O PROVIDENCIAL SUBSÍDIO DA UNIÃO EUROPÉIA - Especial - Visita Técnica à Europa

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A comitiva da Faep que realiza visita para conhecer a realidade agrícola da Europa está impressionada com a Espanha. Quando chegamos, entrando pelas costas do Mediterrâneo, por um longo trecho vimos uma região desértica, depois o semi-árido e, por fim, próximo a Madri, os campos em preparação para o próximo plantio. Mas os rios, os lagos e as pequenas represas nas propriedades estão, com rarissimas exceções, sem nenhuma proteção verde. Aliás, o próprio verde, do Mediterrâneo a Madri (por avião) e de Murcia até Barcelona, nos mais de 600 km feitos de ônibus, é muito raro. As frutíferas plantadas em todos os cantos, em todas as propriedades e inclusive nas frentes e fundos das casas nas cidades, são a única paisagem verde constante.

Mas são baixas, parecendo raquíticas, e se desenvolvem graças à ferti-irrigação. Nas regiões de Murcia e Valência a chuva é um raro presente da natureza e não ultrapassa aos 300 mm por ano, quando não os 200. Por isso, sistemas milenares de irrigação construídos pelos romanos ou mouros hoje dão lugar a sistemas modernos. Como não se irriga as montanhas, pois ali o é quase só pedra, a fruticultura se desenvolve nas poucas planícies à beira de leitos secos dos rios temporários ou numa faixa estreita de terra entre o mar Mediterrâneo e as montanhas.

O fato é que aqui se tira o sustento do pouco solo que sobra das pedras, muitas vezes retiradas para fazer patamares. Os plantios de frutíferas impressionam pois são vistos em qualquer lugar, em todo o momento que se procura ver um lugar diferente. Os integrantes da comitiva da Faep não se cansavam de repetir que no Brasil estamos no céu, com tanta terra e tanta água. E aqui eles fazem milagres. E qual a razão do Milagre?

O dinheiro fácil e abundante da União Européia.

Nos disseram na cooperativa Villa Real que os subsídios são fartos: na base de 1/3 da UE, 1/3 do governo local e 1/3 do agricultor, pago em 15 anos, depois de dois anos de carência, com juros de apenas 5% sobre a terça parte. Os subsídios cobrem, por vezes, a implantação do pomar, a indústria, o equipamento de irrigação, os equipamentos das cooperativas e sistemas de informática. Assim, fica fácil produzir para atender ao mercado europeu. A Espanha, apesar de ter um clima e um solo inóspitos nessa região, é o melhor país da Europa para produzir frutas de clima tropical.

E os espanhóis estão aprendendo a respeitar as leis do mercado, produzindo com qualidade as variedades demandadas pelos consumidores. Primeiro querem saber o que o mercado quer e que preço paga, para depois produzirem de acordo com as exigências dos consumidores. Eles também sabem que nem sempre o mercado é favorável e que, neste momento, caem os incentivos na comercialização para que os preços se recuperem.

Diante dessa realidade, diretores de cooperativas que acompanham a comitiva perceberam que os agricultores brasileiros também têm a mesma capacidade dos espanhóis e outras vantagens, como a água abundante e o solo fértil. Mas, e os subsídios da UE e dos governos? Decididamente, não podemos produzir sem esse apoio. Comparando com a atenção da União Européia aos agricultores espanhóis, os brasileiros se sentem completamente abandonados à própria sorte e sem outra opção senão continuar produzindo o trivial, que tão pouco valor agrega.

Nos próximos dias visitaremos França, Alemanha e Itália onde as lideranças da comitiva da Faep e os jornalistas esperam compreender melhor a razão do apoio, aqui, e do abandono do agricultor brasileiros pelas suas autoridades.

Eloy Olindo Setti, de Barcelona, Espanha, para o Informe Diário Paraná Cooperativo.

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