Opinião: A interiorização da economia brasileira
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* Dilceu Sperafico
Com
a crescente insegurança nas grandes cidades, elevação de
custos e da carga tributária e avanços da tecnologia, o desafio
da geração de novos empregos não está mais restrito
à criação de novas empresas. É o que revela o Cadastro
Geral de Empresas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), divulgado na 1 ª quinzena de outubro. O estudo mostra que o crescimento
do número de empresas no Brasil não apresenta expansão
equivalente de novos postos de trabalho. As empresas estão empregando
menos. Para justificada preocupação de autoridades e, mais ainda,
dos trabalhadores, está caindo o número médio de empregados
por empresa no Brasil, que tanto necessita de novos empregos. A média
de pessoas ocupadas por empresa era de seis em 1997 e caiu para cinco em 2002.
A queda foi de 16,6%. Para piorar a situação, a tendência
é que o fenômeno se acentue cada vez mais. No período, foram
criadas 1,5 milhão de novas empresas no Brasil, mas nos novos empreendimentos
o número médio de ocupações ficou em 3,35. A situação
só é menos preocupante no interior, devido à descentralização
da economia nacional.
Conforme o levantamento do IBGE, entre 1997 e 2002 o número de empresas
no Sudeste, por exemplo, cresceu 37,9%, enquanto o aumento do número
de vagas ficou em 17,7%. A região possui 1.484 empresas por município,
contra a média nacional de 867. Essa concentração, no entanto,
está mudando. Enquanto o número de novas empresas cresceu 41,6%
no Brasil, a expansão foi de 37,9% no Sudeste, 40,2% no Sul, 50,3% no
Nordeste, 51,4% no Centro-Oeste e 56,2% no Norte. O crescimento de número
de empresas nas regiões menos desenvolvidas e fora das capitais e grandes
centros urbanos, confirma tendência da interiorização da
economia.
A migração tem diversas justificativas, como incentivos fiscais
e infra-estrutura oferecidos pelos pequenos e médios municípios
no esforço pela atração de novos investimentos, melhores
condições logísticas, disponibilidade de matérias-primas
e mão-de-obra qualificada, redução de custos, melhor qualidade
de vida e questões de segurança. No Sudeste, no mesmo período,
o aumento do número de trabalhadores ocupados foi de 6,1% nas capitais
e de 25,6% nos demais municípios.
No Sul, 81% da produção industrial já está fora
das capitais. Entre 1997 e 2002, o percentual de empresas nas capitais da região
caiu de 32,4% para 30,6%. São Paulo e Rio de Janeiro, que possuem os
maiores centros urbanos do país, apresentaram o menor crescimento relativo
na geração de empregos. Nas capitais houve crescimento do número
de empresas de 33,9% e de novos empregos de 11,4%. No interior, a expansão
média foi 45,5% e 31,8%, respectivamente. Em 1997, de todas as empresas
brasileiras, 32,4% estavam nas capitais. Em 2002, o percentual caiu para 30,6%.
Já a proporção de firmas do interior subiu de 67,6% para
69,4%. O estudo igualmente revelou que a “mortalidade” de empresas
caiu de 12% para 10,9% no período. Outra informação importante
foi o crescimento das empresas sem empregados no país. Entre os anos
de 2001 e 2002, o número de proprietários e sócios de empresas
cresceu 12,3%, contra expansão de 5,7% dos assalariados. No período,
o número de empresas formadas pelos donos saltou de 2,9 milhões
para 3,1 milhões. São números que refletem a realidade
nacional e merecem nossa profunda reflexão.
* Dilceu Sperafico é deputado federal pelo Paraná.
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