POLÍTICA AGRÍCOLA: Ainda restam R$ 13 bi em crédito de 2008/09

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Os esforços do governo federal para evitar a escassez de crédito rural durante a fase mais aguda da crise financeira global não foram suficientes para evitar a sobra de recursos na atual safra, que termina oficialmente na próxima semana. Os bancos operadores do crédito rural informaram ao governo haver uma subaplicação de R$ 13,12 bilhões dos R$ 78 bilhões reservados ao financiamento do setor rural até maio passado - o equivalente a 17% do orçamento.

Sobra - Mesmo ainda faltando um mês de desembolsos, os bancos estimam uma "sobra" de até R$ 8 bilhões na atual safra - ou 10% do total destinado ao setor pelo governo. Na temporada anterior (2007/08), a "sobra" somava apenas 3,5% até maio. "Não conseguiremos aplicar esse orçamento por causa da queda brutal dos depósitos à vista", afirma o diretor da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Ademiro Vian.

Exigibilidades - Esses depósitos são a base das chamadas exigibilidades, a parcela de 30% que os bancos são hoje obrigados a aplicar no setor rural. Mas os produtores apontam a dificuldade de acesso ao crédito como o principal motivo para a sobra de recursos. "O dinheiro está no banco, mas pouca gente conseguiu emprestar", diz a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO)

Safra 2009/10 - Nesta semana, o governo anunciou um plano de R$ 107,5 bilhões para financiar a safra 2009/10. Mas o setor privado alerta que os problemas de subaplicação dos recursos deve persistir e reclama a resolução de problemas que impedem o acesso dos produtores ao crédito rural. Os produtores pedem a criação de um fundo garantidor de crédito para o agronegócio e a alteração de uma resolução do Banco Central para desobrigar a reclassificação automática das dívidas renegociadas para níveis de risco mais elevados. "Teremos uma nova frustração nos planos do governo se não tivermos uma solução para esses problemas", avisa Kátia Abreu.

Análise - A análise dos dados informados pelos bancos ao governo mostra haver uma sobra maior nos empréstimos da agricultura familiar, mas também aponta uma retração nos financiamentos da agricultura empresarial.

Desembolso - Até o mês de maio, os bancos desembolsaram R$ 8,48 bilhões aos produtores familiares, ou 65% do orçamento de R$ 13 bilhões - na próxima safra, o segmento terá R$ 15 bilhões. No mesmo período do atual ano-safra, a agricultura empresarial recebeu um aporte de R$ 56,4 bilhões, ou 87% do total de R$ 65 bilhões reservado pelo governo.

Abaixo - Esse volume ficou 5,7% abaixo do mesmo período da safra anterior (2007/08). No próximo ciclo (2009/10), o governo promete aplicar R$ 92,5 bilhões no segmento empresarial, R$ 12,3 bilhões dos quais exclusivos para socorrer agroindústrias e usinas de álcool prejudicadas pelos efeitos da crise internacional. Os dados dos bancos mostram, de fato, uma forte retração nos desembolsos para custeio e comercialização da atual safra. O recuo de 10% foi puxado pela diminuição de R$ 4,7 bilhões nas aplicações das exigibilidades rurais, não compensadas pelo crescimento de R$ 4,2 bilhões nos desembolsos a partir de 70% dos depósitos de poupança.

Empréstimo - Os empréstimos a juros livres também tiveram um forte tombo superior a 34% no período, revelam os dados. Sobretudo nas operações agroindustriais coordenadas pelo banco do Brasil. Os programas de investimentos sob gestão do BNDES registraram um acréscimo de 9,4% no período, mas não foram suficientes para encobrir o recuo de 5% nas aplicações para aquisição de máquinas e equipamentos agrícolas (Moderfrota). (Valor Econômico)

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