Resistência à criação de fundo global para café

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A proposta de criação de um fundo global para reduzir os efeitos da volatilidade de preços sobre a renda dos produtores de café enfrenta resistências no setor. Lançada pelo deputado Carlos Melles (PFL-MG), a idéia foi rechaçada por especialistas e dirigentes. O diretor-geral da Organização Mundial do Café (OIC), Nestor Osório, disse ao Valor não recomendar a adoção de qualquer medida artificial de intervenção no mercado. "Temos que influir nas variáveis do mercado e nos fundamentos do setor", afirmou Osório, durante o seminário "Café: Desafios e Oportunidades". "Não há tiro único como solução. Quotas e planos de retenção têm motivação política". Segundo ele, é preciso racionalizar a oferta, desestimular plantio de cafezais de alto custo na América Central e México, frear a produção em anos de grande oferta e diversificar a produção.

Prevenção - Para defender a tese, Melles disse que busca debater o tema para evitar uma nova crise do setor a partir do próximo ano. "Logo, as cotações vão voltar a cair com a recomposição dos estoques pelos países consumidores", previu. Com o fundo, o deputado busca estabilizar preços e financiar o ordenamento da oferta mundial. O gerente da Federação dos Cafeicultores da Colômbia, Andrés Valencia, acredita que os esforços têm de ser concentrados nas formas para tratar da superprodução. "Temos que saber como responder ao consumo e não produzir para depois buscar comprador." Segundo ele, falava-se nessa solução há três anos. "Agora, é difícil defender a idéia". Os colombianos exportaram US$ 1 bilhão em 2004 e mantêm 35% dos empregos do país.

Novos mercados - O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse que é preciso desenhar projetos de longo prazo e abrir novos mercados. "Queremos garantir renda, mas sinalizar uma linha de não-intervenção", afirmou. "Temos de ver o que aconteceu há 20 ou 30 anos e aprender com os erros do passado". O secretário de Produção e Comercialização, Linneu Costa Lima, fez coro: "Não cabem mais medidas de intervenção", afirmou. De outro lado, o consultor Paulo Rabello de Castro advogou a tese de Melles de que o Brasil precisa organizar e controlar a oferta. "Temos que ser negociantes ativos nesse jogo", disse. Segundo ele, uma intervenção "estruturante" do governo via cooperativas e tradings locais poderia agregar renda de R$ 5,5 bilhões aos produtores até 2010. Ele previu uma queda entre 10% e 15% dos preços a partir de 2006. "A atual ruína da abundância levará a saca a US$ 50 e US$ 60". (Valor Econômico)

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