OPINIÃO: O aquecimento global e a biotecnologia

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Por Dilceu Sperafico (*)

O aquecimento global deixou de ser exagero de ambientalistas radicais e temor para o futuro longínquo, para tornar-se ameaça concreta e imediata à própria sobrevivência da humanidade. A elevação das temperaturas do planeta, constatada em estudos científicos, não é apenas um novo risco para a agricultura. O fenômeno afeta também e talvez até com maior intensidade as populações urbanas, com o esgotamento acelerado de recursos hídricos. Estudo da Nasa, a agência espacial norte-americana, mostra que 2004 foi o 4º período mais quente em mais de 100 anos. No ano passado, a temperatura média foi 0,48 grau Celsius acima da média verificada entre 1951 e 1980. Além disso, os quatro anos mais quentes desde o final do século XIX foram, pela ordem, 1998, 2002, 2003 e 2004, todos recentes. Estudiosos afirmam que as temperaturas médias podem subir até cinco graus nas próximas décadas, inviabilizando a agricultura tradicional em várias partes do mundo, além de elevar o nível dos mares e inundar cidades litorâneas. O cultivo de soja, milho, trigo e arroz, por exemplo, seria impraticável no Sul do Brasil. As alternativas seriam café e algumas frutas, segundo a Embrapa.

Os cientistas afirmam que fenômenos naturais, como erupções vulcânicas e o El Niño, que aquece as águas do Oceano Pacífico, contribuem para mudanças climáticas no planeta, mas destacam que a devastação e a poluição provocadas pelo homem têm reflexos cada vez mais importantes. Conforme estes estudos, 2005 será mais quente que 2004 e deverá superar 1998, confirmando a aterradora tendência de aquecimento global. A situação chegou ao ponto de levar autoridades ligadas ao agronegócio brasileiro a anunciar medidas para avaliar melhor a dimensão do risco e propor ações capazes de amenizar os efeitos das secas e do calor excessivo. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, afirmou em audiência pública da Comissão de Agricultura do Senado Federal, em 16 de março, que devido às mudanças climáticas no Sul, pode ser necessário refazer o zoneamento agrícola do país. Destacando que a atual seca é maior dos últimos 40 anos, o ministro revelou haver solicitado levantamento sobre a tendência climática nas principais regiões agrícolas a especialistas do Governo. Para o Brasil, que prepara-se para assumir a condição de maior produtor e exportador de alimentos do mundo, essas notícias são catastróficas.

Especialistas se dividem com relação às conseqüências do desmatamento no regime de chuvas do Sul do país. As precipitações mais expressivas na região teriam origem em frentes frias vindas da Antártida no inverno e sistemas frontais formados pelo degelo da Cordilheira dos Andes durante o verão. Poder ser, mas a devastação das matas seguramente facilita o aquecimento global, pois apressa a evaporação, facilita a erosão e deixa de amenizar o calor. Quem não lembra do ar fresco do interior de qualquer mata preservada? Se o homem é responsável por essa situação, cabe-lhe reverter as ações predatórias. Pode começar repondo matas ciliares, preservando as florestas existentes e reduzindo a poluição dos recursos naturais. A agricultura dependerá cada vez mais dessa consciência e da biotecnologia. Para nossa alegria, como defensores da Lei de Biossegurança e alívio como cidadãos, a Embrapa acaba de informar o lançamento de variedade de arroz mais resistente às estiagens. Já a Codetec, de Cascavel, anunciou nova cultivar de soja, que tem como principal diferencial a maior concentração de proteína no grão, beneficiando a indústria de óleo e farelo. Na biotecnologia está nossa esperança de superação de obstáculos impensáveis para a agricultura há alguns anos, incluindo o aquecimento global.

(*) Dilceu Sperafico é

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