Trigo: cooperativas e produtores aguardam solução para a próxima semana
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Segundo dados da Conab, a safra de trigo neste ano deverá ser 76% maior do que o ano anterior, passando dos 2,9 milhões de toneladas para aproximadamente 5,1 milhões de toneladas. Deste total, o Paraná será responsável por aproximadamente 55% da produção nacional, ou seja, cerca de 2,8 milhões toneladas.
Ocorre que, com aproximadamente 80% da safra paranaense já colhida, o mercado está paralisado há mais de 15 dias, devido a um impasse entre produtores, cooperativas e moinhos da região Sul. Para resolver esta situação, foi realizada na sede da Ocepar - Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná, nesta sexta-feira (17), uma reunião da cadeia produtiva do trigo, que contou com a presença de representantes das cooperativas, produtores, indústria moageira, coordenada pelo Ministério da Fazenda, através do assessor especial, José Gerardo Fontelles e do Diretor de Abastecimento do Ministério da Agricultura, José Maria dos Anjos.
Nesta reunião, cooperativas e produtores do Paraná e do Rio Grande do Sul, afirmaram que os moinhos estão pagando pelo produto nacional, um preço bem abaixo da paridade do produto importado da Argentina. Na avaliação do presidente da Ocepar, a reunião foi válida, na medida que reuniu todos os interessados em torno de uma mesma mesa para discutir a situação. Segundo o presidente da Ocepar, João Paulo Koslovski, é importante ressaltar "que nesta reunião houve um consenso que deve haver a adoção imediata de algumas medidas pelo governo federal, para que seja retomada a comercialização do trigo que está sendo colhido, não só no Paraná, mas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina também. Nós entendemos que o restabelecimento do contrato de opção, alocação de recursos para LEC - Linha Especial de Crédito para comercialização, mais recursos de EGF e AGF e também o alongamento do custeio para que possamos dar tranqüilidade ao produtor e possibilitar o restabelecimento dessa comercialização que está paralisada", destacou. Koslovski disse que foi dado um prazo até a próxima terça-feira, dia 21, para que tanto o Ministério da Fazenda como da Agricultura se manifeste sobre as reivindicações apresentadas. "Caso contrário organizaremos uma caravana de representantes da cadeia produtiva para irmos até a Brasília pressionar por uma solução rápida", frisou.
Já o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo) se comprometeu convocar uma reunião para a próxima semana com a indústria moageira para estudar sobre o pedido de ser pago pela tonelada do trigo nacional o mesmo preço de paridade do trigo importado. "As medidas aqui discutidas podem dar um alívio e tirar um pouco desse nervosismo do mercado - afirma Guth - Hoje, os moinhos estão pagando próximo da paridade do preço do trigo argentino - nós vamos procurar manter isso e vou fazer um apelo para chegarmos mais perto. Evidentemente eu também falei dos problemas que fazem com que nós não possamos pagar mais pelo trigo nacional, que é o benefício fiscal dado pela Argentina à exportação da sua farinha, que vem mascarada, chamada de pré-mistura, que concorre deslealmente com os moinhos brasileiros e em conseqüência faz com que haja uma padronização, um balizamento para baixo das nossas farinhas, fazendo com que os moinhos não possam pagar mais pelo trigo nacional", afirmou Roland Guth.
Para o diretor de Abastecimento do Ministério da Agricultura, José Maria dos Anjos, a reunião foi importante pela participação do governo, de representantes da produção e da indústria. Ele lembrou de um protocolo que foi assinado no passado, no sentido de garantir pelo menos 50% da produção. "Isso estava previsto para acontecer em 2006, mas já ocorreu em 2003. Então, do lado da produção foi ótimo. Mas tinha um outro lado, que era o compromisso dos moinhos de pagar pelo menos a paridade de importação ao trigo nacional, o que não está acontecendo", lembrou.
José Maria diz que leva para Brasília as reivindicações e que até a próxima semana o governo federal deverá se posicionar a respeito. "Foram reivindicações diversas, no sentido de o governo entrar com instrumentos de comercialização. Alguns já estão disponíveis, e o governo pode utilizar no momento que desejar e outras já estão normatizadas. Vamos levar essas reivindicações à Brasília para tentar aprovar no período de tempo mais curto possível. Eu acho que o desestímulo dos produtores é uma preocupação do governo, mas somos otimistas, pois com todos esses encaminhamentos que estamos tentando colocar em prática o mercado irá voltar ao normal e o produtor vai sentir-se estimulado a continuar plantando trigo", frisou o diretor do Mapa.
Reivindicações
apresentadas pela cadeia produtiva e que aguardam uma posição
até a próxima semana:
1. Lançamento imediato do contrato de opção de venda, tendo
como objetivo sinalizar uma trajetória de preço para o mercado.
Esses contratos com liquidação a partir de janeiro, podendo ser
antecipados para dezembro de 2003. Lembrando que há necessidade de um
volume significativo para interferir no mercado, bem como o preço de
liquidação do contrato com base na paridade do produto importado.
2. LEC - Linha Especial de Crédito a comercialização. Instrumento
que agiliza o financiamento de estocagem, baseado o preço de mercado
do produto e não no preço mínimo.
3. AGF - Aquisição do Governo Federal para o trigo produzido por
pequenos produtores a preço de mercado.
4. EGF - Empréstimo do Governo Federal. Instrumento que já está
disponível para os produtores e cooperativas. Aumentar o limite de recursos
por tomador.
5. Caracterização da pré-mistura importada, criando regras
para coibir a entrada de farinha "maquiada" (adição
de 0,3% de sal), que paga imposto de exportação na Argentina de
apenas 5%, enquanto que para a farinha e o grão de trigo este imposto
é de 20%.