OPINIÃO: MILHO, SOJA OU FEIJÃO: O QUE PLANTAR?

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Por Eugenio Stefanelo (*)

Stefanelo recomenda que os produtores deverão reduzir a área plantada

da primeira safra de milho, manter a mesma para o feijão e aumentar a da soja.

As chuvas abaixo do normal e mal distribuídas, o frio antecipado, os altos custos de produção e os elevados preços de venda da soja e, em períodos, do milho e feijão, foram os fenômenos climáticos e econômicos que marcaram a produção dos grãos na safra 2008/09. Os produtores do Paraná, devido ao la nina,  perderam 2,6 milhões de toneladas de soja, 3,8 milhões de toneladas de milho e 300 mil toneladas de feijão, que reduziram o valor bruto da produção ou a receita auferida pelos produtores.

A previsão de clima para a próxima safra indica regularidade e, inclusive, excesso de precipitação durante a primavera e o verão, mostrando a importância de ser adotado o escalonamento da época de plantio, durante o período recomendado pelo zoneamento agrícola.

O Plano Safra 2009/10, divulgado pelo governo federal, colocou mais recursos de crédito a disposição dos produtores e o Banco do Brasil e o SICREDI estão empenhados em liberar todos os financiamentos de custeio até meados de outubro próximo. E os produtores do Paraná absorvem entre 10% a 13% dos financiamentos de custeio do Brasil.

Os preços dos fertilizantes e de parte dos agrotóxicos diminuíram, da energia se mantiveram e da mão-de-obra aumentaram, mas ocorrerá o barateamento do custo de produção dos produtos entre 5% a 10% comparativamente a safra 2008/09, decréscimo menor na soja e maior no milho, onde o uso fertilizante por hectare é maior.

Os produtores estão planejando o que plantar na safra 2009/10 e, alguns, efetuando os pedidos de insumos. O propósito deste artigo é auxiliar a decidir o que plantar, em função da situação acima exposta e do possível cenário de comercialização da futura safra.

MILHO

Os produtores estão colhendo a segunda safra 2008/09, estimada em 4,7 milhões de toneladas no Paraná e em 16,2 milhões no Brasil. Somando as duas safras, o Brasil colhe 49,5 milhões de toneladas, volume inferior ao consumo interno e as exportações, estimados em 45 milhões e em 8,0 milhões de t, respectivamente, em 2009. Este quadro reduzirá o estoque de passagem de 2009 para 2010 para 8,8 milhões de toneladas, o segundo mais elevado dos últimos anos.

A não recuperação dos preços recebidos pelos produtores neste ano, apesar da redução da produção, decorre exatamente do alto estoque de passagem interno de 2008 para 2009, de 11,9 milhões de toneladas; da taxa de câmbio em torno ou abaixo de R$ 2,00; da crise econômica mundial que afetou as exportações do complexo carne e da queda dos preços internacionais do milho.

Esta queda foi motivada, também, pela reversão das expectativas em relação a safra americana 2009/10. Contrariando todas as expectativas ocorreu aumento de 1,2% na área plantada, para 35,2 milhões de hectares, que, em condições normais de clima, resultarão numa produção de 312 milhões de toneladas. Esta, no entanto, não atenderia totalmente seu consumo interno e a previsão de exportação, estimados em 269 e 50 milhões de toneladas, respectivamente, mas impede que o estoque baixe significativamente, como estava previsto.

A União Européia e a China não aumentarão a produção de milho em 2009/10. O USDA estimou a safra brasileira e argentina em 54 e 15 milhões de toneladas e a produção mundial em 789,8 milhões de toneladas, abaixo do consumo interno total de 795 milhões de toneladas, o que reduziria o estoque de passagem de 143,8 para 139,2 milhões de toneladas em 2008/09 para 2009/10.

Tal situação indica que as cotações internacionais do milho ficarão abaixo do pico de U$ 8/bushel de 2008, mas acima da média histórica de U$ 2,6/bushel, algo entre U$ 3,0 a 4,5/bushel.

Os preços recebidos pelos produtores paranaenses caíram abaixo do preço mínimo da safra 2008/09 de R$ 16,50/saca e da safra 2009/10 de R$ 17,46/saca e do custo operacional de produção, estimado pela OCEPAR em R$ 18,00 a saca, para uma produtividade de 120 sacas/hectare. A reversão deste quadro depende das seguintes variáveis: quebra da safra americana, da UE ou da China; aumento da exportação brasileira em 2009 de 8 para 11 a 12 milhões de toneladas, em função de subsídio do governo via Prêmio de Escoamento do Produto - PEP; e redução da expectativa de produção da próxima safra  brasileira 2009/10, pela redução da área plantada. A compra governamental do excedente de safra via AGF eleva o preço recebido para o nível do preço mínimo, mas pressiona os mesmos preços para baixo na entressafra, quando os estoques seriam colocados no mercado interno.  

A recomendação mais sensata seria o governo estimular a colocação no exterior de parte do excedente (3 a 4 milhões de toneladas) e os produtores brasileiros reduzirem em 10% o plantio da primeira safra, que será plantada no Paraná entre setembro e dezembro. As medidas ajustariam a produção ao consumo estimado em 46,5 milhões de toneladas e a previsão de exportação entre 8 a 10 milhões de toneladas em 2010. Caso o governo não estimule a exportação do grão, a redução de área deveria ser de 15%. Age no sentido inverso a esta redução de área a disponibilidade de sementes transgênicas, que geram menor custo operacional de produção e mesma produtividade, o que reduz o custo médio da saca do cereal.     

SOJA

Depois de duas safras mundiais com produção inferior ao consumo doméstico total e conseqüente redução dos estoques, em 2009/10 o balanço se inverte. Aumentou a área plantada e a expectativa de produção americana para 31,4 milhões de hectares e 88,7 milhões de toneladas. O mesmo deverá ocorrer no Brasil e na Argentina, onde os plantios ocorrerão nos três últimos meses deste ano. O USDA estimou a safra brasileira e argentina em 60 e 51 milhões de toneladas, respectivamente, e a mundial em 243,7 milhões de toneladas, superior ao consumo doméstico total de 231,9 milhões de toneladas, o que ampliará o estoque de passagem de 41 milhões em 2008/09 para 52 milhões de tonelada em 2009/10.

Este quadro explica o grande diferencial de preço da soja na CBOT entre as duas safras, onde se verificaram cotações mais altas no primeiro semestre e no mês presente e preços cada vez mais baixos para os meses subseqüentes do segundo semestre. No entanto, a cotação internacional da soja deverá ficar acima do patamar histórico de U$ 6,5/bushel, oscilando entre U$ 8 a 10/bushel, na dependência do comportamento do clima sobre a produção americana, brasileira e argentina e do comportamento da demanda pelo grão, principalmente pela China, e do farelo e óleo determinados pela recuperação da economia mundial.

A área plantada no Paraná e no Brasil vai aumentar acima de 5%, porque a terra não ocupada com a lavoura de milho migrará para a soja. Neste caso, a produção brasileira ficaria acima das 60 milhões de toneladas estimada pelo USDA.

A rentabilidade dos produtores brasileiros na comercialização da safra 2009/10 (ano comercial 2010) será positiva, mas mais baixa do que nas duas safras anteriores. Isto em função da cotação internacional menor e da taxa de câmbio no Brasil em torno de R$ 2,00, apesar do menor custo operacional, estimado pela OCEPAR em R$ 28,8/saca para uma produtividade de 55 sacas/hectare.

FEIJÃO

             A safra brasileira 2008/09 está estimada em 3,53 milhões de toneladas, das quais 740 mil toneladas no Paraná, o maior produtor da leguminosa, apesar da quebra de 300 mil toneladas ocorrida devido a seca e ao frio. A produção, somada a importação de 100 mil e ao estoque inicial de 160 mil toneladas, supre o consumo de 3,7 milhões de toneladas e reduz o estoque de passagem para 85 mil toneladas. O estoque público atual soma 74,5 mil toneladas e foi adquirido porque desde março deste ano os preços recebidos pelos produtores ficaram abaixo do mínimo garantido pelo governo de R$ 80,00 a saca.

            Para a próxima safra 2009/10, os produtores brasileiros e paranaenses devem, no máximo, repetir a área plantada na safra 2008/09. Caso aumentem, e em condições normais de clima, a produção superaria o consumo do próximo ano, estimado em 3,8 milhões de toneladas. Em tal situação, os preços recebidos pelos produtores tenderiam a ficar abaixo do preço mínimo. Esta hipótese, no entanto, não tem efeito prático sobre a redução da área plantada, porque o preço mínimo supera o custo operacional de produção, estimando pela OCEPAR em R$ 73,5/saca e para uma produtividade de 35 sacas/hectare. Ao contrário, neste caso o próprio preço mínimo funciona como indutor ao aumento da área plantada, como constatei pessoalmente em consulta a diversos produtores, de diferentes regiões do Paraná.

            Ainda, deve ser considerada neste balanço a importação do produto argentino, entre 50 a 100 mil toneladas, que ocorre todos os anos.

CONCLUSÃO  

O quadro exposto sinaliza ser recomendável: a redução na área plantada da primeira safra de milho, a manutenção na do feijão e o aumento na da soja; a diversificação das épocas de plantio, respeitando o período indicado pelo zoneamento agrícola; a racionalização do uso dos insumos, evitando qualquer desperdício; e evitar o aumento do endividamento, porque a rentabilidade dos produtores tenderá a ser baixa.

(*) Eugenio Stefanelo. Professor da UFPR, da FAE Business School e técnico da CONAB.

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