Ponto de Vista: As pequenas e médias empresas e a exportação
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Por Rubens A. Barbosa e José Estanislau do Amaral Souza (*)
Quando
se faz uma análise da composição da pauta de exportações
brasileiras, uma primeira constatação é o alto grau de
concentração em poucos produtos e número reduzido de empresas.
Exportar ainda é uma guerrilha para muita gente.
Verificou-se, é certo, significativo crescimento das exportações
brasileiras nos últimos anos. O fato, porém, é que o Brasil
ainda exporta pouco em relação ao seu potencial e, sobretudo no
caso dos manufaturados, exporta mal, com baixo valor agregado, sem estratégia
definida. A exceção fica, geralmente, por conta das multinacionais
instaladas aqui, cuja estratégia de exportações obedece
a uma lógica própria de repartição da produção
em alguns países e exportação para os demais.
Parcela substancial de nossa exportação ainda é feita de
forma não muito diferente do que no passado colonial. Grande parte dos
produtos nacionais destinados ao mercado externo sempre foi "comprada"
pelo importador e não "vendida" pelo produtor nacional. A maior
fatia do valor agregado que se cria neste tipo de exportação fica
com o comprador (distribuidor, varejista ou industrial, na ponta da importação)
ou com o "trader", ao passo que o exportador fica restringido a espremer
preços e margem para ser competitivo.
Como exemplo desta prática, basta mencionar que era bastante comum, até
recentemente, importadores de calçados virem fazer visitas aos fabricantes
brasileiros trazendo, em sua bagagem, o molde dos calçados que gostariam
de comprar. Milhares de pares de calçados eram produzidos e "exportados"
sem que o fabricante soubesse sequer qual o destino final de seu produto. Ainda
recentemente, na maior feira de um setor dinâmico como o de calçados,
a Francal, em São Paulo, era possível presenciar muitos compradores
estrangeiros visitando os estandes das empresas brasileiras, cujos vendedores
limitavam-se a "tirar" os pedidos.É verdade que esta situação
vem mudando nos últimos tempos. Por um lado, o Governo, sobretudo através
da Apex, tem promovido esforços mais estruturados e pró-ativos
de exportação, com resultados à vista de todos.
Por outro, há maior agressividade dos empresários brasileiros,
à medida que experiências concretas bem sucedidas têm mostrado
o caminho a seguir. Algumas empresas brasileiras de porte, como Azaléia,
Sadia, Natura, Boticário, Alpargatas, aceitaram o desafio de encarar
o mercado internacional com uma perspectiva de longo prazo, com um programa
de desenvolvimento de exportações, trabalhando suas marcas e muitas
vezes até canais próprios de distribuição.
O planejamento cuidadoso da exportação não perde relevância
quando de trata de empresas menores. Estudo recente feito na União Européia,
entre 500 pequenas e médias empresas da região, indica que 95%
das histórias de sucesso nas exportações incluem a implementação
de um programa estruturado de desenvolvimento de exportações.
No sentido inverso, 40% das empresas com menor índice de êxito
na exportação sequer deram os primeiros passos na direção
de um programa deste tipo.
No Brasil, os pequenos e médios empresários brasileiros deparam-se
com algumas dificuldades concretas para definir uma estratégia vencedora
de exportação, a começar pela falta de recursos próprios,
humanos e financeiros, passando pelo desconhecimento dos mercados externos,
e incluindo a ausência de marcas conhecidas. Os pequenos e médios
exportadores têm poder de barganha menor em relação aos
compradores e aos traders. Ficam freqüentemente nas mãos daqueles;
limitam-se ao aspecto da produção de bens baratos, comprados unicamente
porque, num determinado momento, pontual, sujeito a alterações,
ofereceram uma relação custo-benefício interessante ao
comprador internacional.
Uma possível solução para esta questão seria o recurso
a empresas de exportação capazes de trabalhar como se fossem uma
extensão dos próprios pequenos e médios fabricantes.
Elaborariam para eles todo o plano estratégico de exportações,
do diagnóstico de potenciais importadores de seu produto à negociação
de contratos, do gerenciamento das exportações à estratégia
de marketing e preço para cada mercado, que realizasse, enfim, todo o
processo de desenvolvimento estratégico de exportação e
criação de marca, a um custo reduzido.
Tais empresas já existem e são chamadas de "Export Management
Companies", ou Empresas Gerenciadoras de Exportação, nos
Estados Unidos e na Europa, onde atuam especialmente para pequenas e médias
empresas que desejam, individualmente, ou em consórcio, realizar o processo
acima descrito.
Aqui no Brasil, onde começam a surgir, elas oferecem ao pequeno e médio
empresário brasileiro uma oportunidade diferenciada, de exportar de nova
maneira, mais profissional, com continuidade e planejamento.
Além de tornar possível abrir espaço no exterior, exportar
pode passar a ser uma atividade que deixe ao fabricante brasileiro e no país
fatia maior do bolo. É preciso que nossa produção exportável,
especialmente a de bens manufaturados, seja crescentemente "vendida"
pelos exportadores e não "comprada" pelos importadores.
(*) Rubens A. Barbosa e José Estanislau do Amaral Souza são ex-diplomatas e consultores, sócios da Rubens Barbosa & Associados.(Artigo publicado no Jornal “O Valor” em 30/07/04).