A
solução para a tragédia da fome que atinge boa parcela
da população urbana do Brasil e do mundo está no
campo, literalmente. É a agricultura que pode abastecer a mesa
da população excluída do desenvolvimento econômico,
social, cultural, científico e tecnológico do planeta. No
Brasil, onde um em cada três cidadãos vive na miséria,
segundo estudo recente da Fundação Getúlio Vargas
(FGV), essa dependência da agropecuária cresce a cada dia,
porque a possibilidade de melhoria da qualidade de vida nas grandes cidades
é cada vez mais difícil, complexa e dispendiosa. O Brasil,
no entanto, para nossa felicidade e orgulho, leva grandes vantagens sobre
outros países no esforço pela inclusão social dos
mais pobres, na medida em que, além de já ser um dos principais
celeiros do mundo, está ampliando, diversificando e qualificando
ainda mais a produção de alimentos, a ponto de tornar-se,
dentro de pouco tempo, o maior produtor e exportador internacional de
grãos, carnes e derivados.
No País, como no restante do mundo, a agropecuária poderá
reverter o quadro de miséria e fome que assola bilhões de
pessoas, no médio e longo prazos, desde que haja consciência
das autoridades de que a capacidade de absorção de habitantes
das grandes metrópoles parece estar esgotada e haver se transformado
em fenômeno mundial, além de disposição efetiva
em apoiar e incentivar o homem do campo. Até mesmo nos países
ricos, as cidades de maior porte já enfrentam problemas graves
de abastecimento d'água, desemprego, falta de moradia, transporte
coletivo deficiente, poluição industrial e gradativa deterioração
da qualidade de vida de parcelas cada vez maiores de seus habitantes.
Nas nações emergentes, como o Brasil, a violência
e a criminalidade crescem proporcionalmente à dimensão e
número de favelas nos grandes centros, como demonstram Rio de Janeiro,
São Paulo e outras capitais.
Conforme o estudo "Mapa do Fim da Fome", elaborado pela FGV,
cerca de 59 milhões de brasileiros são considerados miseráveis,
pois têm renda mensal individual abaixo de 79 reais, valor insuficiente
para garantir a ingestão mínima de alimentos, de acordo
com critérios da Organização Mundial de Saúde
(OMS). Para incluir essa população no desenvolvimento do
País, seriam necessários investimentos de dois bilhões
de reais mensais em programas sociais, como geração de empregos,
habitação popular e distribuição de cestas
básicas. Para demonstrar o potencial do agronegócio brasileiro,
basta lembrar que o crescimento da população miserável
nos grandes centros, só vem sendo superado pela expansão
da produção e das exportações da agropecuária
nacional nos últimos anos. Entre 2000 e 2002, o número de
miseráveis cresceu 18,25% na periferia do Rio de Janeiro e 10,43%
na Grande São Paulo. Somente em 2004 a agropecuária deverá
injetar 75,8 bilhões de reais na economia nacional, 13,5% a mais
do quem em 2003. Já no 1o trimestre de 2004, as exportações
do setor cresceram 37,8% e o superávit 42,6%, em relação
ao mesmo período do ano passado. Nenhum outro segmento econômico
do País vem apresentando resultados positivos semelhantes.
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Dilceu Sperafico é deputado federal pelo Paraná
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