INFLUENZA AVIÁRIA: Webinar aborda boas práticas de prevenção e controle adotadas nos EUA, México e Brasil
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Com a participação de 50 dirigentes e técnicos de cooperativas paranaenses, foi realizado na tarde desta quinta-feira (28/09), um webinar promovid pelo Sistema Ocepar, com a finalidade de debater as principais boas práticas adotadas no mundo com relação à prevenção e controle da Influenza Aviária. O Sistema Ocepar, em conjunto com outras entidades do setor produtivo e áreas governamentais realizam um trabalho de esclarecimento ao setor sobre os possíveis riscos com relação a presença da Influenza Aviária no país. O primeiro foco apareceu em maio deste ano no Estado do Espiríto Santo em uma ave silvestre. Desde então já são 100 focos, sendo 107 em aves silvestres e apenas duas de subsistência. No Paraná são 12 focos apenas em aves silvestres na região do litoral. “Todo esforço que estamos fazendo é para evitar que a doença chegue no setor produtivo. Os impactos seriam inimagináveis”, afirmou José Roberto Ricken, presidente do Sistema Ocepar, ao realizar a abertura do evento.
Riscos - Segundo o dirigente cooperativista, “riscos existem, por isso precisamos analisar as experiências que temos aqui no Brasil e também lá fora, como nos Estados Unidos e México na prevenção e controle da doença. O frango é um produto de fundamental importância para agregar valor a produção. A proteína animal é importante para alimentar o mundo e por isso temos que tomar todas as medidas possíveis para evitar o pior”, comentou Ricken. Ele ressaltou que no Paraná, desde que surgiu o primeiro foco da enfermidade, existe toda uma mobilização, semelhante o que aconteceu com a Febre Aftosa: “o Paraná realiza um trabalho exemplar, junto a todas as forças produtivas e entidades oficiais, com protocolos de cuidados necessários para evitar a entrada da enfermidade e caso chegue, quais serão as medidas emergenciais necessárias?”, destacou.
Relevância - O secretário da Agricultura, Norberto Ortigara, que também participou da webinar, enalteceu esta iniciativa do Sistema Ocepar em reunir especialistas internacionais e cooperativas para debater um tema de “altissima relevância”. Ele afirmou “que este assunto está sendo discutirdo com o setor desde os primeiros focos que apareceram no Brasil. Tomamos medidas preventivas, desde então, para evitar que entre na produção comercial, hoje estimada em 150 mil toneladas ano”. E completou: “somos parceiros para construção de uma bioseguridade para todos. O apelo que fazemos é que qualquer indício da presença da enfermidade em escala comercial, seja notificada de forma ágil, para que possamos dirimir os impactos a nossa economia e que produtores não sofram tanto. O nosso desafio, primeiro evitar o ingresso e segundo, caso entre, agir prontamente para controlar”, destacou Ortigara.
Convidados - Paraticiparam como convidados especiais, o médico veterinário, formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atualmente diretor global do setor do setor animal da Merck Sharp & Dohme – MSD, nos Estados Unidos, Fernando Vargas, o diretor do Serviço Nacional de Sanidade, Inocuidade e Qualidade Agroalimentar (Senasica) do México e da Comissão México e Estados Unidos na prevenção da Febre Aftosa e outras enferminades exóticas dos animais (CPA), Roberto Navarro López e a diretora Técnica da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Sulivan Alves. O evento foi conduzido pelo médico veterinário e analista da Gerência de Desenvolvimento Técnico da Ocepar, Alexandre Monteiro.
EUA - O primeiro a falar foi o diretor da MSD, Fernando Vargas. Ele iniciou citando uma frase do revolucionário americano, Benjamin Franklin: “falhar em preparar-se é preparar-se para falhar”. Segundo o especialista, desde 1966 que o hemisfério norte enfrenta surtos de Influenza (Canadá e EUA), num total de 11 focos ao longo dos anos. Contaminando aves silvestres, aves domésticas e comerciais, mamíferos selvagens e domésticos e seres humanos. “Temos alguns pilares importantes, que passa pela vigilância sanitária e monitoramento; outro é o tempo de reação quando é realizado um registro e o terceiro fator é indenização, feita com base no número de aves vivas, o que estimula o agricultor a notificar com rapidez os casos para não ter maiores prejuízos”, lembrou. De acordo com Vargas, “são vários os orgãos que realizam fiscalização como o WOAH, USDA, CDC, USGS e States. Reconhecemos quatro vias de imigração de aves e que são consideradas de alto risco e daí são feitos monitoramento com eficiência. Todos os estados americanos já tiveram algum foco de influenza. A novidade agora é os casos em alguns tipos de mamiferos, que acabaram ingerindo carcaças de animais infectados. Não há registro de contaminação por contato. Segundo o CDC, já foram contaminados até setembro de 2023, cerca de 59 milhões de aves e que foram abatidas pelo sistema de vigilancia. E um caso de contaminação humana, num trabalhador que participava do abate de aves contamindas”, disse.
Transparência - Fernando Vargasa afirmou que um dos pontos importantíssimos é a transparência com as informações e comunicação para sociedade como um todo. “A falta de informação é o que existe de pior numa crise de epidemia. Um exemplo o que aconteceu com a pandemia da Covid-19. Por isso é preciso ter um processo transparente e aberto com materiais de divulgação didáticos, orientando o que deve ser feito no caso da entrada deste surto”. Segundo o especialista, no decorrer do tempo algumas estratégias foram mudando e se aperfeiçoando. Ele cita com principais a colaboração entre os governos Federal/Estaduais e da iniciativa privada; logistica e comunicação (tempo de reação); avaliação rápida (identificação do vírus) e indenização - reporte imediato (em menos de 24h). Complexo mas necessário, tanto por parte do governo como pela iniciativa privada. Melhores métodos para sacrifício e descarte dos animais afetados e carcaças e eliminação do vírus. “A Influeza Aviária é uma doença econômica, comercial e política, que afeta a todos. O Brasil não é o primeiro exportador mundial de carne de frando a toa. Por isso a transparência em reconhecer que a doença existe é fundamental e mostrar o que está sendo feito”, lembrou.
Futuro - Sobre o controle da doença e o futuro, Vargas destacou alguns pontos que serão necessários para que os impactos sejam menores: contratação de mais profissionais, técnicos e veterinários; capacitação e educação contínua, fundos de emergência, laboratórios, vigilância epidemiológica, disponibilidade de vacinas e antivirais, indenização (não é sustentável), transparência e implementação urgente de medidas de prevenção de controle e erradicação. Sobre a vacina, Vargas disse que “a questão é a capacidade de produção do imunizante. Sabemos que o Peru e o México já realizam”.
México - Segundo o diretor do Senasica, Roberto Navarro López, “no México o primeiro caso registrado foi em outubro de 2022, um marco para o controle no reforço da biosegurança no setor. Quando temos suspeita de algum caso, imediatamente aplicamos quarentena e eliminamos aves contaminadas. Em alguns lugares temos granjas onde existem passagens de aves silvestres imigratórias. Protegemos as atividades que nos dão a seguridade alimentar, entre elas a indústria avícola que é responsável pela proteína mais barata. Mas não é a única, mas sim a agricultura de substência de milhões de pessoas. Também protegemos de aves silvestres e a próprio a saúde pública, já que todos os vírus de tipo A que se conhece, existe a possibilidade de infectar outros animais e mesmo o homem”.
Biossegurança - Dentre as medidas de controle da Influenza Aviária no México, a biossegurança desempenha um papel importante na prevenção, controle e disseminação do vírus. “Fiscalização da qualidade da segurança das granjas para evitar a entrada de diferentes animais. Após tudo certo damos certificação da granja ao produtor. Os banheiros para os trabalhadores também são fiscalizados, para que possam tomar banho e depois trocar de roupa para que cumpra com todos os procedimentos. Locais corretos pra eliminção de mortalidades de aves com todos os procedimentos de acordo com a sanidade. Tratamento térmico dos excrementos das aves, certificado por profissionais capacitados. Temos mais de 20 mil pontos de fiscalização no país. Todas as granjas do país precisam estar registradas junto ao Senasica e dentros dos padrões de biosegurança. O país esta dividido em oito cordenações regionais com 88 médicos veterinários”, comentou Navarro López.
Estratégias - Todas as Unidades de Produção Avícola (UPAs) devem estar devidamente registrados no Sader, precisam ter um médico veterinário responsável autorizado (MVRA) na área avícola. Ter o comprovante oficial de cumprimento do Medidas Mínimas de Biossegurança (MMB). Possuir certificado oficial de mobilização com resultado negativo para lA pelo teste RT-PCR. Empresas produtoras de pintos de 3 dias e reprodutores de galinhas só podem mobilizar UPA's desde que a granja de destino tenha registro e MVRA. “Tudo que produzimos de carne de frando consumimos, não exportamos, pelo contrário, importamos para abastecer nosso mercado interno”.
Vacina - Sobre a vacina, Navarro López disse que o México utilizou em larga escala. “Os produtores querem a vacina mas não é a única ferramenta para controle que temos. Demostramos com estudos que 42% das granjas estavam vacinadas. Só que percebemos que o o cansaço dos trabalhadores em vacinar tantas aves durante o dia, pode colocar em risco a imunização. Então, a vacina é boa, mas a vacinação acaba não sendo por esses fatores”. O México tinha 56 focos e que hoje estão controlados. “Nos declaramos livres da influenza, a vacina só foi emergencial”. López se colocou a disposição das autoridades brasileiras. “Somos países irmãos e estamos a disposição do Brasil para podermos contribuir naquilo que for necessário”.
Brasil - Já a diretora técnica da ABPA, Sulivan Alves falou sobre todas as providências que foram tomadas pelo Brasil quando os primeiros focos foram destectados pelo Mapa. Segundo ela, mesmo antes de aparecer a doença em aves silvestres, Em 2007, foram adotada algumas medidas preventivas. “Uma delas foi com a Instrução Normativa 56/2007 com uma série de exigências de segurança para vários tipos de ameaças. Precisamos reforçar e não esperar o problema. Não podemos evitar que as aves sobrevoem nossas cabeças mas evitar que elas façam ninhos. Não existe risco zero, mas precisamos unir esforços com todos os atores para que a doença realmente não chegue nas granjas brasileiras”, lembrou.
Ações estratégicas - A especialista disse que “inicialmente ficamos monitorando as rotas das aves silvestres e a partir do momento que contaminaram aves domésticas, mudamos de foco. Muitos se perguntam por que a doença não alcançou as nossas granjas? Graças a toda bioseguridade, mobilização imediata de todos os atores (governo e iniciativa privada) além de travas para acessos de outras aves. Medidas preventivas da suspenção a criação de aves em ar livre e emergência zoosanitária”. Sulivan lembrou que foi instalado o Centro de Operações de Emergência Agropecuária e o Mapa agiu rápido e solcitou um aporte financeiro para poder enfrentar a crise. Hoje temos um Plano de Contigência para Emergências Zoosanitárias por parte do ministério”.
Laboratório - O laboratório de referência no Brasil é o LFDA de São Paulo, reconhecido Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) como laboratório de referência em diagnóstico de IA e de Doença de Newcastle (DNC), e tem oferecido suporte essencial a países da América Latina na confirmação dos recentes casos prováveis. “Nós temos sim um bom procedimento de bioseguridade e produtores altamente tecnificados, um exemplo são as cooperativas que tem todo um cuidado de segurança e precisamos mostrar isso para os outros países. Como somos um país exportador, somos fiscalizados e investimos muito para isso”, disse a diretora técnica da ABPA.
Zoneamento - Ela disse que pela dimensão continental do Brasil, “é inadimissivel fazer uma restrição ao estado todo quando o foco é muito distante. Não há necessidade de restringir o tudo e impactar várias outras atividades regionais”, frisou. Zoneamento igual regionalização, porém não considera necessariamente uma divisão política (ex. estado) e sim uma área definida pela autoridade veterinária, contendo uma população animal ou subpopulação com um status de saúde animal específico com relação a uma infecção ou infestação para fins de comércio internacional ou prevenção ou controle de doenças.
Cenário otimista - Segundo normas oficiais de organizaões internacionais (OMSA), “se a infecção pelo virus da Influenza aviária de alta patogenicidade tiver ocorrido em aves de produção em um país ou zona anteriormente livre, o status de livre pode ser recuperado após um período mínimo de 28 dias após uma política de eliminação concluída, ou seja, após a desinfecção do último estabelecimento afetado”.
Medidas - À medida que a população humana mundial continua a crescer, a demanda por carne de frango e produtos avícolas aumentará. Isso enfatiza a necessidade de adoção adicional dos princípios do Código OMSA para Comércio Seguro de Aves e Produtos Avícolas, e implementação mais ampla de programas de vigilância nacionais e subnacionais com base científica em apoio à regionalização para a ausência de gripe aviária”, comentou.
O que fazer? - Ao concluir sua apresentação, Sulivan Alves apresentou alguns pontos fundamentais para que os avicultores tenham conhecimento em caso suspeito: não toque ou busque realizar o regate de aves com sintomas; acione mediatamente o Ministério da Agricultura ou as Secretarias de Agricultura dos Estados caso identifique uma ave com sintomas como: andar cambaleante. pescoço "deitado"; alta mortalidade de aves em uma área e comunique imediatamente às autoridades sanitárias, por meio do e-Sisbravet.