Uma proposta tímida para liberar o comércio agrícola
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Estados Unidos e União Européia cumpriram a promessa feita em Montreal (Canadá), em 30 de julho, e apresentaram ontem uma proposta comum com o objetivo de acelerar as negociações em torno da liberalização do comércio agrícola no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). Para os países exportadores, representados pelo Grupo de Cairns - liderado por Austrália e Brasil -, o texto é tímido e incapaz de promover avanços expressivos tanto na direção da redução de subsídios quanto no acesso a mercados. "Foi um passo bem-vindo, mas não foi suficiente", resumiu Luiz Felipe de Seixas Corrêa, chefe da delegação permanente do Brasil em Genebra, à agência Reuters. Na opinião do embaixador, as propostas das superpotências em relação a cortes de tarifas e subsídios são muito vagas.
Travando negociações - O pacto EUA-UE cobre o sensível
tripé que vem ajudando a travar a Rodada de Doha da OMC: apoio doméstico,
subsídios à exportação e acesso a mercados. Segundo
especialistas, o documento comum de três páginas de fato sinaliza
avanços nas duas últimas "pernas"; na questão
do apoio, entretanto, destaca-se a persistente indefinição quanto
à envergadura dos cortes que poderão vingar. O jornal The Wall
Street Journal informou que os Estados Unidos e a União Européia
propuseram limitar os pagamentos diretos aos agricultores em 5% do valor total
da produção agrícola, sendo que hoje não há
qualquer teto. Para o bloco europeu, a medida limitaria tais pagamentos a aproximadamente
US$ 13 bilhões a partir de 2004, quando dez novos membros serão
incorporados.
Avaliação - O documento conjunto desvincula os pagamentos
do volume de produção. A idéia é baseá-los
na extensão da área plantada. "Isso já existia na
antiga Farm Bill americana", disse Pedro de Camargo Neto, coordenador da
área internacional da Sociedade Rural Brasileira (SRB), em referência
à lei agrícola dos EUA. Jean-Yves Carfantan, consultor da área
internacional da consultoria brasileira Céleres/M.Prado, é preciso
definir o total da área que passará a ser subsidiada, para que
se possa analisar se a medida será mais ou menos vantajosa para quem
pede velocidade na liberalização. Conforme Camargo, o fato de
as superpotências terem sinalizado em sua proposta comum que não
haverá uma eliminação total dos subsídios à
exportação, com a continuidade de incentivos aos chamados "produtos
sensíveis", também é negativo. Para ele, com isso
as duas partes estão tentando tornar legais os pagamentos diretos da
chamada "caixa amarela", que engloba as políticas de apoio
interno capazes de distorcer o comércio agrícola internacional
e sujeitas a limites ao longo do tempo. "O Brasil tem de contestar esse
ponto, uma vez que torna impossível uma futura contestação
pela Cláusula de Paz", diz.