SEM AGROTÓXICO III: Agricultores dizem estar preparados e planejam aumentar a produção

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A legalização dos orgânicos dá segurança para quem quer investir no setor. A família Escher, de Campo Magro, é um exemplo. Eles atuam numa área de 6 hectares há nove anos e agora vão ampliar o cultivo. Compraram um terreno o dobro maior na mesma região em parceria com um empresário. "Vamos tomar conta da área e, em troca, ficar com a renda da produção orgânica", conta animado Adelmo Escher, que é também feirante em Curitiba.

Agregar valor - Feijão, milho, verduras, leite e processados orgânicos retirados dos 6 hectares garantem dois dias de feira por semana e dá trabalho também à sua esposa, Maria Salete, e aos filhos Juliano e Luciano. Com nove vagas e uma pequena agroindústria na propriedade, Adelmo conta que a tendência é agregar valor à produção. Sua intenção é firmar o negócio para garantir renda aos filhos no futuro. Para isso, avalia, não poderá abrir mão também da diversidade, única saída para manter uma banca de feira cheia o ano todo sem uso de agrotóxicos.

Mandirituba - Wagner Mendes, de Mandirituba, é outro exemplo de que o setor está se organizando não só legalmente, mas desde as bases produtivas. Ele inaugurou quinta-feira sua indústria de ovos orgânicos. Relata que foi necessário 1,5 ano para montar o negócio, que exigiu perto de R$ 40 mil em investimento. A meta é ampliar a produção de 30 para 100 dúzias de ovos ao dia. Para isso, o aviário, que conta com 500 galinhas, irá receber mais 1 mil animais.

Demanda - "Não estamos dando conta da demanda. O mercado está crescendo cada vez mais", avalia. Ele espera um salto nas vendas quando receber aprovação do serviço de inspeção sanitária, que está avaliando a agroindústria e pode sugerir ajustes. A partir daí, poderá vender ovos não apenas em feiras, mas também em redes de supermercados. Milho e farelo de soja orgânicos para alimentar os animais estão garantidos por seis meses.

Vontade - Se depender da vontade e da coragem dos produtores, não devem faltar produtos nas feiras de Curitiba mesmo com a ampliação nas vendas. Parte dos alimentos consumidos na capital percorre 150 quilômetros de estradas. Os produtores da Cooperfloresta vêm da divisa com São Paulo (Adrianópolis) na véspera para estar com tudo pronto nas bancas bem cedo. São 80 agricultores que detêm áreas de 2 a 10 hectares e vendem mais de 1 tonelada de alimentos por feira, com renda que chega a R$ 2,5 mil.

Mais barato - Alimentos como a banana orgânica, vendida sem certificado a R$ 1 o quilo, chegam às feiras 70% mais baratos que os convencionais. Mas esse caso ainda é exceção. Os ovos orgânicos, a R$ 6 a dúzia, são 50% mais caros que seus similares, os ovos caipiras, que também têm público fiel nos supermercados.

Consumidor escolhe pelo preço, mas alega priorizar saúde e valores humanos - A regulamentação promete ampliar os investimentos na produção e, consequentemente, a oferta de orgânicos em todo o Brasil. "Para quem compra, vai ser bom porque os preços nos supermercados devem ficar mais em conta", prevê a dona de casa Rosângela Alfredo Pires. Ela afirma que, mesmo diante dos estandes especiais montados nos supermercados e das 22 lojas de orgânicos inauguradas em fevereiro no Mercado Municipal de Curitiba, recorre às feiras livres. "Aqui pago o mesmo valor que gastaria comprando frutas e verduras convencionais nos supermercados", explica.

Pesquisa - Uma pesquisa da prefeitura de Curitiba com 470 consumidores mostrou que eles escolhem orgânicos principalmente para preservar a saúde. No entanto, é fácil notar nas feiras que os frequentadores têm muito mais em comum. "Não queremos pagar mais caro nos supermercados, mas aceitamos gastar o suficiente para garantir uma renda digna aos produtores", afirma a professora Sandra Girotto.

Filosofia - Esses dois comportamentos traduzem uma filosofia que abrange também comerciantes. O distribuidor de café orgânico Cláudio Ushiwata afirma que a meta é sempre buscar um produto que o consumidor possa pagar "de forma justa". Ele defende que o acesso aos orgânicos não pode ser dado só a pessoas com renda elevada. Por outro lado, afirma que não sente-se à vontade para pressionar o produtor a cobrar menos. O café orgânico vem do Norte do Paraná e de Minas Gerais.

Comparativo - "Uma consulta de 15 minutos com um médico em Curitiba custa R$ 120. Um dia de trabalho de um produtor vale cerca de R$ 15", compara. O comerciante avalia que a certificação representa custo extra, mas considera o processo necessário pela distância que existe entre o consumidor e o produtor no grande mercado. Quem confia "no fio do bigode" do produtor, continuará tendo a opção de comprar em feiras, que exigem uma sistematização menos onerosa, pondera. (Caminhos do Campo/Gazeta do Povo)

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