OPINIÃO: Miopia ambiental
- Artigos em destaque na home: Nenhum
Por Joelmir Beting*
Nesta Rio + 20, um bilhão e meio de famintos pululam pelo planeta. Dois bilhões não têm acesso à água potável. Três bilhões e meio não têm coleta de esgoto.
Eis a verdadeira tragédia socioambiental da Humanidade. Aqui no presente e não no aquecimento global lá no futuro.
Pior: a espaçonave Terra não tem como fazer parada técnica para reabastecer as provisões de bordo. Os recursos finitos, por definição, vão acabar. E os recursos renováveis têm de ser produzidos cada vez mais com cada vez menos. Vulgo desenvolvimento sustentável.
Especialmente nos horizontes nublados da segurança alimentar, da segurança energética e da segurança sanitária. Uma revolução agroambiental, já em marcha batida, terá de responder aos desafios dramáticos da comida e da energia.
Pior: os passageiros da espaçonave Terra continuam multiplicando-se ao ritmo da aritmética dos coelhos. Somos 7 bilhões de terráqueos hoje e 9,2 bilhões em 2050, segundo o pop clock da ONU. Como recepcionar a bordo mais 2,2 bilhões de passageiros até 2050?
É tudo muito simples: para esse aumento de 31% da população, até 2050, o planeta vai ter de aguentar uma sobrecarga de 45% no consumo de energia e de 70% no consumo de alimentos, entre outras demandas.
Essas projeções da ONU jogam com os ganhos de renda por habitante, além do próprio crescimento populacional. Na energia, não tem escapatória: a ordem é limpar a matriz energética do planeta na plataforma elétrica e na plataforma automotiva, entre outras plataformas.
Vai daí que o grande tema da Rio + 20 ficou na fila do gargarejo: o da expansão demográfica, bem mais corrosiva do que o do desmatamento, até porque, a cegonha, também no século 21, vai continuar dando preferência aos pobres dos países pobres e aos pobres dos países ricos.
A Rio + 20 não tem na agenda global políticas públicas de planejamento familiar - o tal de armistício com o espermatozoide. Ela prefere discutir limites e metas para os 7 bilhões do presente e não para os 9 bilhões do futuro. A tal ponto que o caderno de compromissos da ONU fala em rebaixar as emissões anuais de CO2 de 9 para 1 tonelada por habitante até 2050.
Ou seja, mais 30% de gente, mais 45% de energia e mais 30% de comida com emissão de apenas 1 tonelada de carbono per capita. Ora, como já disse aqui, fixar metas sem garantias de meios é um exercício intelectual no mínimo demagógico.
Ou preguiçoso.
*Joelmir Beting é jornalista