Opinião: O prodígio da agricultura

  • Artigos em destaque na home: Nenhum

Se São Pedro ajudar e o governo não atrapalhar, o Paraná voltará a produzir neste ano agrícola (2005/2006) uma safra de grãos 27% maior que a colheita do verão passado, quando boa parte das lavouras foi dizimada por prolongada estiagem. Levantamento da Secretaria da Agricultura divulgado na última segunda-feira aponta agora para uma produção da ordem de 21 milhões de toneladas, voltando o estado, portanto, ao nível obtido na safra recorde de 2003/2004. Soja e milho continuarão sendo os grandes destaques, com colheitas previstas, respectivamente, em 12 e 8 milhões de toneladas.

De novo se repete o prodígio que só a força da agricultura é capaz de fazer. A despeito dos elevados prejuízos provocados pela seca (só de soja, deixou-se de colher cerca de 3 milhões toneladas no ano passado), da inércia do governo federal na prestação do necessário socorro ao setor, e da própria natureza arriscada do agronegócio, sempre tão sensível a fatores externos incontroláveis, os produtores rurais do Paraná demonstram agora, mais uma vez, que não se abatem facilmente. Pelo contrário, estimulados pela misteriosa e permanente força que os faz acreditar que a próxima safra será sempre melhor, o agricultores investem novamente todos os seus recursos e competências para produzir mais e melhor. A agricultura parece contrariar permanentemente a própria lógica das conjunturas econômicas. Um dos principais fatores de desestímulo à produção deste ano, por exemplo, seria o comportamento do câmbio, extremamente desfavorável. Com o real supervalorizado frente ao dólar, as commodities agrícolas perdem competitividade, tornam-se caras e, conseqüentemente, encontram dificuldades no comércio exterior. Já foi grande o prejuízo na comercialização da safra passada, quando o dólar beirava os R$ 3,00. Agora, portanto, com a moeda norte-americana cotada a menos de R$ 2,40, a expectativa natural seria de que o fator cambial viesse a reduzir a opção pelo plantio da soja, nosso principal produto de exportação. Entretanto, as evidências estão a demonstrar o contrário.

Da mesma forma, a área de plantio e o emprego de insumos modernos que incrementam a produtividade se situarão praticamente nos mesmos patamares das mais exitosas safras anteriores. Os produtores mostram, portanto, que não estão dispostos a economizar em custeio e investimentos – apesar dos prejuízos recentes e, sobretudo, do socorro inepto, parcial e tardio que receberam do governo para que pudessem saldar suas dívidas. Apesar também da indefinição que ainda subsiste em relação ao financiamento da safra a ser plantada já a partir das próximas semanas.Por tudo isso, soa incompreensível a falta de efetivo e planejado apoio do governo à agropecuária. Este é um dos poucos setores em que os recursos empregados retornam multiplicados na incrível velocidade de uma safra, algo como seis meses. Nenhum outro setor produtivo exige tão pouco e responde tão prontamente. Trata-se, portanto, de uma imprudência, para dizer o mínimo, que se devote a ele a desimportância a que vem sendo relegado nos últimos anos, não obstante ser um dos principais sustentáculos da recuperação que o país empreende.

O sucesso da agricultura paranaense, demonstrando tão grande capacidade de recuperação, conforme se registra nesta primeira previsão de safra, deveria servir de estímulo ao governo federal para a formulação de uma política agrícola de longo prazo – sem dúvida nenhuma, um poderoso instrumento para o desenvolvimento social e econômico do país.

Conteúdos Relacionados