Indústrias de farinha de mandioca reduzem produção e empregos
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Somente com a intervenção do Governo Federal no mercado da mandioca será possível reverter o atual quadro de desestímulo que vive o setor, do Sul ao Norte do Brasil. Esta é a opinião do Presidente da Assimap (Associação das Indústrias de Derivados de Mandioca do Paraná), Adilton Ávila Viana, e do Secretário-Geral da Abeman (Associação dos Beneficiadores de Mandioca do Estado de Alagoas), Eloizio Barbosa Lopes Júnior, que afirmam, em único tom, que a mandiocultura brasileira está "no limite". Os reflexos que estão sendo sentidos em todo o país advêm da grande safra de mandioca deste ano, e da instabilidade dos preços da raiz. Conforme estimativas da Conab, o Brasil deverá produzir 26 milhões de toneladas de mandioca este ano. Com a alta produção os preços da raiz despencaram, gerando, como conseqüência, desestímulo à atividade. O argumento é que os custos para industrialização e de transporte não compensam o preço que o produto final está conseguindo obter no mercado, visto que a queda de preços afeta toda a cadeia produtiva.
Noroeste - De acordo com Viana, as 20 farinheiras do Noroeste do Paraná, associadas a Assimap, que, costumeiramente, comercializam sua produção de farinha para o Nordeste do Brasil, e para o Estado de São Paulo, deixaram de exportar o produto. "Com o preço atual não compensa vender no Nordeste. O território paulista, que fica mais perto, também teve auto-suficiência na produção de mandioca este ano, e reduziu as compras de farinha do Paraná", afirma ele. Pra se ter uma idéia dos parâmetros de preços, é possível se produzir um saco de 50 quilos de farinha para o Nordeste do país por R$ 20,00. Somados mais R$ 14,00 do transporte, os custos chegam a R$ 34,00, enquanto que o Nordeste está conseguindo oferecer farinha ao mercado por R$ 27,00 ou R$ 28,00. "Fica inviável competir", salienta Viana. Com isso as 70 farinheiras da região Noroeste do Paraná reduziram em 50% suas atividades nos últimos meses, deixando cerca de duas mil pessoas sem trabalho.
Medidas - Uma das medidas mais urgentes a serem tomadas, na sua análise, seria o Governo interferir no mercado, adquirindo produto. "Com a participação do Governo se daria um impacto no mercado", considera Viana, para quem o preço ideal para os leilões lançados pelo Governo deveria ser de R$ 120,00 a tonelada de raiz. A Abeman congrega 14 das maiores casas de farinha do Estado de Alagoas, nas quais a atividade está reduzida a um ou dois dias de trabalho por semana, o que contribui para engrossar a massa de desempregados do Brasil. Conforme Lopes Júnior existem na região agreste de Alagoas em torno de quinhentas casas de farinha, que geram cerca de cinco mil empregos diretos. Só as 14 associadas à Abeman empregam em torno de quinhentas pessoas, mas estão, atualmente, com 80 funcionários apenas.
Desaquecimento - Lopes diz que o Brasil inteiro está produzindo mandioca, o que contribuiu para desaquecer o mercado antes atendido por Alagoas. "Comumente, Sergipe e Pernambuco importam de Alagoas. Mas, este ano, eles estão abastecidos e deixaram de comprar". Em suas contas, Alagoas produz três vezes mais raiz que seu consumo interno. A produção do Estado é de 300 mil toneladas/ano, e o consumo de 100 mil toneladas. O território produz, anualmente, 33 mil toneladas de farinha de mandioca. O excesso de oferta de farinha reduziu os preços para R$ 20,00 a R$ 25,00 em Alagoas. "Se levarmos em conta o estudo realizado pela Embrapa, foi estimado custo de R$ 36,00 para a produção de um saco de farinha em nosso Estado. Seriam aceitáveis, hoje, preços entre R$ 30,00 e R$ 32,00", avalia Lopes Júnior.
Alternativas - De acordo com ele as alternativas apontadas pela Aberman no sentido de se melhorar o mercado da mandioca no País estão calcadas em duas vertentes: a interferência do Governo, através de compra de, pelo menos, 10 mil toneladas de raiz, para o Programa de Agricultura Familiar; e, a criação de um programa, dentro do Fome Zero, objetivando a distribuição de um quilo de farinha per capita/mês, a exemplo do que acontece com o leite, do qual é distribuído um litro/dia para 50 mil famílias cadastradas. "Já encaminhamos proposta ao Governo, com apoio do Ideral (Instituto de Desenvolvimento Rural de Alagoas), e estamos na expectativa de considerações do Governo a respeito", informa. (Assessoria Abam)