Cirilo Thomas
(*)
Imaginação. Imagine um banco que não visasse o lucro
e emprestasse dinheiro a taxas menores - bem menores - do que estas cobradas
atualmente no mercado financeiro. Imagine um banco que remunerasse melhor
- bem melhor - as aplicações financeiras dos seus clientes.
Um banco cujo capital fosse controlado e gerido, democraticamente, pela
clientela. Agora, imagine esta improvável instituição
financeira destinando os resultados das suas operações para
beneficiar a eles - sempre eles! - os clientes.
Tente imaginar a seguinte cena: a diretoria do nosso inimaginável
banco distribuindo, no final do exercício, resultados entre os
clientes - olha eles, aí, de novo! - na proporção
de suas transações com a instituição. Faça
mais um esforço e tente imaginar este banco trabalhando exclusivamente
para promover o desenvolvimento sustentável de suas comunidades,
adotando apenas políticas aprovadas - adivinhe por quem? - acertou,
pelos clientes.
Apenas duas pequenas correções: 1) esta solidária
e democrática instituição financeira, embora preste
todos os serviços de um banco (concessão de crédito,
captação de depósitos à vista e a prazo, cheques,
prestação de serviços de cobrança, custódia
e outros), exatamente como um banco comercial, não é propriamente
um banco, é uma cooperativa de crédito mútuo; e 2)
os seus clientes não são clientes, são cooperados
ou associados.
Infelizmente, a maioria dos brasileiros não sabe que instituições
financeiras como esta que acabamos de imaginar não só existem
como crescem no País campeão mundial de juros altos. Em
1995, as cooperativas de crédito representavam 0,44% do total de
operações de crédito na área bancária
do Sistema Financeiro Nacional. Ano passado, 2,56%. Em 1993, havia 877
cooperativas de crédito no Brasil. Em 2004, 1.436. Somos apenas
dois milhões de brasileiros ligados a cooperativas de crédito.
É muito pouco. Na Alemanha, o sistema reúne 15 milhões
de associados e responde por cerca de 20% de todo o movimento financeiro-bancário
do país. Nos Estados Unidos, há mais de 12 mil unidades
de atendimento cooperativo apenas no sistema Credit Union National Association.
O que falta para sermos mais cooperativistas neste imenso País
de gigantescas desigualdades? Seria cultura, coragem, marketing ou imaginação?
(*)Presidente da Central das Cooperativas de Crédito Mútuo
- RS e da Cooperativa de Crédito Mútuo dos Empregados do
Banrisul.
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