Fórum dos Presidentes II: Gremaud: Inflação de dois dígitos e ajustes na política social

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Falando na manhã de hoje para os dirigentes das cooperativas paranaenses que participam do Fórum dos Presidentes, o professor da USP, Amaury Patrick Gremaud, afirmou que a inflação brasileira deve alcançar os dois dígitos até o final do ano, mostrou-se favorável à reforma fiscal, que deverá se feita “aos poucos”, elogiou a reforma da Previdência, necessária e mais difícil de aprovar, e defendeu ajustes na política social promovida pelo governo em função da sobreposição de muitas ações e da dificuldade de obter eficiência para alcançar os pobres, que devem ser os beneficiados finais. Gremaud comentou as políticas econômicas do último governo e elogiou a política desenvolvimentista atual, que precisa fazer diversos ajustes para obter sucesso.

Tarifas públicas e inflação – Amaury Patrick Gremaud demonstrou que a crise de 1999, com a desvalorização da moeda, produziu um impacto fiscal significativo na economia, com o governo estabelecendo metas de busca do superávit fiscal, onde a carga de impostos subiu de 23 a 25% para cerca de 32% do PIB. O estancamento das fontes de financiamento em 2002 levou o Brasil a um grande acordo com o FMI e à alteração da forma de administração da dívida. A indexação das tarifas públicas ao dólar em função da privatização é, na opinião de Gremaud, uma das causas da inflação.

Estratégias do novo governo – Para resolver os problemas econômicos o novo governo vem adotando em curto prazo, as seguintes estratégias: atacar de maneira pesada o processo inflacionário; busca sistemática do ajuste fiscal, recuperando assim a confiança do mercado externo, obtendo assim o financiamento internacional da dívida pública. O professor descartou a possibilidade de ampliar a receita dos atuais 34 a 35% do PIB para 40%. Considerou a reforma fiscal do governo Lula tímida, mas é o que pode ser feito dentro do atual quadro econômico. A reforma “deve sair aos poucos; não é reforma para reduzir a receita”, mas terá como um dos principais benefícios a redução da guerra fiscal entre os estados, que acaba prejudicando a arrecadação e, em conseqüência, a sociedade que paga os tributos.

Eficiência nos gastos sociais – O professor considera que há um exagero na execução das políticas sociais executadas pelo governo em função de sua sobreposição através dos vários ministérios (uma pessoa pode ser beneficiada várias vezes por um programa), do desperdício de recursos até chegar aos que devem ser beneficiados, e da dificuldade de se “encontrar” os verdadeiramente pobres. Defendeu a racionalização das políticas assistenciais, “buscando eficiência nos gastos”. Mostrou que há uma tendência da distribuição de recursos para programas assistenciais por diversos ministério, onde se misturam objetivos sociais com políticos, e que isso acaba prejudicando a eficiência dos programas sociais. Gremaud disse que já há uma determinação do governo em cortar gastos, mas é preciso escolher melhor que gastos cortar.

Cenários interno e externo – Uma das metas do atual governo é reduzir a dívida interna, hoje próxima de 60% do PIB, para um patamar mais confortável, melhorando inclusive a qualidade dessa dívida pela redução das taxas de juros. No entanto, a redução de um patamar em torno de 10% não será alcançada rapidamente, podendo demorar cinco a seis anos. No ambiente externo já havia uma tendência de recessão em função do clima de insegurança produzido pelos atentados terrorista e guerras, o que não vai acabar com o fim da guerra contra o Iraque. A retração dos investimentos é uma reação ao ambiente de incerteza. Essa situação só vai melhorar quando se encontrar uma solução aos problemas internacionais ligados ao terrorismo.

Dúvidas no setor produtivo – Respondendo a uma pergunta formulada pelo presidente da Ocepar, João Paulo Koslovski, sobre as conseqüências negativas, ao setor produtivo, da política de juros altos, do aumento da tributação pela reforma fiscal e da recessão internacional, o professor Amaury Patrick Gremaud reconheceu que o cenário não é positivo. Mas reconheceu que o Brasil tem se posicionado bem no cenário externo e que isso poderá trazer alguma vantagem nas negociações internacionais, embora o protecionismo não acabe. Disse também que, internamente, ninguém quer a manutenção do cenário econômico atual, com taxas de juros elevada e uma política assistencialista que, em alguns casos, remunera mais que o salário. “Tem que aplacar a fome e ensinar a produzir”, asseverou o conferencista.

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