PREJUÍZO: Javalis destroem lavouras de milho no Paraná
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Há cerca de quatro ou cinco anos, produtores da região de Irapuã, no município de Quinta do Sol, perceberam que alguns pés de milho apareciam caídos em meio à lavoura e que algumas de suas espigas tinham sinais de mordidas. A princípio o fato chamou a atenção mas não trouxe grandes preocupações. Posteriormente eles descobriram que os autores da derrubada eram javalis ou como alguns dizem "javaporcos", que são resultantes do cruzamento de javalis com porcos selvagens.
Destruição - O problema é que desde então a população desses animais aumentou assustadoramente, e hoje, ao invés de apenas alguns pés, eles estão destruindo lavouras quase que inteiras. "Em poucos dias eles abrem clareiras enormes no milharal", afirma o agricultor José Pereira, da Fazenda Dom Bosco. Para mostrar os estragos, Pereira levou a equipe de reportagem da Coopermibra - Cooperativa Mista Agropecuária do Brasil, até uma área de 16 alqueires de milho da Fazenda. Portadores de grande força e dentes grandes e afiados, os animais derrubam as plantas para se alimentarem. O problema é que na maioria das vezes eles roem apenas uma parte da espiga e em seguida atacam outra planta. "Eles deixam espigas inteiras no chão e vão derrubar outro pé de milho. Comem mais um pouco e vão para outro pé, e assim o milharal está sendo destruído", lamenta Pereira.
Controle - "Pelos estragos que observamos, os prejuízos aqui passam de 30%", comenta o gerente da regional Coopermibra de Quinta do Sol, Nilson Kitayama. A situação está desesperando alguns produtores que preferem não ir mais até as lavouras. "Nós temos acompanhado o caso e a situação é realmente preocupante", diz o engenheiro agrônomo da Coopermibra, Evaristo Machado dos Santos. "Quando se trata de pragas e doenças, basta fazer o controle, mas nesse caso não há como evitar o ataque", diz. Dentro de suas características naturais, o ataque dos javalis, ou "javaporcos", ocorre na maioria das vezes durante a noite. Para espantá-los, uma das medidas adotadas por Pereira e por outros produtores como os irmãos Waldomiro e Lourival Arrigo, do Sítio Santo Antônio, é a soltura de fogos de artifício. Porém a tática não tem surtido efeito. "Eles saem de uma lavoura e vão para outra", comenta Waldomiro.
Destruição- Também já foi tentado usar cães para espantar os invasores. Mas os javalis são animais ferozes e os cães é que acabaram sendo expulsos. "Eles já mataram um cachorro e feriram outros", relata Lourival. Na propriedade dos irmãos Arrigo, que tem 23 alqueires, a destruição já passa de 10% e deve aumentar ainda mais até o fim da safra. "Eles atacam as lavouras em qualquer fase de desenvolvimento", diz Waldomiro confirmando que os javalis mais estragam do que comem o milho. Os agricultores não sabem determinar a população dos javalis, mas afirmam que somente naquela região deve haver mais de duzentos. "É difícil ver eles porque a maioria fica escondida na mata durante o dia e só sai no final da tarde para entrar na água e a noite par atacar os milharais. Mas já teve gente que viu grandes grupos na beira de brejos e lagos", conta Waldomiro.
Outros casos - Além dos estragos nas lavouras, os agricultores contam que depois da chegada dos javalis outros animais como preás, tatus e perdizes, que freqüentemente eram avistados naquela região, desapareceram. "Antes nós víamos muitos desses bichos quando estávamos plantando ou colhendo. Agora é raro ver eles", diz Lourival. Ataques como os que estão acontecendo em Quinta do Sol já foram registrados em outras regiões agrícolas do Brasil, principalmente nos estados do Rio Grande do Sul e de São Paulo. Em alguns casos, como o de Itápolis, em São Paulo, o Ministério Público autorizou o abate dos animais como base uma lei federal que permite o controle de espécies exóticas. Já no Rio Grande do Sul, a caça ao javali foi autorizada oficialmente em alguns municípios. O Ibama recomenda aos agricultores que usem cercas elétricas para evitar a aproximação dos javalis.
Características - Os javalis chegaram a América do Sul, pela Argentina, no início do século passado (entre 1904 e 1907). Foram trazidos da Europa para serem soltos em matas e fazendas destinadas à caça. Depois seguiram para o Uruguai e então chegaram ao Brasil pelo Rio Grande do Sul. Nesse tempo houve o cruzamento com porcos selvagens e domésticos que deram origem aos "javaporcos". Mamíferos pertencentes à ordem Artiodactyla, da família Suidae (suínos), os javalis são originários da Europa, Ásia e África, possuindo uma divisão em cinco espécies e 16 subespécies. Eles podem pesar mais de 200 quilos e medir entre 1,20m e 1,80m de comprimento e pouco mais de 1,00m de altura. Têm a boca provida de enormes caninos que são projetados para fora, crescem continuamente e são usados como arma de defesa e ataque. São ágeis e fortes, e ficam irritados ao serem incomodados. Alimentam-se principalmente de raízes como a mandioca e de plantas como o milho, mas também comem pequenos animais.
Hábitos - Passam a maior parte do dia dormindo nas matas, escondidos em tocas e abrigos que escavam no solo. No final da tarde costumam sair para se embrenharem em lagos e brejos e buscam seu alimento durante a noite. São territoriais, mas conseguem percorrer até 50 quilômetros em apenas um dia. Vivem em bandos liderados por um macho com várias fêmeas, seus filhotes e alguns machos mais jovens. Uma fêmea pode gerar até 12 leitões, tendo em média somente uma gestação por ano. Os javalis podem viver até 20 anos, têm fácil adaptação e por isso conseguem se proliferar e se espalhar rapidamente. Pela sua bravura e por sua carne saborosa e saudável, é um animal muito visado por caçadores. (Imprensa Coopermibra)