Instituições Financeiras das Comunidades

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(*) Seno Cláudio Lunkes

Num momento em que o governo e a sociedade valorizam o Cooperativismo de Crédito, é justo nos posicionarmos sobre a importância social e econômica dessas instituições financeiras, abordando alguns aspectos sobre o seu ressurgimento e atual desenvolvimento.

A primeira cooperativa de crédito no Brasil foi constituída em 1902, em Nova Petrópolis, no RS, pelo padre suíço Theodor Amstad, que atuava entre os colonos imigrantes alemães estabelecidos naquela região. Embora coubesse ao sacerdote assistir religiosamente os seus fiéis, bem sabia que era preciso buscar fórmulas de resolver os problemas econômicos, o que teria repercussão social e religiosa.

Num de seus escritos, o padre Theodor relatava o pequeno valor dos bens produzidos pelos agricultores na hora de trocar por bens de consumo. A carroça carregada de produtos era dada em troca de utensílios e bens de consumo que podiam ser carregados nas mãos. Foi diante dessa realidade que surgiu a idéia da constituição da primeira cooperativa de crédito, tornada realidade após muitas reuniões, onde as discussões, dúvidas, confiança e incredulidade permeavam os posicionamentos dos imigrantes. Coube ao sacerdote dar informações convincentes sobre a importância do Cooperativismo, que então já era realidade na Europa, para que a Sociedade Cooperativa Caixa de Economia e Empréstimos de Nova Petrópolis se tornasse realidade.

Superadas as dificuldades iniciais, o sistema se expandiu a ponto de se contabilizar, nos anos 60, só no Rio Grande do Sul, 66 cooperativas de crédito com papel expressivo no sistema financeiro. Com a aprovação da reforma bancária - Lei 4595/64 - e a institucionalização do crédito rural - Lei 4829/65, as restrições normativas e a perda de competitividade praticamente fizeram desaparecer as cooperativas de crédito existentes no Brasil.

Como a proposta do governo de suprir a demanda por crédito rural não foi cumprida, as lideranças cooperativistas decidiram retomar a luta pelo desenvolvimento das cooperativas de crédito, apesar das grandes restrições. Enquanto o sistema financeiro privado atuava livremente, as cooperativas de crédito só podiam ser constituídas no âmbito das cooperativas agropecuárias, não podiam abrir unidades de atendimento fora da sede nem captar recursos. Apesar desse desestímulo, as cooperativas ressurgiram e, aos poucos, convenceram as autoridades a retirarem as restrições legais.

Hoje, só o Paraná tem 50 cooperativas de crédito rural filiadas e urbanas filiadas à Ocepar, com cerca de 180 mil associados em 280 unidades de atendimento, perfazendo quase 20% do total de agências das instituições financeiras. Apenas no Sicredi, em 2003 houve mais de 30 mil novas adesões às cooperativas de crédito.

Mas não é só: as cooperativas são instituições profissionalizadas, atuando sob rígido controle do Banco Central, e a maioria está integrada em sistema. O Sicredi, por exemplo, oferece aos seus associados uma segurança extra, que é um fundo garantidor dos depósitos, de forma que na hipótese de uma cooperativa entrar em dificuldade, o fundo garantirá a totalidade dos recursos aplicados pelos associados.

Surgidas primeiro entre agricultores, as cooperativas de crédito já beneficiam trabalhadores urbanos, como profissionais de saúde, do Judiciário, empresários e cartorários. E novas categorias profissionais estão se organizando para constituírem suas instituições financeiras. Será o fim dos bancos? Não! É a busca do equilíbrio entre grandes grupos financeiros capitalistas e instituições financeiras cooperativas voltadas para a administração dos recursos de seus associados.

Embora os principais sistemas de crédito cooperativo (Sicredi, Unicred, Sicoob e cooperativas de crédito rural), atuem de forma independente, a Ocepar coordenou a constituição Ceco - Conselho Especializado de Crédito, com objetivo de organizar o funcionamento, a troca de informações e a busca de soluções comuns a problemas que surgem no setor.

A pergunta que todo leigo se faz é sobre as razões desse expressivo crescimento das cooperativas de crédito em recursos administrados e em número de associados.

A primeira resposta é porque as cooperativas de crédito estão se estabelecendo como instituições financeiras das comunidades onde atuam, estabelecendo um compromisso com o seu desenvolvimento, realizando parcerias e apoiando as realizações dessas comunidades. Esse diferencial, aliado ao fato de que os recursos aplicados pelos associados ficam em suas cidades de origem, é o diferencial do Cooperativismo de Crédito que o impulsiona a um crescimento significativo, que pode colocá-lo em igualdade ao de países europeus.

Na Alemanha, país que inspirou boa parte da formatação do Cooperativismo de Crédito do Paraná, as cooperativas de crédito administram quase 30% de todo o sistema financeiro. Na Holanda, na França, na Itália, no Canadá, nos EUA, no Japão e em outros países, capitalistas ou socialistas, o sistema ocupa destaque no cenário econômico. Agora é a nossa vez de mostrar que somos capazes de administrar, de forma cooperativa, nossos recursos financeiros. Com isso, além de pagar taxas de juros menores, vamos evitar a evasão dos recursos financeiros de nossas comunidades e forçar a redução gradual das taxas praticadas pela concorrência.

As cooperativas de crédito são daqui e os recursos ficam aqui. Com seriedade, estamos construindo um futuro melhor para nossas comunidades.

(*) Presidente do Conselho Especializado de Crédito da Ocepar e da Sicredi Central Paraná

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