Viagem de imersão

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Nesta edição do informe publicamos a 2ª reportagem produzida pelos profissionais da imprensa que participaram da viagem de imersão durante o Fórum de Jornalistas e Comunicadores das Cooperativas do Paraná, realizado nos dias 28 e 29, em Campo Mourão. A reportagem que publicamos a seguir, foi produzida pela jornalista Marli Lima, do jornal “Valor Econômico”.

Paranaenses pedem mais por soja convencional
Para compensar os gastos a mais no plantio, segregação e pagamento de royalties, cooperativas e produtores do Paraná querem receber pelo menos 20% a mais pela soja convencional do que pela transgênica e preparam-se para cobrar essa diferença dos clientes, principalmente importadores. José Aroldo Gallassini, presidente da Coamo, de Campo Mourão - maior cooperativa agropecuária do país - informou que está negociando com compradores alemães e franceses o pagamento de adicionais pela soja convencional. Em setembro de 2004 ele esteve na Europa para falar sobre isso, mas não obteve êxito porque a oferta do grão convencional era grande no Brasil. Em outubro próximo, Gallassini fará nova incursão ao velho continente para conversar com 12 clientes. Mas, desta vez, será mais duro. "Quem quiser soja convencional terá de pagar um diferencial", disse.

Tendência - Para a safra 2005/06 a Coamo está disponibilizando 150 mil sacas de sementes transgênicas aos cooperados. Os diretores do grupo acreditam que 20% da área da cooperativa - que tem 19 mil cooperados no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul - serão cultivadas com grãos transgênicos. Gallassini disse que o adicional a ser exigido dos compradores ainda depende, em parte, dos royalties que serão cobrados dos produtores de transgênicos. Se fosse fixado um adicional de 20%, por exemplo, 15% ficariam com o agricultor e 5% com a cooperativa, para cobrir gastos com segregação. Mesmo que essa diferença seja maior, o presidente da Coamo afirmou que a tendência é de que, em dois anos, 95% da soja brasileira seja transgênica.

Segregação dos grãos - Na Cocamar, de Maringá, os diretores também estão na expectativa de que a soja convencional e seus derivados sejam negociados por preços superiores, principalmente a partir de 2006. Em 2004/05, a região ocupada por seus 7 mil cooperados tinha pouca soja transgênica, mas para 2005/06 a expectativa é de que 15% da área seja ocupada por sementes geneticamente modificadas. Assim, a cooperativa receberá tais grãos, mas vai segregá-los. "O óleo de soja convencional começa a dar sinais de que vai se valorizar", disse Celso Carlos dos Santos Júnior, superintendente comercial e industrial da Cocamar. Segundo ele, derivados como lecitina de soja (usada na fabricação de chocolate, por exemplo) já estão mais caros. A Cocamar, afirmou, está preparada segregar os grãos, mas a tarefa ficará complicada quando a produção ficar meio a meio.

Não adesão - Na Cooperativa Agrária Mista Entre Rios, de Guarapuava, a prometida redução no custo de produção ainda não animou muitos produtores a optarem pela soja transgênica. Arnaldo Stock, diretor financeiro do grupo, disse que 2,3% das lavouras dos cerca de 500 associados receberão semente modificada em 2005/06, mas esses grãos não serão industrializados. Stock também crê que é hora de cobrar mais pelo grão convencional. "Quando pedíamos mais, os clientes perguntavam o motivo, já que no Brasil só era permitido plantar convencional". Para ele, a divisão do mercado seguirá a seguinte fórmula nos próximos anos: 1% para a soja orgânica, 10% para a convencional e o restante para a transgênica.

Diversificação – As cooperativas do Paraná estão adaptando seus planejamentos estratégicos e fazendo parcerias para obter novas receitas em meio à crise no campo, provocada por preços baixos nos grãos, seca e desvalorização do dólar. A Cocamar engavetou projetos como a ampliação da unidade de sucos e a entrada na área de frangos, mas quer crescer no varejo e fabricará mais produtos a base de soja, com um iogurte, para concorrer com o Ades Yofresh, da Unilever. “Vamos completar nosso potencial de industrialização com o parque que já temos. Para outros investimentos teríamos de partir do zero”, disse o superintendente comercial e industrial, Celso Carlos dos Santos Júnior. Farináceos e vinagre de álcool estão entre as grandes novidades previstas para os mercados de são Paulo e do Sul. Além disso, a fabrica de ração será ampliada, e a Cocamar fará farinha de trigo para em moinho de terceiros. Do faturamento da Cocamar, que chegou a R$ 1,15 bilhão em 2004, apenas 15% é obtido em produtos não industrializados.

Parceria e investimento - A Coamo, que faturou R$ 3,96 bilhões no ano passado, negocia um contrato de fabricação de margarina para uma grande empresa de alimento do país, que ainda não atua no setor. Segundo o superintendente industrial Germano Ottmann, o acordo poderá ser fechado nos próximos dias. Fornecedora de malte para as maiores cervejarias do país, a Agrária, que faturou R$ 758 milhões em 2004, planeja investir R$ 80 milhões para ampliar a produção de 135 mil toneladas por ano para 200 mil toneladas. O diretor financeiro Arnaldo Stock disse que, de cada seis a sete cervejas feitas no país, uma leva o malte da cooperativa. A Agrária faz 18% do malte usado no Brasil. Stock disse que negocia com o BNDES financiamento de R$ 65 milhões para levar adiante o projeto, que demorará 18 meses para ser concluído. (Valor Econômico)

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