PLANEJAMENTO: Clima exige mudanças no sistema elétrico brasileiro
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As mudanças climáticas vão exigir novos planos para o sistema energético do Brasil. Menos água nas hidrelétricas, escassez de ventos para plantas eólicas, política social de biocombustíveis no Nordeste ameaçada e concorrência com produção de alimentos. Por outro lado, ficam imunes ao aquecimento global que afetará a segunda metade deste século a produção de etanol e as térmicas. O estudo "Mudança Climática e Segurança Energética no Brasil", do Programa de Planejamento Estratégico da Coppe, escola de pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), será apresentado hoje (02/06) no Rio ao diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, e ao presidente da Empresa de Planejamento Energético (EPE), Maurício Tolmasquim.
Investimentos - "Procuramos mostrar até que ponto as alterações do clima podem afetar a segurança energética do Brasil", antecipa Roberto Schaeffer, pesquisador que coordenou o estudo, ao lado de Alexandre Szklo, também da Coppe. "Se a sociedade brasileira terá que investir - ainda mais intensamente do que já o faz - em energias renováveis, deverá também investir em estudos para utilizá-las com propriedade", conclui o estudo, que foi encomendado pelo governo britânico. Não bastasse o impacto negativo sobre as principais fontes de energia que o País escolheu, o clima mais quente vai provocar aumento de 8% no consumo energético. Os pesquisadores da Coppe concluíram que as novas condições do planeta vão resultar num aumento de 9% do consumo de energia elétrica no setor residencial e de 19% no setor de serviços.
Impacto - A maior vulnerabilidade para o Brasil no período 2071-2100 possivelmente estará na geração de energia hidrelétrica, que atualmente representa quase 85% da produção brasileira de eletricidade. As usinas mais afetadas seriam as da bacia do São Francisco, que registrariam uma queda de 23,4% na vazão, de acordo com o cenário mais otimista, e de 26,4%, segundo as projeções mais pessimistas. Com isso, o impacto sobre a produção de energia dessas usinas poderá ser da ordem de 8%. Já na Grande Bacia do Paraná - formada pelo rio Paraná e as bacias do Paranaíba, Paranapanema e Grande - haveria, apesar da queda na vazão anual média, mais altas no começo da estação chuvosa. O impacto na produção de energia pelas hidrelétricas poderá ser da ordem de 1,5% em média.
Biodiesel - Além da redução do potencial de geração hidráulica, o Nordeste deve amargar perdas expressivas na produção de biocombustíveis. Algumas culturas, como a mamona e a soja, poderão se tornar inviáveis com as elevações de temperatura e de seca previstas para a região. No Centro-Oeste, segundo o estudo, o cultivo de soja também poderá ser afetado. "Uma parte desses efeitos negativos sobre a produção de matérias-primas para o biodiesel poderá ser compensada pela abertura de novas áreas de cultivo propiciadas pelas novas condições climáticas no Sul", assinala o estudo. O problema de transferir para o Sul a produção de biocombustíveis, alertam os pesquisadores, está na questão da segurança alimentar.
Energia eólica - "A concentração da produção (de biocombustíveis) no Sul também pode, em princípio, reduzir os efeitos sociais positivos visados pelo Programa Nacional de Biodiesel, já que as regiões Norte e Nordeste concentram a maior parte dos agricultores familiares pequenos e pobres. Além disso, a concentração da produção no Sul pode causar conflitos de usos da terra entre plantios para fins energéticos e não-energéticos, já que essa região também tem as melhores condições climáticas para muitos destes últimos." O estudo prevê que a redução de ventos no interior do País vai diminuir em até 60% o potencial de energia eólica. "A redução se daria em conseqüência de menores velocidades de vento na Região Norte e, principalmente, no interior do Nordeste." O pesquisador Schaeffer, porém, avalia que no litoral o potencial de gerar energia a partir dos ventos vai aumentar. "Os ventos e as plantas eólicas vão se concentrar, será mais atraente porque haverá mais concentração de ventos em determinados lugares." O trabalho diz que essa concentração de ventos no litoral, porém, não vai compensar a diminuição da geração eólica no interior. (Gazeta Mercantil)