PESQUISA: Coop de crédito é destaque entre vencedores do Prêmio ABDE-BID 2022
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O papel das cooperativas de crédito em pequenos municípios e seus impactos regionais estão presentes em trabalhos vencedores do Prêmio ABDE-BID de Artigos 2022 realizado pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A premiação conta com apoio do Sistema OCB, da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal/ONU) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A gerente-geral do Sistema OCB, Fabiola Nader Motta, participou da cerimônia realizada nessa terça-feira (25/07) e entregou a premiação da categoria Sistema OCB: Desenvolvimento e Cooperativismo de Crédito.
Realidade - “A pesquisa permite que a gente conheça melhor a realidade para estimular nossas cooperativas a ouvirem o que vem da academia. Temos outra parceria, desde 2018, com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e já estamos em nova chamada com investimento de R$ 4 bilhões para pesquisas direcionadas ao cooperativismo. Iniciativas como esta, de incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento, são muito importantes. Faz parte do movimento cooperativista estimular cada vez mais estudos e, por isso, essa parceria é muito significativa para nós”, ressaltou a gerente-geral.
Mesa de abertura - Além de Fabíola, Integraram a mesa de abertura o presidente da ABDE e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) - agência pública de fomento à inovação, Celso Pansera; a presidente do Ipea, Luciana Servo; o especialista sênior do BID, Eduardo Sierra; e o diretor do Escritório da Cepal no Brasil, Carlos Mussi. “É muito estimulante estar participando de um programa que pensa o sistema de fomento de maneira científica com reflexões de médio e longo prazo para todos. Quero parabenizar os vencedores e também aos que submeteram os trabalhos. A busca pela informação é o mais relevante porque é desta forma que tornaremos o Brasil mais igual e mais justo”, considerou Celso Pansera.
Estratégicos - A presidente do Ipea, por sua vez, destacou que os trabalhos das três categorias são estratégicos para a agenda nacional e para o instituto. “Estamos em uma agenda voltada para novos modelos de produção sustentável, com valor agregado, maior incorporação de tecnologias com a inclusão social. Nosso desafio é fazer um novo modelo produtivo que inclua questões de gênero, social e geracional. Para isso, precisamos de fomento e acesso ao crédito com ações não orçamentárias. A agenda do Ipea dialoga com todos que estão nesta mesa e é uma grande satisfação receber estas pesquisas que trazem importantes contribuições para o país”, destacou Luciana Servo.
Categorias - A premiação foi dividida em três categorias: Financiamento ao desenvolvimento sustentável, inclusivo e inovativo; Micro, Pequenas e Médias Empresas na agenda sustentável; e Sistema OCB: Desenvolvimento e Cooperativismo de Crédito. Os artigos vencedores foram compilados em um livro, lançado durante a cerimônia.
Cooperativismo - Na categoria direcionada ao coop, a pesquisadora Andressa Guimarães Torquato Fernandes, da Universidade Federal Fluminense (UFF), conquistou o primeiro lugar com o artigo Novos modelos de moedas locais e o papel das cooperativas de crédito para o seu desenvolvimento: O caso do município de Mato Verde (MG). O segundo lugar ficou com o pesquisador Marcelo Lima, da Associação Garantidora de Crédito (RS Garanti), com o trabalho A cooperação entre os sistemas de garantia de crédito e o sistema cooperativista de crédito e o impacto no desenvolvimento regional.
Moedas locais - Andressa Torquato disse que pesquisava sobre moedas locais e que a relação desse modelo com o cooperativismo surgiu na prática. Segundo ela, durante votação em sessão legislativa do município pela criação de moeda local, ela percebeu a presença de cooperativistas pleiteando lugar de atuação nesta questão. O artigo traz uma análise jurídica da constitucionalidade das moedas locais, regulamentações do Banco Central e como ela se mostra um modelo disruptivo no município de Mato Verde, que criou seu fundo municipal e conselho monetário, entre outros mecanismos para a implementação.
Atuação conjugada - "Essa atuação conjugada entre município e cooperativa de crédito tem o condão de potencializar o desenvolvimento econômico e social com a implementação de sua moeda local. Essa conexão é um arranjo de ganha-ganha, pois colocar a moeda local em circulação estimula a economia local. Quando esse fundo é depositado em uma cooperativa, você aumenta a capacidade para que essa cooperativa distribua estes recursos para os moradores do município, além de reduzir os custos do local no gerenciamento do numerário", explicou Andressa.
Jornada - Marcelo Lima enfatizou que, historicamente, os empreendedores iniciam sua jornada mais por necessidade do que por vocação. E que esta inexperiência aliada à alta carga tributária, a gestão ineficiente e a falta de créditos são as principais dificuldades enfrentadas pelos micro e pequenos empresários. “Na intenção de facilitar o acesso aos recursos e, ao mesmo tempo, capacitar estes empreendedores é que tiramos do papel o projeto CrediCaxias. Aplicado inicialmente em Caxias do Sul (RS), o projeto é o mais autêntico significado da palavra intercooperação, pois envolve poder público municipal, cooperativas de crédito e garantidoras de crédito”, descreveu o pesquisador.
Multiplicação - Em março de 2022, o projeto iniciado em 2021, começou a se multiplicar para outros municípios. Hoje, são 11 programas em andamento em mais de 30 prefeituras que aprovam leis para participar do projeto. “Criamos todo um arcabouço técnico e toda operação é feita pela garantidora e pelas cooperativas. O projeto dá mais que dinheiro, dá acesso. Temos mais de 586 empresas contempladas e 8 mil horas de capacitações assistidas. Hoje, somos case nacional no Sebrae e, em um ano e meio, chegamos as impressionantes 2,6 mil capacitações das empresas, somando mais de 20 mil horas de treinamentos. O valor liberado às empresas caxienses soma R$ 19,8 bilhões, uma economia de R$ 25 bilhões devido aos juros menores. O impacto econômico municipal já contabilizado é de R$ 44,8 milhões e R$ 1,35 milhões de impostos gerados para os cofres do município”, relatou Lima.
Convidado - Para comentar os trabalhos, foi convidado o subsecretário de Política Agrícola e Negócios Agroambientais do Ministério da Fazenda, Gilson Bittencourt, que também integrou a banca avaliadora no ano passado. “Os dois trabalhos foram escolhas importantes. As moedas locais e a questão jurídica massificam a discussão. As cooperativas como protagonistas é uma possibilidade real e que potencialmente podem tomar frente da pauta diante de outras instituições financeiras. No caso do CredCaxias, é altamente positiva e meritória essa integração entre três agentes, merece ser propagado. Estes trabalhos trazem inovações fundamentais e positivas para o nosso país. Parabéns”, avaliou Bittencourt.
Outras categorias - Na categoria Financiamento ao desenvolvimento sustentável, inclusivo e inovativo, o primeiro lugar ficou com o pesquisador do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Leonardo de Moura Perdigão Pamplona com o trabalho Potencial da Bioeconomia para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia e o papel das Instituições Financeiras de Desenvolvimento. Já o segundo lugar foi para a pesquisadora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Lindomayara França Ferreira, com o artigo Instituições e financiamento para pesquisa: avanços e desafios para as energias renováveis no Brasil.
Micro, Pequenas e Médias Empresas - A categoria Micro, Pequenas e Médias Empresas na agenda sustentável premiou o pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Norberto Montani Martins, pelo artigo A pandemia da covid-19 e o crédito à micro, pequenas e médias empresas no Brasil. O segundo lugar da categoria ficou com o pesquisador da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Francisco Laercio Pereira Braga, com o trabalho Sol, Sombra, Terra, Trabalho e Renda: o caso do Arranjo Produtivo Local de café sombreado da região do Maciço de Baturité, Estado do Ceará. (Sistema OCB)