Transgênicos: Vantagens para a ciência e para o homem

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Contribuindo para o esclarecimento da sociedade sobre o tema os transgênicos, o jornal Gazeta do Povo desse domingo (10/10) traz uma entrevista com o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Francisco Aragão. Além disso, em seu editorial “A legalidade dos transgênicos”, defende a livre opção, pelos agricultores, de plantar soja transgênica. “Impedir ou dificultar a produção transgênica significa colocar o produtor paranaense em um impasse, pois, contraditoriamente, contará com a proteção legal prometida pelo governo federal. É de se imaginar, assim, que a decisão do governo estadual venha a ser judicialmente contestada, gerando novos impasses e mais prejuízos. Vencer o radicalismo e encontrar o ponto de equilíbrio na condução deste assunto será, pois, a mais benéfica solução para todos”, afirma o editorial. Adiante, na íntegra, a transcrição da entrevista do pesquisador da Embrapa ao jornalista Guilherme Voitch, da Gazeta do Povo.


Ponto de Vista:


"Não adianta fechar as portas"

O engenheiro agrônomo Francisco Aragão, 39 anos, é um defensor da Lei de Biossegurança, recentemente aprovada no Senado. PhD em Biologia Molecular pela Universidade de Brasília e pesquisador do Centro de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa desde 1989, ele diz que as críticas de entidades como o Greenpeace são absurdas, que a CTN-Bio é o órgão mais indicado para cuidar das patentes dos organismos geneticamente modificados e que o estado tem de investir no setor. Em entrevista à Gazeta do Povo ele é claro. “Fechar as portas não é o caminho. O setor público tem de investir, gerar concorrência em favor dos agricultores”.

Gazeta do Povo – Como o senhor vê a aprovação da Lei de Biossegurança no Senado Federal?

Francisco Aragão – No Senado houve uma discussão boa científica. O texto foi discutido em três comissões. Em todas elas aconteceram audiências públicas em que pesquisadores de várias instituições participaram. Foi uma discussão que deu subsídios aos senadores na questão agrícola e da utilização de células-tronco. O texto trouxe um avanço muito grande. Do ponto de vista da pesquisa vai resolver um problema que vínhamos enfrentando nos últimos quatro anos. Nós sofremos prejuízos muito grandes com a falta de uma legislação clara. Tivemos experimentos que ficaram paralisados. Os testes de resistência a vírus com o do feijão, por exemplo, ficou quatro anos paralisado sem condições de fazer experimentos no campo. Alguns experimentos não tinham licença para funcionamento nem mesmo em estufas. Isso acontecia por decisões judicais a partir de normas pouco claras. Do ponto de vista da comercialização, acho que a lei coloca a decisão no órgão que é hoje realmente competente para fazer uma análise desse tipo que é a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTN-Bio).

Gazeta do Povo - No aspecto econômico dos transgênicos, como o senhor vê a afirmação de que a agricultura brasileira pode ficar refém das multinacionais donas das patentes?

Francisco Aragão - Você tem duas maneiras de tentar minimizar esse problema. A primeira já se mostrou inviável que é tentar barrar de qualquer forma a entrada das sementes, tentar dizer que aqui nada entra. O Brasil deu o exemplo de que isso é inviável. A segunda alternativa é investir no setor público, que é, por exemplo, o que tem feito a China. Investindo, a Embrapa disponibilizaria a patente cobrando royalties. A solução é investimento no setor público. As universidades têm capacidade para fazer isso. O Brasil tem capacidade de fazer isso porque investiu em pessoal. Achar que as multinacionais vão nos dominar é uma demonstração de falta de auto-estima.

Gazeta do Povo – Quais os atuais projetos da Embrapa na questão dos transgênicos?

Francisco Aragão - Hoje a Embrapa tem projetos com 13 espécies. Modificamos plantas importantes para a agricultura. Tanto para a agricultura em larga escala quanto para a agricltura familiar. Modificamos variedades de algodão, feijão, soja, batata, mamão, tomate, alface, cacau, milho e café. A Embrapa está trabalhando, em parceria com uma empresa, para desenvolver resistência a um outro herbicida que não o glifosato (da Monsanto). Dentro de um tempo não teremos só a soja da Monsanto. Teremos a competição em semente e herbicida.

Gazeta do Povo – E a questão do mercado? Os países que não compram os transgênicos?

Francisco Aragão - É uma questão complexa de informação e de mercado. Haverá mercado para a soja não transgênica e isso é bom. Mas tem que ter alguém disposto a pagar mais. E esse não é um grande mercado. O grande mercado vai ser por qualquer tipo de soja. Existem hoje alguns nichos que não compram a soja transgência. Mas isso vai desaparecer. Tem também a questão da informação. O leigo, a pessoa comum, não sabe em quem confiar.

Gazeta do Povo – O agricultor também fica confuso diante desse mercado?

Francisco Aragão - É, mas a gente escuta coisas do próprio Greenpeace que são absurdas. Dizer que o agricultor está perdendo dinheiro plantando soja transgência é chamar o produtor rural de ignorante e burro. Ou dizem que estão ganhando dinheiro agora, mas depois vão ser explorados pela Monsanto. Se isso acontecer, planta-se não transgênico novamente.

Gazeta do Povo – O senhor acha que o governo deve esperar a decisão da Câmara ou editar uma nova medida provisória?

Francisco Aragão - Eu acredito que o governo vá editar uma nova MP. Não acho que a votação na Câmara vá ser rápida. E acredito que o governo esteja bem à vontade para editar uma MP porque isso foi aprovado no Senado.

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