OPINIÃO: A crise agrícola e o interesse nacional
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Por Eduardo Sciarra (*)
Na semana passada, Brasília foi palco de uma gigantesca manifestação da família rural brasileira. A “tratorada”, estacionada entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional lotando o gramado da Esplanada dos Ministérios, traduziu o grito de angústia e alerta que esses homens e mulheres corajosos e trabalhadores lançaram ao governo Lula, do qual ainda aguardam uma reação efetiva às suas reivindicações.Angústia, porque uma conjunção de fatores internos e externos desfavoráveis atingiu em cheio o agronegócio brasileiro no último ano: seca de proporções inéditas na Região Sul devastou gravemente as áreas produtoras de arroz do Rio Grande e trouxe prejuízos às culturas de soja, milho, algodão, e cana-de-açúcar do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul; uma abundante oferta de grãos no mercado internacional, aliada ao dólar em queda livre, forçou uma pesada baixa no preço dos gêneros produzidos; enquanto isso, o preço dos insumos (implementos agrícolas, óleo diesel e defensivos) não parou de subir. O dinheiro que esses agricultores ganharam nos anos anteriores foi reaplicado no aumento da produção, na expansão da área de cultivo e na compra de novos equipamentos e, agora, ou está perdido ou transformou-se em um pesadelo de dívidas. Dívidas com o sistema financeiro, especialmente com o Banco do Brasil. Dívidas com as cooperativas. Dívidas com os comerciantes fornecedores de insumos, com os postos de combustíveis – enfim, dívidas que estão arrastando municípios inteiros para a estagnação e a quebradeira. Mas, o grito que veio do campo e ecoou forte na capital federal também traduz um Alerta, porque, sem refinanciamento desses débitos, simplesmente não haverá recursos para se plantar a próxima safra. E aí não será a família rural brasileira a única a sair perdendo. O interesse nacional ver-se-á seriamente afetado pelo abalo na balança comercial brasileira.Vale lembrar que, em 2004, o agronegócio foi responsável por um superávit de 34 bilhões de dólares, tendo importado apenas 5 bi e exportado 39 bi.Já cenário para a safra 2005/2006 se afigura inteiramente diverso (e adverso): se o governo federal não autorizar o refinanciamento, o Brasil será condenado a importar alimentos e dizer adeus aos bons tempos em que agricultura sustentou o ótimo desempenho exportador da nossa economia – e isso a despeito do descaso histórico pelas péssimas condições da nossa infra-estrutura logística e de transportes, o que encarece brutalmente o custo de se levar os grãos, por exemplo, da Região Centro-Oeste até os portos, para não falar da espada de Dâmocles que paira ameaçadora sobre a cabeça de quem produz e vive realmente da terra, representada pelas invasões do MST, às quais seus aliados petistas infiltrados na máquina do Incra fazem solene e entusiástica vista grossa! Os manifestantes da semana passada em Brasília voltaram para casa com algumas conquistas importantes, a saber: a decisão do governo de repassar recursos do FAT da ordem de R$ 1 bilhão, mais R$ 3 bilhões do BNDES a juros de 8,75%, e a liberação do seguro agrícola e da importação de insumos. No entanto, para que o agronegócio seja capaz de continuar ajudando o País a crescer, exportar e colocar comida na mesa dos brasileiros, é preciso resolver sérias questões ainda pendentes da pauta de reivindicações: novo preço mínimo garantido para o arroz – hoje perigosamente abaixo do custo de produção – e o refinanciamento global, e não caso a caso, das dívidas dos produtores. Repito: a resposta final do governo Lula a esses pleitos será o grande teste do seu apreço à família rural brasileira e, também, do seu compromisso com o interesse econômico nacional. (*) deputado federal pelo PFL/PR |