Paraná deixa de colher lucros combatendo a soja transgênica

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(*) Vinicius Ferreira Carvalho

As discussões sobre as plantas geneticamente modificadas (GM) tomam rumos que transcendem os limites do racional e da responsabilidade. No caso das avaliações de segurança ambiental e de segurança alimentar, parece que de nada servem os inúmeros posicionamentos de cientistas e comunidades científicas mostrando que, tanto o meio ambiente quanto a saúde humana e animal, não são afetados negativamente pelas plantas transgênicas hoje comercializadas no mundo. E no centro dessa polêmica, especialmente no Brasil, está a soja modificada geneticamente tolerante ao herbicida glifosato, a soja RR.

O crescimento da área cultivada no Brasil com soja RR em 2002/2003 mais de 3 milhões de hectares mostra que será impossível o País assumir que é livre de transgênicos. Com isso, o Paraná tenta impedir o uso da tecnologia por seus agricultores, alegando vantagens no comércio internacional. No Estado há propagandas afirmando que a não-comercialização de soja RR no Porto de Paranaguá resulta em aumento de renda para os agricultores e os livra de pagar royalties. Como atualmente não há mercados com preços diferenciados para soja, resta saber se o Paraná está obtendo vantagens com barreiras ao escoamento de soja RR e se a renda dos agricultores está de fato aumentando.

Se toda a área com soja no Paraná fosse GM e, assumindo-se um benefício na produção de R$ 202,00 por hectare, o ganho total atingiria mais de US$ 261 milhões. Com o pagamento de R$ 0,60 por saca colhida em lavouras transgênicas, o preço da tecnologia seria de US$ 33 milhões e o valor líquido obtido de mais de US$ 228 milhões. Estima-se que 15% da área com soja no Paraná seja GM e na safra de 2003/04 foram produzidas no Estado 10 milhões de toneladas de soja. Assim, seriam cobrados US$ 5 milhões de royalties e, para que esse pagamento chegasse aos US$ 60 milhões, como divulgado, a produção deveria ser muito maior e, também, 100% da área deveria ser cultiva com soja RR.

Além disso, não são considerados os benefícios de redução de custos. Um claro exemplo de que as ideologias preconcebidas não resultam em nada diferente do cerceamento da liberdade de escolha e perda de competitividade para os agricultores do País.

(*) Vinícius Ferreira Carvalho é engenheiro agrônomo e gerente técnico do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB)

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