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Opinião: O Dia da Mulher

Por Osmar Dias(*)

Há exatos 20 anos, a ONU (Assembléia Geral das Nações Unidas), em sinal de apreço pela luta encetada, também consagrou o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher.
A data serve para relembrar um episódio trágico ocorrido em 1857 na cidade de Nova Iorque, quando tecelãs rebelaram-se contra as condições de trabalho que lhe eram impostas. Elas entraram em greve reivindicando a redução da jornada de trabalho então estabelecida em 16 horas-dia e paridade salarial com os homens, pois recebiam apenas 1/3 da remuneração paga aos seus colegas de trabalho.
As operárias sofreram repressão, foram “fechadas” na fábrica e 130 delas acabaram morrendo asfixiadas.
A sociedade norte-americana ficou abalada com os acontecimentos e novos e importantes fatos se registraram, como foi a chamada caminhada do “Pão e das Rosas”, em que o primeiro elemento simbolizava a estabilidade econômica e o segundo a busca de uma melhor qualidade de vida.
Qual a melhor homenagem que se pode fazer à mulher neste e nos próximos 8 de março?
A resposta não é fácil. No amplo cenário mundial, muitas questões podem ser colocadas dependendo da visão que tivermos. Salvo melhor juízo, a mulher não precisaria de um dia específico, pois são atuantes independentemente de dia, uma vez que nunca têm folga. Por assim dizer, tem três turnos: dois nas suas atividades externas colaborando fortemente na formação da renda familiar; e outro atendendo as demandas domésticas, quase sempre duras e que o despertador teima em anunciar que um novo dia começa para se repetir.
Hoje, quando muitos homens do século XXI passaram a trocar fralda de bebê e colaborar nas tarefas caseiras, sem que isso represente um trauma psicológico – na sociedade em geral a situação da mulher ainda está sujeita as velhas mentalidades que, embora de forma não declarada, cerceiam a sua plena igualdade.
Este real avanço não consegue esconder os números das estatísticas da violência a que são vítimas as mulheres: 20% a 50% das mulheres no mundo foram assaltadas; uma em cada dez já foi estuprada; 30 milhões já foram mutiladas em todo o planeta. Quando se fala desse tema, não podemos esquecer situações como a mutilação genital feminina, como ocorre em alguns grupos étnicos; a ultra-sonografia a serviço do aborto (em Bangladesh, sabendo-se que a criança é do sexo feminino, decide-se pelo aborto); controle da natalidade cruel (caso da China); violência externa como a que ocorre na Índia com as atrocidades cometidas via submissão; sem falar nas crenças que aumentam a possibilidade de risco que, partindo de idéias com base em princípios preconceituosos, subjugam o gênero feminino.
Para o mundo cristão, porém, é diferente.
Há os magníficos exemplos de mulheres – como Rute, Ester e outras – que acreditaram, oraram e venceram diante das dificuldades colocadas. Crendo nesse poder, hoje se efetiva uma grande mobilização nacional (São Paulo) que dará início a um percurso mundial de protesto, denúncia e construção de alternativas pelos cinco continentes. Será o lançamento da “Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade”, resultado de um longo processo de participação e convergência de um povo a outro, de uma região a outra. Entre outros pontos, o documento a ser lançado dirá que as mulheres querem o fim da opressão e afirmam que a dominação, a exploração, o egoísmo e a busca desenfreada do lucro produzem injustiças, guerras, ocupações, violências e isso tudo deve acabar. Como que a repetir o grito das artesãs nova-iorquinas de 1857, as mulheres que hoje irão à Avenida Paulista (e não mais na sede da indústria) dirão que “nenhum costume, tradição, religião, ideologia, nenhum sistema econômico ou político justificam que uma pessoa seja posta em situação de inferioridade, e, ainda, que não é possível permitir atos que ponham em perigo sua dignidade e integridade física e psicológica. As mulheres são cidadãs de pleno direito, antes de serem cônjuges, companheiras, esposas, mães, trabalhadoras”.
Esta Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade também faz um chamado a todas as mulheres e homens e a todos os grupos oprimidos do planeta a proclamarem individual e coletivamente seu poder para transformar o mundo e modificar radicalmente as relações existentes e transformá-las em relações baseadas na igualdade, na paz, na liberdade, na solidariedade e na justiça.
Acredito que serão chamados todos os movimentos sociais e todas as forças sociais a agir, a fim de que os valores defendidos sejam verdadeiramente postos em prática, e para que as instâncias de poder político tomem as medidas necessárias para a sua aplicação seja nos grandes, médios ou pequenos centros urbanos, e também junto às sofridas comunidades rurais.
Esse é um compromisso que assumo neste e nos próximos 8 de março que virão.

* Osmar Dias é senador da República e líder do PDT no Senado

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