Mobilização mostrou descontentamento da agricultura

  • Artigos em destaque na home: Nenhum

Polícia Militar estimou 12 mil pessoas no ato de protesto
Procedentes de quase todas as regiões do Paraná, cerca de 12 mil produtores rurais participaram ontem (31), em Londrina, de manifestação contra a política econômica para o campo. O protesto – marcado por fortes críticas aos governos federal e estadual – mobilizou aproximadamente 250 ônibus, 300 tratores, 200 caminhões e acima de 500 veículos do Norte, Noroeste, Centro-Oeste, Sudoeste e Oeste. Em Ivaiporã, região central, 1.200 agricultores também estiveram reunidos com a mesma finalidade. Embora o movimento tinha sido organizado para ter apenas caráter reivindicatório, acabou acabou ganhando contornos de forte protesto contra a política econômica do governo federal para o campo.

No pedágio de Rolândia da BR-369, por volta das 9 horas, era grande o volume de ônibus vindos de várias regiões do Estado. Agricultores inconformados refletiam o pensamento em enormes faixas estendidas do lado externo dos ônibus. Num deles, com dezenas de agricultores mobilizados pelo Sindicato Rural de Maringá, o protesto na faixa: Para quem especula e invade, todo apoio! Aos produtores rurais, recursos insuficientes e desestímulo!

Em dado momento, os manifestantes se recusaram a pagar o pedágio e a concessionária foi obrigada a franquear a passagem. A seguir, uma fila de mais de 10 km com centenas de ônibus, caminhões, tratores e veículos leves avançou até chegar diante do parque de exposições Ney Braga, em Londrina. A manifestação, marcada para as 11 horas, começou com mais de uma hora de atraso em função do número de participantes.

Descontentamento
Antes de começar o protesto, os manifestantes procuravam externar seu descontentamento por conta da profunda crise da agricultura. Sérgio Fumihiko Adamya, dono de cinco alqueires e com mais 50 alqueires arrendados em Warta, distrito de Londrina, esperava colher 5.000 sacas de soja nesta safra. Ao final, por causa da estiagem e situação agravada pelos baixos preços e custos elevados, colheu não menos de 3.000 sacas. “Não vou cobrir nem os custos e não vou plantar trigo. Pra que?” – questiona. Ele diz que, juntamente com o irmão Celso, se não plantasse folhosas em quatro alqueires, estaria “mais quebrado do que arroz de terceira”. Ele confidencia ter vários amigos que, não tendo uma segunda alternativa de renda a não ser a produção de grãos, já começam a vender máquinas e até parte da propriedade. Perderam dinheiro por colocarem recursos próprios e não possuem condições de pagar cooperativa, banco e fornecedores de insumos.

José Aroldo Galassini, presidente da Coamo, a maior cooperativa singular da América Latina e com sede em Campo Mourão, reconhece a inadimplência dos produtores como também a reação em cadeia em empregos, no comércio e na indústria. “O governo precisa prorrogar as dívidas sem que o agricultor perca o limite de crédito”, comenta. Para José Antônio Borghi, produtor de grãos nas regiões de Maringá e Campo Mourão e presidente do Sindicato Rural de Maringá, o governo ainda não se deu conta do “tamanho do estrago se não refinanciar as dívidas pendentes junto a cooperativas e fornecedores”.

Dificuldades
Este também foi o tom dos discursos durante a manifestação. Ágide Meneguette, presidente da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), que apelou para a necessidade do atendimento do pedido por uma “questão de sobrevivência do campo”. Ele diz estarem os agricultores indignados porque, embora chamados de “salvadores da pátria”, são obrigados a comercializar a safra com o dólar a menos de R$ 2,40. Plantaram – compraram insumos – com a moeda americana cotada em R$ 3,10. “Ninguém consegue cobrir nem os custos”, diz. Ele acredita que, nas atuais circunstâncias, a própria política econômica oficial desestrutura os setores produtivos, empurrando-os para a insolvência e facilitando a importação de alimentos.
Para João Paulo Koslovski, presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), pelo menos R$ 12 bilhões deixam, neste momento, de circular na economia paranaense por conta dos fatores combinados da crise na agricultura. Neste ano, os custos de produção subiram 25% em média, houve queda nos preços dos principais produtos agrícola entre 25 e 37%. Somente por conta da supervalorização do real, o produtor perde R$ 0,70 por dólar obtido na exportação, comparativamente a maio do ano passado. Por isso que apenas 30% da safra de soja encontra-se comercializada. Como reflexo, o país deixará de faturar na exportação de soja e milho, neste segundo semestre, cerca de R$ 11 bilhões. Culpa da política cambial desestimulante.

Enquanto Edson Neme Ruiz, presidente da Sociedade Rural do Paraná, acusava o governo de “brincar conosco” argumentando que, sem paz no campo não existe ordem e progresso nas cidades. O presidente da Assembléia Legislativa, deputado Hermas Brandão, assegurou não poder a agricultura viver mais de medidas paliativas e nem de soluções emergenciais. O deputado federal Abelardo Lupion, da bancada ruralista, disse: “os produtores rurais não podem viver de pires na mão”. E anunciou projeto de sua autoria para completa securitização das dívidas rurais a ser apresentado no próximo dia 8, na Câmara Federal.

Último a falar, o senador Osmar Dias afirmou que “a situação atual é conseqüência de se acreditar em promessas e mentiras de governos que assim se instalam no poder. Prometem o céu e entregam um inferno de dívidas”. Acusou o governo de não honrar o seguro agrícola, pelo aumento da corrupção e por repassar aos banqueiros, somente de juros ano passado, US$ 12 bilhões de dólares que deveriam ser investidos em setores produtivos, a exemplo da agricultura. Conclamou a todos a analisar melhor no momento da escolha política: “As pessoas devem ser escolhidas não pelo que elas dizem, mas pelo que elas fizeram”. (Com informações da Assessoria de Imprensa da Faep).

Conteúdos Relacionados