Pecuarista mineiro boicota frigoríficos

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Pecuaristas de Minas começaram, ontem, a reter o boi no pasto para pressionar os frigoríficos a pagar mais pela carne, principalmente de bovinos destinados à exportação. A orientação para segurar os animais nas fazendas é do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), já foi acatada pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e deve ser seguida por produtores de todo o País. O fórum reage à ação dos frigoríficos de definir conjuntamente regras para a compra de boi, sem consultar os criadores, nivelando por baixo os preços de comercialização. “A retenção de gado é uma atitude legítima para equilibrar o mercado, uma vez que a oferta é grande e os frigoríficos estão pagando preços seguidamente decrescentes aos seus fornecedores, enquanto os valores unitários das exportações estão crescentes”, ressalta o presidente da Faemg, Gilman Viana Rodrigues.

Defesa - Segundo ele, a CNA já reuniu uma farta documentação que comprova essa prática dos frigoríficos e deve encaminhar denúncia às autarquias de defesa de concorrência, por causa da suspeita de formação de cartel. A expectativa é de que os documentos sejam apresentados até o fim da semana. Os documentos em poder da CNA indicam uma valorização maior do produto nas exportações, de 36%, e uma queda de 12% no valor pago ao produtor, em um ano. “A distribuição de tabelas de valores iguais a serem pagos aos fornecedores de gado para abate, expedidas por diferentes frigoríficos de todo País, indica um procedimento de cartel”, afirma Viana. As partes nobres exportadas recebem no mercado externo uma cotação que pode eqüivaler a R$ 93, por arroba, considerando o preço de US$ 2,4 mil pago por tonelada. A expectativa é de que todos os animais sejam retidos nas fazendas, a partir de hoje.

Faemg - Mas o presidente da Faemg observa que se houver uma redução de 30% da oferta já pode ser suficiente para melhoria dos preços. O presidente do Sindicato da Indústria de Carnes do Estado de Minas Gerais, Eurípedes José da Silva, não acredita no sucesso da estratégia de retenção do gado no pasto para melhoria de preços. “Não funciona”, aposta. Além de ser proprietário do Frigorífico Uberaba, ele também é produtor e se lembra bem do que ocorreu em 1986, quando a carne sumiu dos açougues porque os pecuaristas optaram por deixar o boi no pasto a ceder à tabela estabelecida pelo governo, no Plano Cruzado. “Ninguém vendia porque não tinha preço. Depois, todo mundo resolve vender de uma vez e fica pior ainda”, observa Silva. Ele admite que o produtor está saindo no prejuízo, com o preço da arroba entre R$ 52 e R$ 54, negociado em Belo Horizonte, com 30 dias de prazo. A cotação média ideal para o produtor seria de entre R$ 59 e R$ 60. “Não dá para aumentar porque os açougues estão cheios de carne e não tem freguês”, diz. (O Estado de Minas Gerais)

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