OFERTA E DEMANDA: Arroz e feijão perdem espaço na mesa e no campo

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A mudança nos hábitos de consumo dos brasileiros vem impactando diretamente as decisões dos produtores rurais no campo. A dupla mais famosa do cardápio nacional – o feijão e o arroz – sente ano a ano os efeitos dessas transformações alimentares da população. Embora o consumo total de feijão e arroz esteja aumentando em virtude do crescimento do número de habitantes, a média per capita anual vem caindo, segundo dados oficiais. Enquanto na década de 1960 uma pessoa consumia, em média, 25 quilos de feijão por ano, atualmente essa média é de 17,2 quilos por pessoa, conforme último levantamento realizado pela Embrapa Arroz e Feijão. 


Área cultivada - A troca do combinado que já esteve muito mais presente na mesa dos brasileiros pressionou a área cultivada com os dois produtos nos últimos anos. No caso do feijão, a redução, tanto da área total como da produção, deve ser de 5%. De 4 milhões de hectares cultivados no Brasil durante o ciclo 2010/11, somente 3,8 milhões de hectares voltaram a receber as sementes de feijão em 2011/12.


Paraná - O Paraná, maior produtor nacional do grão, reduziu ainda mais suas apostas, 15% no último ano, de 522 mil hectares para 444 mil hectares. Além disso, a seca que atingiu a principal colheita de feijão do estado, deve pressionar em 20% a produção final paranaense, que deve alcançar 5,1 milhões de toneladas, contra 4,3 milhões colhidos em 2010/11.


Novas pressões - Apesar da ligeira recuperação do consumo per capita na década de 1990, o produto pode sofrer novas pressões daqui para frente. “Com o aumento do poder aquisitivo, a tendência é que haja crescimento no consumo de carnes em detrimento do feijão”, afirma Alcido Wander, supervisor de transferência de tecnologia da Embrapa Arroz e Feijão. “Além disso, a mudança dos hábitos alimentares das novas gerações, exposta a um leque muito amplo de alimentos industrializados e fast food, deve comprometer a queda no consumo tanto de arroz como de feijão”, acrescenta ele.


A hora da aposta - No campo, a demanda, que por sua vez, guia os preços, é que definem as apostas dos produtores na hora do plantio, explica o analista de mercado Marcelo Lüders, da Correpar. Ele lembra que em agosto do ano passado – período de plantio da safra de verão – o preço da saca de feijão carioca no Paraná era de R$ 80. Diante do preço, considerado baixo, e dos riscos climáticos, boa parte dos produtores acabou optando por reduzir a área e apostar em culturas mais rentáveis, como o milho e a soja.


Produtor - Este é o caso de Jesse Ricardo Prestes, produtor de Castro, nos Campos Gerais. Ele reduziu de 30% para 20% a área destinada ao cultivo do feijão na última safra. Menos sensível às variações climáticas, a soja foi à cultura escolhida para ocupar o espaço vago na lavoura, já que o preço do feijão era desfavorável. “O feijão vale mais no mercado, mas também oferece mais riscos. Depois de três anos de prejuízo é natural que o produtor comece a buscar alternativas”, afirma ele. Mesmo com a redução da área e a produtividade comprometida pela estiagem, o produtor espera colher 10 mil sacas de feijão na segunda safra, que começou a ser colhida agora no Paraná. Como houve queda na produção, Prestes acredita que vai se beneficiar dos bons preços do produto no mercado interno. 


Valor - Hoje, uma saca do feijão carioca vale, em média, R$ 190.


Quebra de safra no Sul eleva preços até maio - A escassez de feijão no mercado, provocada pela quebra de safra no Sul do país, especialmente no Paraná e Rio Grande do Sul, está fazendo com que os consumidores paguem mais pelo quilo do produto nas gôndulas. O quilo do tipo mais consumido no país, o carioca, subiu 46% em quatro meses, saltando de R$ 1,90 para R$ 5, segundo dados da Correpar. 


Feijão preto - Já o feijão preto foi o que registrou a maior alta de janeiro para fevereiro, 14,4% conforme o Índice de Preços ao Consu­midor Amplo (IPCA) de fevereiro, medido pelo IBGE. O aumento foi o maior registrado na categoria alimentos, que inclui carnes, vegetais, grãos, café e açúcar. Segundo o analista de mercado da Correpar Marcelo Lüders, os preços do feijão devem continuar altos até maio, quando começa chegar ao mercado a segunda safra, que foi plantada em janeiro. 


Produtor aproveita - Para os produtores, por outro lado, o momento é favorável. No Paraná, a redução de quatro mil hectares na área de cultivo e queda de 20,5% na produção fez o preço da saca de feijão carioca saltar de R$ 95 em novembro de 2011 para R$ 190 em fevereiro. Quem arriscou e manteve a mesma área de plantio do grão, está conseguindo recuperar parte das perdas dos últimos três anos. O produtor Eduardo Medeiros, de Castro, nos Campos Gerais, é um deles. Ao contrário da maioria, Medeiros mantém em 200 hectares a área que utiliza para o plantio do grão há 20 anos. Como estratégia para minimizar as perdas climáticas ele passou a escalonar a safra, fazendo o plantio em outubro, novembro, dezembro e janeiro.


Estimativa - Apesar da quebra, ele estima colher oito mil sacas até o final de abril. “Plantar feijão é como jogar pôquer, você não pode abandonar a mesa no meio do jogo”, diz ele, referindo-se aos altos e baixos de quem trabalha com a cultura. (Caminhos do Campo / Gazeta do Povo)

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