, nosso faturamento deverá se manter em R$ 1,2 bilhão, o mesmo do ano passado”, diz Celso Carlos Santos júnior, superintende comercial e industrial de uma das maiores cooperativas do Brasil, a Cocamar Cooperativa Agroindustrial, de Maringá, no noroeste do Paraná.

Planos de expansão - A Coamo Agroindustrial, de Campo Mourão (PR), está construindo silo no Porto de Paranaguá para 72 mil toneladas. Com mais R$ 50 milhões, ela espera concluir cronograma iniciado em 2004 onde vai aplicar um total de R$ 140 milhões. Já a Cooperativa Agrária Mista Entre Rios tem um projeto de R$ 80 milhões em análise no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Trata-se de uma ampliação de sua maltaria, cuja capacidade passaria de 135 mil para 200 mil toneladas. O projeto inclui um programa de expansão da cultura da cevada na região graças aos bons resultados de uma nova variedade desenvolvida pela Emater que elevou de 3 toneladas para 4 toneladas a produtividade por hectare. A Cocamar, por sua vez, quer ampliar ainda mais sua presença no varejo por meio do desenvolvimento de novos produtos na sua fábrica de sucos e bebidas, principalmente à base de soja. Também está implantando um grande projeto na cultura de girassol em 1,5 mil hectares. Em 2005, a Cocamar vai investir perto de R$ 20 milhões.

Transgênicos - O plantio de transgênicos está liberado no Paraná. Calcula-se que a produção não deverá alcançar 15% da safra na maioria das regiões produtoras. "Há uma série de fatores desestimulando o plantio, como a falta de sementes e indefinição nos custos dos royalties", explica Celso Carlos dos Santos Júnior, da Cocamar. A grande novidade nesta próxima safra, contudo, é a percepção das cooperativas de que será possível iniciar a negociação com seus clientes para a cobrança de ágio para a soja convencional. "Há muita gente nos procurando para comprar soja para produtos mais elaborados. Estamos nos preparando para agregar valor à produção", diz. Em Campo Mourão, o presidente da Coamo, José Aroldo Gallassini, negocia pessoalmente com clientes europeus como o Carrefour a obtenção de melhores preços: "Teremos custos de segregação e rastreabilidade.

Melhor preço - Para compensar, o grão convencional deverá ter preço pelo menos 15% maior, para que fiquem 5% com a cooperativa e 10% para o produtor", diz. Em 2004, a Coamo exportou 1,1 milhão de toneladas a França e Alemanha, grandes consumidores de soja convencional. Como produtor, Gallassini irá plantar transgênicos pela primeira vez, mas não prevê ganhos expressivos com a soja convencional num primeiro momento. "Quando a soja transgênica representar algo como 90% da produção brasileira, aí sim o Brasil será responsável pela formação de preços para a soja convencional pela redução de sua oferta no mercado". De qualquer maneira, Gallassini informa que "pela primeira vez as cooperativas têm força para cobrar mais pela soja convencional". O plantio reduzido de soja transgênica no Paraná também é explicado por problemas com as sementes.

Pesquisa - Em Guarapuava, a 250 quilômetros de Curitiba, o diretor financeiro da cooperativa Entre Rios, Arnaldo Stock, informa que as variedades transgênicas não se adaptaram bem à altitude (1.100m) e clima frio da região. "É um problema da pesquisa porque certamente é melhor produzir sementes em maiores quantidades para áreas como o Cerrado", diz ele, que também acredita que o Brasil será um produtor de soja 89% transgênica, 10% convencional e 1% orgânica em curto prazo. Mas o resultado é que toda a produção prevista tanto para Guarapuava como Ponta Grossa deve ser convencional, porque ela é mais produtiva nestas áreas, compensando a redução de custos das geneticamente modificadas. Em 2005, a produção de transgênicos foi pequena e escoada por São Francisco do Sul (SC) e Santos (SP), uma vez que a proibição de exportação por Paranaguá pelo governo do estado continua vigorando.

Dívidas renegociadas - A combinação de baixos preços das commodities com a valorização do real e as dificuldades originadas pela seca que afetou a produção do Paraná de maneira desigual, levou as cooperativas a renegociar as dívidas dos cooperados com recursos próprios. Com a liberação de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) pelo governo federal, elas repassaram aos produtores os ganhos referentes às melhores taxas de juros destes recursos. A Coamo, por exemplo, renegociou as dividas de 3 mil dos seus 19 mil cooperados,num total de R$ 100 milhões. Essa cooperativa faturou R$ 3,9 bilhões em 2004 e espera atingir R$ 3,1 bilhões em 2005. A Cocamar que vinha crescendo 10% ao ano com um projeto de expansão da soja na área do arenito caiuá no noroeste do estado, espera apenas repetir o resultado de 2004, com um faturamento de R$ 1,2 bilhão. A Cooperativa de Entre Rios informa que seu EBITA deve cair de R$ 68 milhões em 2004 para R$ 60 milhões em 2005. (Gazeta Mercantil)

Conteúdos Relacionados